Dario Argento, o mais reconhecido nome do “giallo” e, por extensão, do cinema de terror italiano, famoso por filmes como “Suspiria”, voltou-se para a BD e, na companhia do argumentista do seu filme “Dracula 2000”, Stefanto Piani, concebeu uma história ilustrada por Corrado Roi.

Dylan Dog é uma espécie de “detetive do sobrenatural” que enfrenta as mais bizarras situações. Romântico incurável, em “Trevas Profundas” ele tem a sua pacata existência em Londres virada do avesso quando decide seguir uma mulher apreciadora da “arte” sadomasoquista. Depois de ser convidado por ela a frequentar uma exposição do género, Dylan Dog torna-se obsessivo e, depois de lhe perder o rasto, mete-se numa grande variedade de problemas à sua procura.

Conforme salientam os editores de “Trevas Profundas”, as referências cinematográficas foram sempre um dos fatores de sucesso das histórias em torno da personagem criada em 1986 pelo italiano Tiziano Sclavi.

Nesta fase inicial, a publicação da Bonelli, icónica editora da península que há anos fazia chegar a todo o mundo a revista de faroeste "Tex", não foi muito bem-sucedida – algo que começaria a mudar no início dos anos 1990. No seu auge a tiragem chegou a 1 milhão de exemplares e, atualmente, gravita num respeitável número de 100 mil. Esse número supera o das revistas de super-heróis, por exemplo.

Dylan Dog
Dylan Dog

De acordo com Lameiras e Castello Branco, a relação com o cinema em geral e com o de terror em particular ajudou muito. O assistente de Dylan Dog, que vive com ele na Craven Road, óbvia referência ao realizador Wes Craven, é uma figura idiossincrática batizada de Groucho Marx – uma relação tão evidente com a figura da comédia “hollywoodiana” que implicou a substituição do seu nome nas edições norte-americanas da série.

Argento, por seu lado, teve direito à sua própria homenagem: no número 3 da série, “Suspiria” era referenciado através de um colégio feminino dirigido por bruxas, enquanto no 5.º o próprio realizador aparecia como figurante.

A ligação de Argento com a BD vem de longe: o cineasta foi anfitrião de uma série do início dos anos 1990 chamada “Dario Argento Apresenta”, para além de se basear numa história de banda desenhada para a sua contribuição (o episódio “Jenifer”) ao projeto televisivo “Masters of Horror”.

Outro dos fatores que facilitou que Dylan Dog ampliasse o seu público foi, ao contrário de Tex, a capacidade de atrair o público feminino – de onde vieram, posteriormente, várias argumentistas para as histórias. O romance é um factor decisivo nessa atração – afinal Dylan Dog apaixona-se perdidamente por mulheres misteriosas e problemáticas.

De destacar ainda o coletivo A Seita, responsável pela edição. Cooperativa formada por um número de figuras conhecidas do mercado português, já lançou obras como “O Suicídio de Aleister Crowley” e tem uma série de títulos previstos para lançamentos em breve – entre os quais “A Assembleia das Mulheres”, de Zé Nuno Fraga, e “Andrómeda”, de Zé Burnay, e "Lucky Comics", que inclui Lucky Luke.