"Sim, adoramos o Apu. Temos orgulho do Apu", assinala o criador de "Os Simpsons", Matt Groening, quando questionado sobre se a personagem de origem indiana iria manter-se na série apesar das acusações de racismo.

A declaração, que respondeu à questão de um fã na convenção D23, decorrida no passado fim de semana nos arredores de Los Angeles, reforça as declarações feitas ao jornal USA Today no ano passado. "Acho que estamos a viver um tempo na nossa cultura em que as pessoas adoram fingir que estão ofendidas", afirmou Groening na altura.

O produtor executivo Al Jean também já tinha sugerido que Apu deveria continuar na série, numa entrevista ao site Indiewire, também em 2018. "Não queremos ofender as pessoas mas também queremos ser divertidos. Não queremos ser completamente politicamente corretos. Nunca o fomos", explicou.

Apu Nahasapeemapetilon, dono de um supermercado ao qual o ator caucasiano Hank Azaria empresta a voz desde o início da série, tem estado no centro de uma polémica nos últimos anos.

O ator e comediante de origem indiana Hari Kondabolu fez um documentário, estreado em novembro de 2017, com o título "The problem with Apu" ("O problema com Apu"), no qual denuncia os estereótipos associados à personagem, começando pelo seu sotaque carregado.

O criador de "Os Simpsons", Matt Groening, e Azaria recusaram aparecer no filme para responder a perguntas sobre o tema.

Após a estreia, Azaria opinou publicamente que esta "levantou pontos muito interessantes", mas a produção da série não reagiu até 8 de abril de 2018, no episódio 633. Nele, Marge tenta apagar de um livro infantil que comprou todos os elementos que podem ferir a sensibilidade de alguém. Depois, lê a versão censurada da história à sua filha Lisa, que a acha aborrecida.

"O que posso eu fazer?", pergunta Marge. "É difícil dizer", responde Lisa, olhando para os espectadores. "Uma coisa que começou há décadas e era aplaudida e inofensiva agora é politicamente incorreta. O que se pode fazer?", diz Lisa, voltando-se para um retrato de Apu, para o qual pisca o olho.

"Algumas coisas serão resolvidas mais para frente", diz Marge. "Ou talvez não", conclui Lisa.

Esta alusão, mal recebida por muitos observadores, aumentou a polémica, até ao ponto em que Azaria propôs deixar de dar voz a Apu.