
Metallica, Depeche Mode e Nick Cave são alguns dos artistas norte-americanos, europeus e australianos que deixaram de atuar na Rússia desde o início da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022. Outros, como os The Killers e os britânicos Gorillaz, cancelaram concertos que já tinham marcados no país. Em maio de 2022, os Green Day também anularam a data prevista para Moscovo, invocando os “acontecimentos recentes”.
Face aos cancelamentos, os grupos de tributo tornaram-se cada vez mais populares no país. "Embora seja impossível reproduzir o espírito das bandas originais e dos seus espectáculos, é incrível e transmite muitas emoções”, confessa Philippe, um estudante de 18 anos, durante um concerto dos Dark Secret Love, banda de tributo a Metallica, Slayer, Megadeth e Pantera.
“As lendas do metal já não vêm cá e não sabemos quando voltarão. Somos obrigados a substituí-las. Fazemos o melhor que podemos”, afirma Vladimir Kiziakovski, de 48 anos, vocalista e guitarrista da banda, activa desde 2002.
Nikolai, também de 18 anos, assistiu ao concerto ao ar livre apesar da chuva. Duvida que as suas bandas favoritas regressem algum dia à Rússia. “Seria um milagre”, diz, com tristeza.
Contactados pela AFP, os representantes dos Metallica e dos Depeche Mode não responderam à questão.
"Como no teatro"

Para encarnar os artistas que admira, Vladimir tenta “sentir-se na pele deles”: “É como se já não fosses tu. Um pouco como no teatro”.
“Quando ouço os Dark Secret Love, fecho os olhos e imagino-me num concerto dos Metallica”, conta Denis, de 41 anos.
A banda norte-americana de metal atuou pela última vez na Rússia em 2019 e manifestou apoio a Kiev no conflito, nomeadamente através da entrega de ajuda financeira a refugiados ucranianos.
“A música e a política são coisas diferentes. Estamos em guerra com a Ucrânia, mas veja quantos fãs de metal estão nestes concertos e se divertem”, destaca Denis.
Num bar de Moscovo, o grupo russo Depeche Boat presta homenagem aos Depeche Mode perante cerca de 50 fãs. Jovens dançam e cantam em uníssono uma das canções mais conhecidas da banda: “Enjoy the Silence”.
“É óptimo que o vocalista não se limite a cantar, mas também imite os gestos” de Dave Gahan, o vocalista da banda britânica, exclama Daria Grebenkina, estudante de teatro de 22 anos.
Diz sentir-se “próxima” da atmosfera de um concerto verdadeiro dos Depeche Mode, que se apresentaram pela última vez em Moscovo há seis anos.
“Quando [os fãs] dizem que sentiram que voltaram a assistir a um concerto [dos Depeche Mode] e me dizem: ‘Tu és o nosso Dave Gahan’, é fantástico!”, confessa Evgueni Ksenofontov, vocalista dos Depeche Boat.
“Antes, tocávamos apenas em pequenos bares. Agora participamos em festivais, actuamos perante centenas de pessoas, por vezes com orquestra”, afirma o cantor, de 39 anos, que se juntou à banda — criada em 2016 — há quatro anos.
Mas os espectáculos não rendem muito dinheiro. “Não se trata de uma questão financeira”, garante o vocalista, que ganha a vida como coreógrafo e encenador.
“É, acima de tudo, uma troca de energia” com o público, conta. “Quando vês os olhos de todas aquelas pessoas livres e felizes, percebes que voltaram aos anos 90. É como uma máquina do tempo”, descreve.
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