A cerca de 30 quilómetros de Berlim, em Potsdam, está localizado o Studio Babelsberg, os mais antigos estúdios de grande escala do mundo. Criados em 1912, nos pavilhões com 25 mil metros quadrados já foram contadas centenas de histórias - "Grand Budapest Hotel", "Os Jogos da Fome", "Capitão América: Guerra Civil" e "Ilha dos Cães" foram alguns dos últimos filmes gravados no estúdio.

Mas, nos últimos meses, os estúdios estiveram reservados quase exclusivamente para "Dark", série da Netflix, que regressa esta sexta-feira, dia 21 de junho, para a segunda temporada. A produção criada por Baran Bo Odar e Jantje Fries conquistou, em 2017, milhares de fãs em todo o mundo, que esperaram cerca de dois anos para ver os novos episódios.

Veja o trailer da primeira temporada de "Dark":

"Dark" é descrita com uma das séries mais complexas do serviço de streaming - para ajudar, a Netflix criou uma página especial com o resumo da série. Ao longo de dez episódios, os espectadores são empurrados para uma narrativa que decorre em várias linhas temporais, que convergem em diversos momentos e onde são reveladas várias versões das diferentes das personagens.

O desaparecimento do jovem Mikkel Nielsen (Daan Lennard) Liebrenz na vila de Winden, na Alemanha, é um dos principais mistérios da primeira temporada - a criança é filha do polícia Ulrich Nielsen (Oliver Masucci), que já tinha sofrido com o desaparecimento do seu irmão mais novo, Madds, 33 anos antes.

Sem grandes explicações, Mikkel vai parar a 1986 depois de entrar numa gruta perdida no meio de uma floresta.

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Jornal oferecido pela Netflix durante a visita do SAPO Mag às gravações da série

O jovem Mikkel é só uma das crianças que desaparece na pequena cidade - Erik Obendorf (Paul Radom), Yasin Friese (Vico Mücke) e Mads Nielsen (Valentin Oppermann), há 33 anos, também viajaram para o passado.

Passado, presente e futuro: tudo ao mesmo tempo

A primeira temporada decorre em vários anos em simultâneo - a primeira parte da série decorreu em 1953, 1986 e 2019 - e acompanhou um grupo personagens que se apercebe que cada decisão influencia irremediavelmente o presente, o passado e o futuro. Esta será também a premissa dos novos episódios de "Dark", a primeira série original alemã produzida pela Netflix.

As viagens pelo tempo são filmadas, na sua grande maioria, nos estúdios Babelsberg. Entre as estradas e os passeios que ligam os vários pavilhões, não há sinais dos avanços e recuos do tempo. Mas tudo muda quando as portas dos estúdios se abrem - antes da estreia do novo capítulo, o SAPO Mag visitou os bastidores da série e entrevistou o elenco.

A produção da série e a Netflix abriram as portas dos estúdios a um pequeno grupo de jornalistas de todo o mundo no 55º dia de gravações. É apenas a reta inicial das gravações da segunda temporada de "Dark". O secretismo é total e os avisos sobre a confidencialidade das informações vão sendo repetidos a cada porta que se abre - e, claro, os telemóveis, não podem sair do bolso.

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A visita começa pelos escritórios onde tudo é definido. Numa das salas de reunião, todas as paredes estão forradas com centenas de fotografias - há imagens de cenários da série, fotografias de paisagens, frames de filmes e de outras séries e ilustrações. Todas as fotos serviram de inspiração para a criação dos cenários e inspiraram a desenvolver a caracterização das personagens, explica Udo Kramer, responsável pelo design da série, ao SAPO Mag.

E é entre as centenas de fotos que descobrimos uma das novidades da nova temporada - a primeira parte da série decorreu em três anos diferentes (1953, 1986 e 2019). Já nos novos episódios as viagens ao passado vão começar em 1921 e continuam por 1954 e 1987, seguindo-se 2020 e 2053. O ciclo continua a repetir-se de 33 em 33 anos, mas agora em cinco períodos diferentes.

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Fotos do realizador Baran bo Odar

Desenvolver uma série que decorre entre o passado, presente e futuro é um desafio, confessa Udo Kramer. Para que tudo esteja sincronizado, são criadas cronologias detalhadas - nada pode ser deixado ao acaso, todas as linhas temporais têm de ser coerentes e manter as ligações.

