Uma petição para impedir que uma estação de metro de Paris receba o nome de Serge Gainsbourg superou as 10 mil assinaturas na quinta-feira, com os críticos a acusarem o falecido cantor de defender a misoginia e o incesto.
Em 2016, a operadora de transportes urbanos RATP lançou as obras de construção para prolongar a linha 11 do metropolitano de Paris, com a abertura de novas estações para o início de 2024.
Uma dessas estações levará o nome do cantor e ator francês, anunciou o gabinete do presidente da câmara do subúrbio parisiense de Les Lilas, uma ideia apoiada pela parceira de Gainsbourg, Jane Birkin, que faleceu este ano.
Mas numa petição 'online' lançada no mês passado em change.org, uma pessoa chamada Marie G – que se descreve como uma “funcionária pública e ativista feminista” – protestou contra o plano, dizendo que Gainsbourg tinha sido “uma homem violento, um notório misógino e um defensor do incesto".
A petição reuniu mais de 10.600 assinaturas ao início da tarde de quinta-feira, mais do que duplicando o número desde o dia anterior.
A decisão de nomear uma estação em homenagem a Gainsbourg, falecido em 1991, foi motivada pelo sucesso da sua canção de 1959 "Le Poinconneur des Lilas" ("O perfurador de passagens de Les Lilas", em tradução literal), que descreve o trabalho de um funcionário na estação que é a última da linha 11.
Ao longo da sua carreira, Gainsbourg gerou regularmente polémica, inclusive ao colocar o hino nacional francês na música 'reggae'.
Muitas das suas letras incluíam insinuações sexuais habilmente mascaradas ou referências diretas ao sexo.
Os críticos concentraram-se principalmente no seu aparente gosto por fantasias de incesto com a sua filha Charlotte, ela mesma agora uma atriz e cantora famosa, e na música "Lemon Incest", que gravou com ela quando tinha 13 anos, provocando fortes reações públicas aquando da publicação em 1984.
Gainsbourg negou a ocorrência de qualquer incesto, dizendo que a música simplesmente refletia o amor entre pai e filha.
“Ainda assim, este trabalho contribuiu para um clima em que o incesto é apresentado como uma relação amorosa, sensual e desejável”, afirma a petição.
Era “amplamente conhecido” que Gainsbourg tinha sido “violento com as mulheres” e tinha “tendências pedocriminosas e até incestuosas”, afirma ao texto.
A própria Jane Birkin descreveu nas suas memórias cenas em que Gainsbourg se tornou fisicamente violento com ela, recorda a autora da petição.
Este outono, o incesto foi amplamente discutido na França após a atriz Emmanuelle Béart dizer num documentário que foi uma vítima.
O incesto começou quando Béart tinha 10 anos e continuou até os 14, partilhou a atriz sem revelar o nome do agressor, mas garantido que não era seu o pai.
Cerca de 160 mil crianças são vítimas de violência sexual todos os anos em França e 5,5 milhões de adultos franceses sofreram abuso sexual durante a infância, segundo a Ciivise, uma comissão criada pelo governo para a proteção das vítimas de abuso sexual.
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