A caminho dos
Óscares 2025
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Cconfirmando que a temporada dos prémios de Hollywood não consegue apresentar um favorito consensual antes dos Óscares, "Conclave" foi a grande surpresa ao cair do pano dos Screen Actors Guild Awards (SAG-AFTRA), os prémios do sindicato dos atores norte-americanos entregues no domingo à noite em Los Angeles (início da madrugada em Portugal).
Lançando uma incerteza a uma semana dos Óscares, o thriller sobre a escolha de um novo Papa, um dos acontecimentos mais sigilosos e antigos do mundo, venceu o prémio de Melhor Elenco, o mais próximo de Melhor Filme, onde estavam nomeados "Anora", “A Complete Unknown”, "Emília Pérez" e "Wicked" (que liderava a corrida aos prémios com cinco nomeações e nada recebeu).
Embora só tenha 'acertado' seis vezes nos últimos dez anos, este prémio antecipou as recentes vitórias no Óscar de Melhor Filme para títulos como "Parasitas", "CODA", "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" e "Oppenheimer".
O palmarés do SAG não influencia os Óscares: a votação terminou no dia 18. No entanto, a vitória de "Conclave", como aconteceu nos BAFTA (os prémios da Academia Britânica), relança a intriga na corrida às estatuetas douradas, ainda que "Anora" continue a ser o favorito graças aos prémios dos sindicatos dos produtores e realizadores, a que se juntou no sábado a consagração nos Independent Spirit Awards.
No entanto, sondagens informais dos membros votantes da Academia publicadas pela imprensa especializada mostram que “Conclave” tem muito apoio.
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Ao receber o único prémio conquistado pelo filme, o protagonista Ralph Fiennes disse que a vitória era uma celebração da 'comunidade' e 'da sua suprema importância no nosso trabalho e no mundo'.
Já no segmento de apresentação de imagens de "Conclave" na cerimónia, Isabella Rossellini desejara 'uma rápida recuperação' ao Papa Francisco, que está hospitalizado há 10 dias com problemas respiratórios e permanece em estado crítico.
A cerimónia dos SAG era a última paragem antes dos Óscares e foi bastante concorrida.
AS ESTRELAS NA PASSADEIRA VERMELHA
Uma incerteza entre as quatro categorias de interpretação?
Após terem deixado de fora das nomeações Guy Pearce e Felicity Jones, os SAG também concluíram a completa rejeição de "O Brutalista" com a derrota de Adrien Brody: noutra grande surpresa que também abre especulações sobre a corrida na categoria estar mais próxima do que se esperava, o favorito da temporada foi ultrapassado por Timothée Chalamet que se tornou o mais jovem vencedor de sempre do SAG de Melhor Ator com a interpretação de Bob Dylan em “A Complete Unknown”.
“Não estava nada à espera disto”, confessou o ator de 29 anos, que ficou visivelmente surpreendido quando o seu nome foi chamado.
“Sei que a coisa mais elegante a fazer seria minimizar o esforço que pus neste papel e quanto isto significa para mim. Mas a verdade é que foram cinco anos e meio da minha vida, dei tudo o que tinha para interpretar este artista incomparável, Bob Dylan, um verdadeiro herói norte-americano, e foi a honra da minha vida fazê-lo”, afirmou.
E acrescentou: “Não posso minimizar o significado deste prémio porque é o que significa mais para mim e sei que estamos numa indústria subjetiva, mas a verdade é que busco a grandeza. Sei que as pessoas não costumam falar assim, mas quero ser um dos grandes, sou inspirado pelos grandes. Sou inspirado pelos grandes aqui esta noite. Sou tão inspirado pelo Daniel Day-Lewis, Marlon Brando e Viola Davis como pelo Michael Jordan, Michael Phelps, e quero estar lá em cima. Portanto, estou profundamente grato. Isto não significa isso, mas é um pouco mais de combustível, mais munições para continuar."
VEJA O DISCURSO DE TIMOTHÉE CHALAMET.
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Os outros prémios de cinema foram mais previsíveis, com Demi Moore a regressar à posição de grande favorita ao Óscar de Melhor Atriz por "A Substância", vencendo Mikey Madison, para quem perdera recentemente nos BAFTA e nos Independent Spirit Awards.
O papel de uma atriz envelhecida que injeta um soro para recuperar temporariamente o seu corpo mais jovem - com consequências desastrosas - marcou um impressionante renascimento na carreira da grande estrela dos anos 1990.