Numa pequena televisão instalada na sala de reuniões, o responsável pelo design da série mostra como é que cada cenário exterior é modificado, de acordo com o ano em que decorre a narrativa. "Nesta rua há semáforos, mas em 1954 não existiam. Temos de os tirar. E, digitalmente, acrescentamos a central nuclear", conta.

Veja o trailer da segunda temporada de "Dark":

"As fachadas das casas são de casais reais. Às vezes, vemos uma casa que gostávamos de ter na série... mas nem sempre é possível. Temos de falar com os proprietários e muitos não aceitam - implica filmagens, depois há sempre fãs curiosos que vão para a porta das casas tirar fotos", explica Udo Kramer.

Mas o interior das casas onde vivem os protagonistas são o maior desafio: cada sala, cada quarto ou cada cozinha tem várias versões, de acordo com as várias épocas. Os corredores dos estúdios parecem quase uma loja de decoração ou de antiguidades - há centenas de objetos de várias épocas, todos identificados, que vão sendo trocados ao longo das gravações da série. E a equipa esforça-se em todos os pormenores, mesmo que depois não sejam visáveis no pequeno ecrã - por exemplo, na sala de estar de Jana Nielsen e Tronte Nielsen, as revistas que estão em cima da mesa datam de 1987.

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Na visita pelos vários cenários, Udo Kramer explica ainda que a produção decidiu não usar imagens alteradas digitalmente nas paisagens que se podem ver através das janelas das casas dos protagonistas. "Decidimos usar fotografias gigantes das paisagens - são paisagens reais. Não usamos fundo verde para criar mais realismo", conta.

O responsável pelo design de "Dark" chama ainda a atenção para um detalhe da série: em todas as salas de jantar, há uma arco que divide as divisões. "Quando filmámos, filmámos sempre os arcos e a mesa de jantar no meio. Cria a sensação que há uma moldura e que é uma foto de família. Têm de estar a atentos a isto na nova temporada", explica.

Tal como na primeira temporada, nos novos episódios o hospital terá um papel principal. "Na primeira temporada, gravámos num hospital real, que estava abandonado", conta, acrescentando que as instalações foram convertidas num centro de acolhimento para refugiados.

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Além das casas dos protagonistas, do hospital, da escola, o cenário principal de toda a série é um misteriosa gruta. No dia da visita ao estúdios, Louis Hofmann, que veste a pele de Jonas Kahnawald, Lisa Vicari (Martha Nielsen), Paul Lux (Bartosz Tiedemann), Moritz Jahn (Magnus Nielsen) e Carolotta von Falkenhayn (Elisabeth Doppler) gravam uma das cenas da nova temporada na gruta, que foi criada num dos maiores pavilhões dos estúdios.

Em estúdio, a gruta foi recriada em tamanho real. No seu interior há terra, pedras e pequenos buracos por entram alguns raios de luz - nem parece que estamos dentro de uma “gruta falsa”, tal foi a atenção dada a todos os detalhes.

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Uma montanha-russa complexa

"Continuo surpreendido com a complexidade da série. É fascinante como os criadores vão juntando todas as peças, especialmente agora na segunda temporada. A história cresce ainda mais”, frisa Mark Waschke, que veste pele de Noah, em conversa com o SAPO Mag.

A opinião do ator alemão é partilhada por todos os colegas. "Há muitas perguntas por responder sobre o futuro depois do que vimos na primeira temporada da série”, acrescenta Lisa Vicari, atriz que interpreta Martha Nielsen em "Dark".

"Acho que é uma história sobre famílias normais. Não temos super-heróis, nem nada. É uma pequena cidade da Alemanha, igual a tantas outras de todo o mundo. É uma pequena cidade com pessoas normais… que ficam envolvidas nesta estrutura e neste ciclo de mistério", defende Paul Lux, que veste a pele de Bartosz Tiedemann.

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A complexidade da série parece ter conquistado fãs um pouco por todo o mundo. "Não esperávamos tanto sucesso. Ficámos surpreendidos. Claro que ficámos felizes com o resultado final da primeira temporada, mas não pensámos no sucesso que veio a ter”, confessa Jantje Friese criadora e produtora da série.

