O encenador Gil Salgueiro Nave regressa a este “clássico contemporâneo”, que tinha dirigido em 1979 na companhia da Covilhã, por se tratar de um texto que “não tem idade” e ser uma produção, a 116.ª do Teatro das Beiras, “inspirada no desconcerto do mundo”.
E se na primeira vez que trabalhou a peça, num cenário de beligerância entre povos, as referências eram a guerra colonial e a guerra do Vietname, e os “desgastes emocionais tremendos que provocaram nos jovens”, o encenador alertou hoje, durante a apresentação do espetáculo à comunicação social, para “a cegueira, a insensibilidade absolutamente inexplicável” de se pôr em perspetiva uma terceira guerra mundial.
“É o mesmo texto, mas tem uma abordagem diferente. Tivemos muito cuidado com a forma de olhar o presente”, sublinhou Gil Salgueiro Nave, no ano em que o Teatro das Beiras completa 50 anos.
Segundo o encenador, a peça tem várias dimensões e “há muitos caminhos para ler este espetáculo”.
Gil Salgueiro Nave frisou que a intenção é “promover o teatro como espaço de reflexão sobre a condição humana”.
“Como resistir a tanta violência injustificada, onde a palavra solidariedade parece que desapareceu e o ódio sobrevém?”, questionou o encenador, para quem o palco deve cumprir o papel de “defesa de uma postura ética e moral ajustada com o tempo”.
“A grande imprecação diante das muralhas da cidade” marca o regresso ao Teatro das Beiras da atriz Sónia Botelho, protagonista que desempenha o papel de Fan Chin-Ting, mulher do pescador Hsueh Li, que se dirige à grande muralha de um lugar longínquo e perdido na memória do tempo para reclamar o marido, recrutado contra a sua vontade para engrossar as fileiras dos exércitos do imperador.
A atriz considerou estar a dar vida a um “texto intemporal”, por ser “aquilo que vivemos desde sempre e que vivemos, infelizmente, atualmente”.
“Hoje há situações destas. Não esta mulher, não esta muralha, não esta situação, mas as muralhas políticas, as muralhas culturais. Retrata muito aquilo que é o desespero, aquilo que é a pobreza de um povo, aquilo que é a diferença de poderes que continua a existir e sempre existiu”, frisou Sónia Botelho.
Além de Sónia Botelho, a interpretação é de Paulo Monteiro, Bernardo Sarmento e do estreante Miguel Brás.
O espetáculo, para maiores de 12 anos, fica em cena no auditório do Teatro das Beiras de 29 de fevereiro a 2 de março, e nos dias 8 e 9 de março, às 21h30, com uma sessão às 16h00 no dia 10.
Os ingressos estão à venda na bilheteira da companhia do distrito de Castelo Branco, através do número 275336163, e na plataforma digital Ticketline.
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