Se Timothée Chalamet olhou principalmente para o futuro no seu discurso, a atriz de 62 anos lembrou como entrou para o sindicato dos atores em 1978, aos 15 anos, e como isso mudou a sua vida: “Deu-me significado, propósito e direção”.
“Vocês foram os meus maiores professores”, disse, perante os colegas de profissão. “Sou muito grata por ter podido continuar a tentar, por vezes conseguindo, por vezes falhando, mas sempre continuando”.
VEJA O DISCURSO DE DEMI MOORE.
Após ganhar também Globo de Ouro, Critics’ Choice e BAFTA pelo papel de uma advogada contratada para ajudar um chefe de cartel mexicano a fazer a transição de género, Zoë Saldaña continuou o seu domínio na categoria de Melhor Atriz Secundária por “Emília Pérez” nos SAG, sem sofrer o impacto do escândalo que envolve a protagonista do filme, a novamente ausente Karla Sofía Gascón.
“Tenho orgulho de fazer parte de um sindicato que me permite ser quem sou. Nunca fui questionada sobre de onde venho ou julgada pela forma como falo ou quais são os meus pronomes. Todos têm o direito de ser quem são. ‘Emília Pérez’ é sobre verdade e amor e nós, atores, realmente temos que contar histórias que façam refletir de forma provocadora e belas e que vivam dentro do espectro da liberdade artística.”, disse no seu discurso.
VEJA O DISCURSO DE ZOE SALDAÑA.
Kieran Culkin, que também venceu os mesmos prémios de referência para Melhor Ator Secundário pelo papel em "A Verdadeira Dor" de um turista emocional e carismático que regressa às suas raízes ancestrais na Polónia com o primo neurótico e incompatível (Jesse Eisenberg), juntou o SAG e começou por 'meter-se' com Adrien Brody, que fez alguns discursos longos ao longo da temporada quando ganhou com "O Brutalista".
“Obrigado por este prémio incrivelmente pesado. Acho que ninguém vai conseguir segurar isto durante 45 segundos... que é o tempo que nos dão, Adrien Brody!”, disse, antes de rir e esclarecer imediatamente que estava a brincar.
“Não há desculpa para meter essa. Adoro-te. Demora o tempo que quiseres", disse, enquanto a câmara eventualmente mostrava o visado na audiência a rir na desportiva.
Mas Kieran Culkin demorou mais de 45 segundos noutro dos seus discursos caóticos onde até agradeceu à irmã de Jesse Eisenberg, notando que o também realizador e argumentista do filme escolheu-o sem fazer testes ou conhecer o seu trabalho anterior.
E acrescentou: "O que ele acha que é normal, e nem posso ir pelo quão irritantemente errado que está. Mas ele escolheu-me porque a irmã lhe disse. E ele deposita muita fé nela, o que é muito querido, mas parvo. Portanto, sim, obrigado Jesse por me colocares neste filme. Mas quero aproveitar um momento para agradecer à Hallie: obrigado, Hallie, por pensares em mim e colocares o meu nome no ouvido do teu irmão estúpido.”
VEJA O DISCURSO DE KIERAN CULKIN.
Os SAG Awards são votados pelos atores de Hollywood, que representam o maior grupo dentro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que vota nos Óscares. Os prémios são, portanto, vistos de perto como indicadores de quem provavelmente ganhará as estatuetas douradas.
Cerca de 85% dos vencedores dos SAG receberam posteriormente a estatueta dourada: no ano passado, coincidiram em Melhor Ator (Cillian Murphy) e Ator Secundário (Robert Downey Jr.), e Atriz Secundária (Da'Vine Joy Randolph), só falhando Melhor Atriz (os SAG optaram por Lily Gladstone por "Assassinos da Lua das Flores" e a Academia preferiu Emma Stone por "Pobres Criaturas").
Jane Fonda apela a Hollywood para que lute com empatia
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Jane Fonda recebeu o prémio de carreira do sindicato e usou grande parte do seu longo discurso, onde se repetiram os problemas de som e microfone de outros momentos da cerimónia transmitida pela Netlix, para apelar a Hollywood para lutar contra o atual clima político nos EUA.
“Muitas pessoas vão sofrer com o que está a acontecer e o que vem por aí”, alertou, aludindo à administração de Donald Trump, sem mencionar o nome do presidente.
E acrescentou: “Acredito muito nos sindicatos. Isto é muito importante agora que o poder dos trabalhadores está a ser atacado e a comunidade está a ser enfraquecida”.
“Precisamos de usar a nossa empatia e não julgar”, continuou Fonda, apelando a unidade mesmo que haja diferenças de visão.
“Vamos precisar de uma tenda grande para resistir com sucesso ao que aí vem”, acrescentou.