“Depois do sucesso, acho que agora sentimos um pouco mais de pressão nos ombros… para fazermos ainda melhor, para que seja ainda melhor para o público. Acho que o sucesso também aumentou a nossa ambição”, frisa Lois Hofmann, ator que veste a pele de Jonas Kahnwald, o protagonista da série.

Baran bo Odar, criador e realizador da série, também sentiu mais pressão durante a preparação da segunda temporada de "Dark". "É como se tivesses feito o primeiro álbum e não sabíamos se alguém ia gostar ou não e, por isso, estavas a lixar-te para agradar aos outros. Mas, agora fazer a segunda temporada é realmente complicado. Tivemos uma espécie de bloqueio depois do sucesso da primeira temporada”, conta ao SAPO Mag.

"Uma história onde é possível mudar o passado"

"Entendemos porque é que muita gente usa o adjetivo 'angustiante' para definir a atmosfera de Winden" diz Jantje Friese. "Éramos crianças quando aconteceu o acidente em Chernobyl e o medo pairava no ar. Havia algo errado aqui na Alemanha, que era um país que ainda estava dividido. Carregávamos a culpa e a vergonha da Segunda Guerra. São sentimentos que nos pertencem e expressam-se artisticamente em 'Dark'", acrescenta.

Para Baran bo Odar, "o relógio começa a contar no dia em que nascemos". "Depois, morremos. O tempo é importante para todos, especialmente para nós, alemães. Somos um povo melancólico devido às coisas que aconteceram no passado. Existem arrependimentos (...) e, então, criamos uma história onde é possível mudar o passado", explica.

O futuro com viagens ao passado

"O apocalipse tem de acontecer", frisa a Netflix na sinopse do primeiro teaser da segunda temporada de “Dark”, que estreia esta sexta-feira, dia 21 de junho. A abertura do primeiro episódio também deixa no ar mais questões. "O início e o fim. Uma ideia curiosa de que ambos deviam ser o mesmo. 'Sic Mundus creatus est. E assim o mundo foi criado", dizem as personagens no arranque da nova temporada.

"E se olhares muito tempo para um abismo, ele também olha para dentro de ti", Friedrich Nietzsche

A segunda temporada da série com argumento de Jantje Friese promete revelar novas pistas sobre o desaparecimento de Mikkel. Mas as novas revelações podem trazer ainda mais caos à pacata cidade alemã: "Jonas está preso no futuro e tenta desesperadamente regressar a 2020. Entretanto, os seus amigos Martha, Magnus e Franziska tentam descobrir qual o envolvimento de Bartosz nos misteriosos incidentes que ocorrem na sua pequena cidade natal, Winden. Cada vez mais pessoas são são atraídas para os eventos orquestrados por uma figura obscura que aparentemente controla tudo o que está ligado em diferentes áreas temporais”.

"Quando foi renovada já tínhamos uma história para a segunda temporada? É difícil de responder porque, quando começamos, tínhamos obviamente uma ideia para o final. E uma série de linhas narrativas”, conta Jantje Friese. "Tens de tentar surpreender as pessoas e tens de te surpreender a ti. Por isso, tens de ser flexível no momento de criação. Estão, acho que 50% da temporada é com coisas que já tínhamos em mente e 50% com ideias novas, surpresas e novas aventuras”, acrescenta.

"Os fãs têm muitas expectativas em relação a todas as histórias que já têm na cabeça. Algumas das teorias dos fãs pareceram-nos interessantes", completa Baran bo Odar.

Para o protagonista da história, Louis Hofmann, há muitas perguntas por responder sobre Jonas: "Há muitas perguntas sobre o que vai acontecer à minha personagem, há grandes dúvidas sobre o futuro depois do que vimos no final da primeira temporada".

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"Há várias teorias na internet sobre o que aconteceu e sobre o que vai acontecer. Já li algumas”, acrescenta ainda Moritz Jahn, ator que dá corpo a Magnus Nielsen.

As perguntas sobre o acontecimentos na pequena cidade de Winden são muitas, mas as respostas já chegaram à Netflix: a segunda temporada de “Dark” estreou esta sexta-feira, dia 21 de junho. O serviço de streaming já confirmou que a série alemã terá mais uma temporada, que será a última.

*O SAPO Mag viajou até Berlim a convite da Netflix.

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