Partindo do livro homónimo do italiano Guido Maria Brera e contando com um elenco internacional, "Devils" é uma coprodução entre a francesa OCS e a italiana Sky Atlantic e a mais recente aposta da HBO Portugal. Depois de terem estreado desde abril em Itália, os dez episódios chegam esta quarta-feira ao serviço de streaming numa altura em que a série já foi renovada para uma segunda temporada.

"Thriller financeiro com um olhar diferente sobre a economia global", assim a descreve Patrick Dempsey em entrevista telefónica ao SAPO Mag, "mostra como estamos todos ligados hoje em dia e como dependemos todos muito uns dos outros". O ator norte-americano, que nos últimos anos não tem sido muito visto nos ecrãs (o papel mais recente foi como protagonista de "A Verdade sobre o Caso Harry Quebert", minissérie de 2018), afasta-se aqui consideravelmente da imagem de eterno galã cimentada por Dr. Derek "McDreamy" Shepherd, na série "Anatomia de Grey", ao encarnar uma figura mais esquiva do mundo da alta finança.

O CEO Dominic Morgan, a sua personagem, está no centro da tensão que começa a ser desenhada com uma morte no final do primeiro episódio, a sugerir um ambiente conspiratório nos bastidores de um grande banco de investimento. "É uma ótima personagem. Foi grande parte do apelo [da série], poder interpretar uma personagem tão diferente. Sobretudo porque não sabia como seria o final quando começámos a filmar, porque não cheguei a ler o livro", conta. "Para mim é interessante descobrir porque é que as pessoas fazem certas escolhas. E foi muito interessante perceber o que é que motiva o Dominic, porque é que ele faz o que faz", sublinha.

Devils
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Diretamente afetado pelas ações de Dominic, Massimo Ruggero é o mais óbvio candidato a seu braço direito oficial e o protagonista desta trama ambientada em Londres, em 2011, na qual qualquer semelhança com a crise económica global (e sobretudo alguns episódios conturbados na Grécia) não será pura coincidência. "É uma história intrincada, entusiasmante e emocional", assinala ao SAPO Mag Alessandro Borghi, ator italiano com um percurso em crescendo através de filmes como "Suburra" ou "Na Minha Pele" e vários papéis em séries.

"Não só entretém como é uma fonte de conhecimento, ao permitir mergulhar num mundo [o financeiro] sobre o qual muitos de nós não sabemos muito", acrescenta. Mérito de Guido Maria Brera, refere, que além de autor do livro que deu mote à série foi um dos criadores da adaptação ao lado dos conterrâneos Alessandro Sermoneta, Mario Ruggeri, Elena Bucaccio, Daniele Cesarano, Barbara Petronio e Ezio Abbate . "Ele apresentou-me, com muita paixão e paciência, a um mundo difícil de perceber, mostrando-me todos os aspetos da minha personagem. Contou-me muitas histórias deste mundo que só uma pessoa com o conhecimento dele saberia".

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Um italiano em Londres e uma história para todos

Estranho numa terra estranha, Massimo Ruggero é um homem de origens humildes que sobe a pulso no mundo empresarial, mas que não deixa de encontrar resistência num sistema classista mesmo quando já está no topo - como "Devils" deixa expresso numa cena do primeiro episódio ao lado do seu principal rival, um britânico de famílias nobres e com mais anos de casa. Alessandro Borghi, por outro lado, realça que não teve falta de apoio nas filmagens. Além de Brera, menciona os realizadores, o britânico Nick Hurran ("Sherlock") e o italiano Jan Maria Michelini ("Os Médici: Senhores de Florença"), e ainda Patrick Dempsey. "Ele é a prova de que podes chegar a um ponto alto da carreira sem deixar de ser um ser humano incrível nem comprometer quem és", aponta.

Já Dempsey enaltece um "elenco muito representativo do nosso mundo" que inclui o dinamarquês Lars Mikkelsen, a espanhola Laia Costa, o escocês Chris Reilly, a polaca Kasia Smutniak, o inglês de ascendência indiana Paul Chowdhry, a alemã Pia Mechler ou a holandesa Sallie Harmsen. "O melhor foi trabalhar em Roma, conhecer de perto a história dos romanos. Isso foi empolgante para mim a um nível pessoal, para aprender e crescer", recorda. "E depois a direção artística, o estilo visual e a narrativa deixam-me muito orgulhoso".

Borghi também se mostra intrigado com as possibilidades narrativas de uma série que promete surpreender até mesmo quem leu o livro. Ou pelo menos foi assim no seu caso, garante. "Tem uma abordagem completamente diferente. O Guido foi parte dessa mudança desde o início e todos tentámos tornar 'Devils' mais facilmente percetível para o grande público, sem o tornar necessariamente mais fácil, combinando elementos verídicos com um argumento muito empolgante", explica.

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Através dessa combinação, a série poderá chegar a espectadores muito diferentes, salienta: "Estamos a viver uma fase de globalização e tanto o conteúdo como a qualidade das produções atingem níveis mais elevados todos os dias. Às vezes há mais dinheiro, mais tempo ou uma grande estrela, mas um grande argumento e uma grande equipa é que facilitam fazer parte dessa globalização e ter a oportunidade de mostrar a tua história na televisão ou no grande ecrã".

Partilha e liderança

Dempsey considera que o facto de "Devils" ser distribuída através de um serviço de streaming também é uma boa alavanca. "A televisão era muito diferente quando comecei, há algumas décadas. Mas o cinema também mudou, a Netflix mudou, a tecnologia está a evoluir e a nossa relação com ela também. Mas o conteúdo ainda é primordial, uma boa história ainda é uma boa história e as pessoas estão sempre desesperadas por uma boa história. Mas agora realizadores de todo o mundo têm uma plataforma que lhe permite partilhar a sua visão. E isso é ótimo. Todos os países têm uma oportunidade", destaca.

Apesar destas possibilidades de divulgação, 2020 travou o surgimento de muitos projetos do pequeno e do grande ecrã, uma das consequências da pandemia COVID-19. "Acho que temos de aceitar o que vier", confessa. "E temos de estar preparados para cenários muito diferentes, acho que foi isso que a pandemia nos ensinou. Precisamos de travar o vírus e para isso é essencial ter a liderança certa em todo o mundo. É crítico assegurar a estabilidade do ambiente, da economia... agora temos a oportunidade de recomeçar e de sairmos mais fortes a nível global. Mas temos de trabalhar juntos e colaborar, é esse o desafio", antecipa, embora tenha mais um papel confirmado e que poderá ser visto em breve. Dempsey será o protagonista da série "Ways and Means", thriller político da CBS. "Vai estrear depois das eleições. Espero que entretanto tenhamos um novo presidente, alguém que consiga realmente liderar um país", remata. Até lá, a disputa que se segue é a da liderança empresarial de "Devils".