Tornando-se conhecido como um comediante provocador antes de se transformar numa estrela de Hollywood e depois num guru 'anti-establishment', Russell Brand ainda tem milhões de fãs 'online', apesar de ter sido acusado de violação por uma investigação conjunta do canal Channel 4 e dos jornais The Sunday Times e The Times.
Brand, que nega as acusações feitas por pelo menos cinco mulheres, tem mais de seis milhões de subscritores no YouTube, 11,2 milhões no X (antigo Twitter), 3,8 milhões no Instagram e 1,4 milhões na plataforma Rumble, popular entre os teóricos da conspiração.
Durante muito tempo, foi mais conhecido pelos seus programas de comédia hipersexualizados e pelas aparições vale-tudo na TV e no rádio britânicos, o que o tornaram um nome familiar no início dos anos 2000.
Agora com 48 anos, gabou-se da sua promiscuidade durante a sua ascensão à fama, dizendo que teve relações sexuais com mais de mil mulheres, o que lhe valeu o prémio "Shagger of the year" ["fornicador do ano", em tradução literal] de um tablóide durante vários anos consecutivos.
Brand, filho de pais da classe trabalhadora em Essex, no leste de Londres, nascido em 1975, começou a sua carreira como comediante ainda na adolescência.
Foi contratado pela MTV aos 25 anos, mas foi despedido por aparecer para trabalhar vestido como Osama bin Laden no dia a seguir aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 e convidar o seu traficante de drogas para os estúdios.
Após abandonar as drogas e o álcool, teve o seu primeiro programa de rádio em 2002, antes de apresentar o "Russell Brand Show" na BBC Radio 6 e passar a seguir para a Radio 2.
Russell Brand demitiu-se em 2008 depois de, com o popular apresentador Jonathan Ross, telefonar em direto para Andrew Sachs, o veterano ator da comédia britânica, imortalizado pela série "Fawlty Towers ("A Grande Barraca" em Portugal), para contar os detalhes de como tinha dormido com a sua neta.
Durante vários anos, também apresentou um 'spin-off' do "Big Brother", escreveu colunas para o jornal de esquerda The Guardian e escreveu duas autobiografias nas quais detalhou a sua passagem por centros de reabilitação por causa da dependência de sexo e drogas.
Casamento com estrela pop
Embora o seu sentido de moda, a personalidade provocadora e o humor direto tenham horrorizado muitos, nunca lhe faltaram fãs, desenvolvendo um culto de seguidores desde os seus primeiros dias.
A sua energia carismática também atraiu a atenção de Hollywood, onde fez vários filmes, o mais famoso dos quais “Um Belo Par... de Patins”, de 2008.
A sua fama aumentou ainda mais quando se casou com a super estrela pop norte-americana Katy Perry em 2009, um relacionamento que ele terminou por mensagem de texto 14 meses depois.
Em entrevista à Vogue em 2013, Perry falou apaixonar-se por um “homem mágico”, que se tornou “muito controlador” quando ela provou ser igual a ele.
“Descobri a verdade, que não posso necessariamente revelar porque a mantenho trancada no meu cofre para um dia chuvoso”, acrescentou, numa frase que está a ser agora recuperada no contexto do atual escândalo.
Seguiu-se um relacionamento com Jemima Goldsmith, filha do multimilionário James Goldsmith, mas separaram-se após um ano.
Num momento que antecipou a sua posterior reinvenção como influencer político, Brand chegou às manchetes em 2015, quando entrevistou o então líder trabalhista Ed Milliband para o seu podcast no auge da campanha eleitoral.
Brand acabaria por casar com a 'blogger' Laura Gallacher há seis anos e o casal está à espera de um terceiro filho.
Desde que se casou, Brand tornou-se uma presença menos visível na televisão e na rádio britânicas, passando a levar uma vida sofisticada no interior da Inglaterra.
Diatribes 'anti-establishment'
No entanto, Brand juntou milhões de fãs após a sua transformação num guru de bem-estar online, dando conselhos sobre casamento, veganismo e meditação.
A maioria dos seus seguidores foi atraída pelas suas diatribes 'anti-establishment', nas quais ataca frequentemente os grandes meios de comunicação e a elite global.
Ele ganhou destaque durante a pandemia quando afirmou que as empresas farmacêuticas estavam a mentir sobre as vacinas para ganhar dinheiro e os governos e as instituições globais estavam a exagerar a ameaça da COVID-19 para promover mudanças sociais radicais.
O YouTube retirou um dos seus vídeos por apresentar desinformação sobre a pandemia em setembro e agora suspendeu a monetização do seu canal após as acusações.
A BBC e outros canais também anunciaram a remoção de parte dos conteúdos onde participa das suas plataformas e a abertura de inquéritos internos para averiguar o que se passou na época dos alegados acontecimentos.
Em contraste, o presidente executivo da Rumble, disse que a plataforma não se iria juntar à "multidão da cultura do cancelamento".
Numa investigação de um ano levada a cabo pelo Channel 4, The Sunday Times e The Times e divulgada no sábado à noite, quatro mulheres acusaram-no de violação e agressão sexual entre 2006 e 2013. A mais jovem das suas alegadas vítimas tinha 16 anos na época.
Na segunda-feira, a polícia de Londres disse que tinha sido contactada sobre outro alegado ataque em 2003 e vários vídeos de programas onde Brand fazia alusões sexuais tornaram-se virais.
Na quinta-feira, uma mulher acusou-o de se expor à sua frente no escritório da BBC em Los Angeles em 2008 e rir-se disso minutos depois no seu programa na BBC Radio 2.
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