A atriz comparou a situação atual com a intolerância e repressão política na década de 1950 nos EUA: "Fiz o meu primeiro filme em 1958. Foi no final do Macarthismo, quando tantas carreiras foram destruídas. Hoje é útil recordar que Hollywood resistiu. Resistimos".
Dirigindo-se à audiência de atores, perguntou: “Algum de vocês já viu um documentário de um dos grandes movimentos sociais, como oo Apartheid ou os nossos Direitos Civis ou Stonewall – e perguntaram-se se seriam suficientemente corajosos para atravessar a ponte? Se teriam sido capazes de aguentar as mangueiras, os bastões e os cães? Já não precisamos mais perguntar-nos porque estamos no nosso momento do documentário. É isto e não é um ensaio!"
E acrescentou: “E não devemos, nem por um momento, enganar-nos sobre o que está a acontecer. Isto é muito sério, meus caros. Portanto, sejamos corajosos. [...] Não devemos isolar-nos. Devemos permanecer em comunidade. Devemos ajudar os mais vulneráveis. Devemos encontrar formas de projetar uma visão inspiradora do futuro.”
Os seus comentários, recebidos com aplausos de pé pelo público, foram feitos num momento em que os estúdios de Hollywood têm sido criticados por seguirem as políticas da Casa Branca, como a do encerramento de programas de contratação por diversidade.
VEJA O DISCURSO DE JANE FONDA.
E tudo "Shōgun" levou
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No lado televisivo, "Shōgun" tinha cinco nomeações e ganhou quatro prémios, o máximo possível, já que tinha dois nomeados na mesma categoria de Melhor Ator, onde Hiroyuki Sanada levou a melhor ao colega Tadanobu Asano.
O drama de época japonês foi ainda distinguido como o Melhor Elenco Série em Drama, Melhor Atriz Drama para Anna Sawai e Melhor Equipa de Duplos.
Nas comédias, o ausente Martin Short (com covid) surpreendeu com o prémio de Melhor Ator por "Homicídios ao Domicílio", que também ganhou inesperadamente Melhor Elenco após ser frequentemente nomeada mas raramente vencedora em vários prémios de Hollywood.
A atriz Selena Gomez apontou isso mesmo ao mostrar-se chocada com a vitória.
“Nunca ganhamos, isto é muito estranho”, disse a atriz, prometendo levar a estatueta para a rodagem da quinta temporada em Nova Iorque.
Essas vitórias foram à custa por exemplo de "The Bear" (três nomeações, ficou sem nada) e "Hacks", que só valeu à também ausente Jean Smart o seu terceiro prémio de Melhor Atriz pela série.
Nas minisséries ou telefilmes, Colin Farrell recebeu o prémio de Melhor Ator por "The Penguin" das mãos de Jamie Lee Curtis, que abriu o envelope e disse 'E o prémio vai para... o homem que me pegou covid nos Globos de Ouro: Colin Farrell.”
“Culpado da acusação", respondeu o visado quando chegou ao pé do microfone, desculpando-se. "Mas foi o Brendan Gleeson que me pegou. Portanto, só estava a espalhar o amor."
VEJA O DISCURSO DE COLIN FARRELL.
Já a Melhor Atriz nas minisséries ou telefilmes foi outro prémio para Jessica Gunning por "Baby Reindeer".
LISTA COMPLETA DE VENCEDORES
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CINEMA
Melhor Elenco: "Conclave"
Melhor Ator: Timothée Chalamet, “A Complete Unknown”
Melhor Atriz: Demi Moore, "A Substância"
Melhor Ator Secundário: Kieran Culkin, "A Verdadeira Dor"
Melhor Atriz Secundária: Zoë Saldaña, “Emília Pérez”
Melhor Equipa de Duplos: "Profissão: Perigo"
TELEVISÃO
Melhor Elenco em Série de Drama: "Shōgun"
Melhor Ator em Série de Drama: Hiroyuki Sanada, "Shōgun"
Melhor Atriz em Série de Drama: Anna Sawai, "Shōgun"
Melhor Elenco em Série de Comédia: "Homicídios ao Domicílio"
Melhor Ator em Série de Comédia: Martin Short , "Homicídios ao Domicílio"
Melhor Atriz em Série de Comédia: Jean Smart, "Hacks"
Melhor Ator em Minissérie ou Telefilme: Colin Farrell, "The Penguin"
Melhor Atriz em Minissérie ou Telefilme: Jessica Gunning, "Baby Reindeer"
Melhor Equipa de Duplos em Televisão: "Shōgun"
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