O tempo passa, não há como negá-lo. Ainda assim, é este tempo que traz uma presença descontraída, uma desenvoltura apurada e uma singular postura, que cativa a plateia desde o primeiro acorde. Assim foi o concerto dos GNR, na Casa da Música, no Porto, esta quinta-feira, dia 28 de dezembro.
Estar na música pela música pode parecer óbvio, e até simples, mas quantos não se perdem em artifícios, cenários, palavras e deixam, para segundo plano, o prazer das canções ao vivo e dos temas entoados a uma só voz. É, talvez esse, o segredo dos GNR: dar espaço à música. Numa sala completamente esgotada, a música “falou” mais alto.
Rui Reininho é o senhor do palco. Faz valer a sua presença pela certeza dos sucessos que vai desfiando, numa entrega peculiar, de quem trata o espetáculo por tu. Numa aparente displicência, que mais não é do que uma vida passada em cima do palco, há uma autenticidade e uma paixão, aprimoradas pelo tempo, a que o público não fica indiferente.
“A Valsa dos Detectives” é a introdução escolhida para a entrada da banda. No alinhamento “Espelho Meu”, “Video Maria” e “Cadeira Elétrica”, com um cenário que presenteia o público com os videoclipes dos temas, permeados com imagens ao vivo da atuação, numa viagem entre o passado e o presente, que marca todo o concerto. Seguem-se os temas “Mais Vale Nunca”, “Tirana” e “Sub-16”. Por esta altura, já parte do público tinha trocado o conforto das cadeiras pelo prazer da dança, impelido pela música, no seu estado mais puro.
Em quase duas horas de concerto haveria de ouvir-se os temas que marcam o extenso repertório da banda, como “Pronúncia do Norte”, “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno”, “Bellevue”, “Morte ao Sol” e “Las Vagas”. Antes disso, o novo single “Eu Não Sou Assim”, tema resgatado no tempo, com novos arranjos, com a recriação do vídeo em palco, com a presença do contorcionista Saulo Roque, o Snake Man, a aportar espetacularidade ao momento.
Os GNR seguem, com a segurança de sempre e o humor de Rui Reininho a pontuar cada atuação, na expressividade e genuinidade que lhe são características. “Efectivamente” marca o fim do espetáculo e a saída de cena. No encore “Cais” e “Sangue Oculto” são os temas que se fazem ouvir, com uma plateia de pé, entregue ao poder da música e das canções que marcaram - e marcam - gerações.
As despedidas não desagruparam o público, numa ovação crescente, à espera do melhor, reservado para o final brilhante, ao som de “Ana Lee” e, finalmente, “Dunas”.
As palmas ainda ecoam na sala, por momentos ímpares, vividos ao melhor som, do melhor dos GNR. A banda volta a pisar o palco da Casa da Música esta noite, para o que se prevê, outro concerto fantástico, numa sala igualmente lotada.
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