O Cinemic teve oportunidade de ver a primeira temporada de "Altered Carbon", a nova série da Netflix (estreia esta sexta-feira, 2 de fevereiro).
Baseada na obra de Richard K.Morgan, é uma saga para fãs de cyberpunk, detetives "hardboiled" de Raymond Chandler e da imersão de "Neuromancer", de William Gibson. E claro, "Blade Runner" e os "twists" muito próprios de Philip K. Dick.
Numa sociedade onde a consciência pode ser digitalizada em "stacks", e os corpos são “sleeves”, descartáveis e passíveis de serem transferidos... a morte já não é permanente. Laurens Bancroft (James Purefoy) acorda Takeshi Kovacs (Joel Kinnaman) com um propósito: em troca de viver com o corpo de Elias Ryker como "sleeve"… tem de resolver o mistério da morte do próprio Bancroft.
Episódio a episódio, seguimos as várias camadas e crenças da sociedade de Bay City. Methusalems, ricos excêntricos que se clonam e vivem para sempre; Neo-C ou neocatólicos, ordenados pela Igreja a não obterem uma nova "sleeve", depois de morrerem.
A investigação de Takeshi Kovacs vai levá-lo ao mercado negro e à decadência, onde terá de lidar com os problemas que o seu novo corpo trazem, o mistério de Bancroft e ainda um estranho Ghostwalker, capaz de se fluir com a rede neural e apagar-se de toda a data.
Adaptado por Laeta Kalogridis, co-argumentista de "Avatar" e fã acérrima desta saga pós cyberpunk, "Altered Carbon" reúne visualmente a essência de "Blade Runner" e a teia religiosa e transcendental de "Ghost in the Shell", replicando os conceitos, mas derivando sobre entidade, rede neuronal e a corrupção que vem com o poder da imortalidade... mas com mais ação do que filosofia.
Algumas personagens nada ficam a dever à excentricidade do industrial, do cyberpunk e do "trash-chic", pois estão que nem uma "power-glove" num universo de neons e sinapses digitais. Outras pertencem ao "neo-noir" de fumo e gabardine. Habitam Bay City, a nossa memória retrofuturista do que deve ser uma cidade ciber tecnológica: um distrito comercial que podia ser Hong Kong nos anos 80, mas é São Francisco, barricado de contentores, grafittis, ecrãs e estimulação visual.
De narrativa repleta de "subplots" e constantes trocas de corpos, preparem-se para alguma confusão momentânea e descrédito pela representação mediana de alguns atores. Mas naquilo que lhes falta, compensam nas cenas de lutas viscerais e sangrentas, como "experts" de artes marciais, sempre óptimos alvos do cinismo de Kovacs.
Com algum desequilíbrio no ritmo da temporada e um episódio totalmente fora de tom (mais ao estilo do SyFy), é o bom "timing" de humor do "sidekick" Vernon Elliot (Ato Essandoh), a eloquência ambígua do oráculo Poe (Chris Cooner), a dureza da irascível, mas algo forçada, detetive Ortega (Martha Higareda) e a dengosa brutalidade de Bancroft, que nos encaminham lado a lado com Kovacs, para resolução do verdadeiro mistério de "Altered Carbon".
"Stack sci-fi" da Netflix... ainda não estreou e já tem a sua segunda "sleeve" encomendada para 2019.
"Altered Carbon": na Netflix a 2 de fevereiro.
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