Com a morte da realizadora francesa Agnès Varda, na quinta-feira aos 90 anos, desapareceu também "uma forma de fazer cinema e um entendimento do cinema de que ela foi pioneira", afirmou à Lusa o investigador António Preto.
"É representativa dessa nova maneira de olhar para a possibilidade de filmar e para o mundo através da câmara. Era uma realizadora profundamente curiosa, profundamente inquieta e profundamente generosa. Os filmes traduzem todas as dimensões da sua pessoa, que se confunde com a obra", disse o diretor da Casa do Cinema Manoel de Oliveira.
António Preto, que escreveu em 2016 o discurso laudatório da atribuição do doutoramento 'honoris causa' a Agnès Varda pela Universidade Lusófona do Porto, sublinhou que a morte da cineasta é "uma perda enorme para o cinema europeu e para o cinema de autor".
"Nunca se isentou, nunca separou os diferentes discursos que foi produzindo sobre o mundo contemporâneo", afirmou.
No mundo do cinema multiplicam-se as declarações de pesar e admiração pela obra de Agnès Varda.
"É uma grande dama do cinema e uma enorme dama que nos está a deixar. Durante 90 anos, ela acompanhou a história do cinema. Sempre estava muito à frente de todos. Foi a primeira para fazer filmes que influenciaram a Nouvelle Vague", reagiu à AFP o realizador Claude Lelouch.
"Varda partiu, mas Agnes sempre estará presente. Inteligente, alegre, doce, espirituosa, engraçada, surpreendente como a sua obra. Seus filmes são nosso tesouro", escreveu no Twitter o ex-presidente do Festival de Cinema de Cannes, Gilles Jacob.
O festival de Cinema de Cannes, que lhe atribuiu o prémio de carreira em 2015, fala numa "tristeza imensa" pela perda de uma figura que se apropriou do cinema com "infinita inventividade". "O lugar que ela ocupou é insubstituível", lê-se na rede social Twitter.
"Generosa, alegre, profundamente humana, Agnès Varda iluminou as nossas vidas através dos seus filmes de uma inventividade louca", reagiu o presidente do Centro Nacional do Cinema (CNC) Frédérique Bredin, acrescentando que "trouxe através das suas obras, os seus combates pelos direitos das mulheres".
A revista Cahiers du Cinema - que lhe dedicou um número especial em 2018 por ocasião dos 90 anos -, a Cinemateca Francesa, que recuperou uma lição de cinema de Varda em janeiro passado, o festival DocLisboa, que programou filmes de Varda, também recorreram às redes sociais para lamentar a morte da cineasta.
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