Numa altura em que o estado de emergência climática é uma realidade, ainda é difícil para a comunidade científica comunicar com o público em geral. Contudo, é imperativo que este tema, as suas consequências e a forma como podemos agir entrem na agenda de todos, “sem drama, mas com urgência”.
Este é o mote do BOIL – Climate Festival, uma ideia original da agência Because Impacts e coproduzido com a Fundação de Serralves.
Um dos objetivos principais é “comunicar e envolver as pessoas em temas complexos e difíceis”, afirma ao SAPO Mag Graça Fonseca, fundadora da Because Impacts e criadora do BOIL Climate Festival.
E como isso será feito? Ciência, arte e humor vão dialogar juntas para comunicar o tema das alterações climáticas. “Um dos apelos da comunidade científica, nomeadamente nos relatórios do IPCC, é para o tema ser comunicado não só por cientistas, mas também por artistas, humoristas, criadores de conteúdos, influenciadores. Que se unam à ciência climática para comunicá-la da melhor forma”, explica Graça Fonseca, ex-ministra da Cultura.
Assim, durante quatro dias, o Parque de Serralves, no Porto, vai receber instalações artísticas, exposições, sessões de cinema e conversas num evento imersivo dedicado à temática ambiental.
Um “desafio coletivo”
Para Graça Fonseca, o desafio das alterações climáticas “é enorme e não se resolve de um dia para o outro”, mas “podemos fazer diferente”, tornando o tema “acessível, simples e descomplicado”.
“Há um enorme espaço para comunicar melhor com as pessoas”, refere, considerando que ainda “falta comunicação mais voltada ao cidadão comum”.
Numa altura em que as alterações climáticas já são uma “realidade” e terão “um enorme impacto económico, na competitividade e na coesão social”, o tema deve ser encarado como um “desafio coletivo”.
Contudo, para sermos agentes de mudança, precisamos compreender como podemos fazê-lo para “tomar melhores decisões”, considera a responsável.
BOIL Talks, “isto não é uma conferência”
Para contribuir para esta reflexão e tomada de consciência, nos dias 25 e 26 de setembro, decorrem as BOIL Talks, para as quais é necessário adquirir bilhete, sendo a restante programação do festival de acesso livre.
São sessões de 20 minutos em que cientistas, artistas, humoristas, arquitetos, chefs e especialistas de outras áreas vão conversar sobre temas como “O que está a acontecer no Planeta?”, “Alimentação”, “Edifícios e construção”, “Turismo”, “Mobilidade”, “Ativismo e Arte”, “O que está a acontecer nos Oceanos?”, “Biodiversidade”, “Água” ou “Humor e Ciência”.
Joana Barrios e Hugo Van Der Ding irão, com certeza, trazer momentos de humor para algumas destas talks que pretendem ser informais, mantendo o tom de conversa.
A arte e o humor podem ter este papel de contar as histórias a partir daquilo que os cientistas nos dão
“Isto não é uma conferência”, sublinha Graça Fonseca, salientando o poder que o humor e a arte têm em comunicar. “O cérebro humano processa melhor histórias do que números. A arte e o humor podem ter este papel de contar as histórias a partir daquilo que os cientistas nos dão”, refere.
Entre os cientistas confirmados estão nomes como Carlos Fiolhais, David Marçal, Patrícia Garcia Pereira, Pedro Matos Soares e Júlia Seixas. Há também os coletivos como a Comunidade Lidera e Hard Art, além de muitos outros nomes em áreas como turismo, mobilidade e arquitetura.
Para descomprimir e ajudar a digerir os temas falados nas talks, os participantes poderão ter a experiência de uma discoteca silenciosa em frente à Casa de Serralves e acesso ao percurso da exposição Serralves em Luz.
Instalações artísticas e cinema
Com o objetivo de criar este ambiente imersivo em volta da temática ambiental e climática, vai ser possível conhecer um percurso de instalações artísticas no Parque de Serralves, desenvolvido em exclusivo para o evento, com curadoria artística de Joana Seguro.
A água e o seu uso, o plástico nos oceanos e a perda de biodiversidade serão alguns dos temas abordados pela vertente artística desta primeira edição do BOIL.
Em paralelo, a Casa do Cinema Manoel de Oliveira será palco de um ciclo de cinema climático, exibindo filmes e documentários que incentivam a reflexão as dimensões e os efeitos das alterações climáticas, com curadoria conjunta da Casa do Cinema Manoel de Oliveira e da National Geography Society.
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