As últimas grandes obras de expansão do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) datam de 1937, “portanto quase há um século”, avaliou o diretor da instituição, Joaquim Caetano, contactado pela agência Lusa sobre o ponto da situação do projeto.
Em janeiro deste ano, o então primeiro-ministro, António Costa, e o ministro da Cultura da altura, Pedro Adão e Silva, anunciaram a aprovação, em Conselho de Ministros, de 10 milhões de euros para a aquisição de três edifícios para o projeto de ampliação do museu.
O projeto previa quatro edifícios, um deles adquirido anteriormente pela Câmara Municipal de Lisboa, em 2016.
Joaquim Caetano disse à Lusa que os três edifícios anunciados em janeiro já foram adquiridos pela empresa de capitais públicos Estamo – Participações Imobiliárias.
“É uma necessidade sentida e expressa há mais de 60 anos pelos sucessivos diretores do museu”, recordou o diretor do MNAA, que acolhe um acervo de mais de 40 mil peças de pintura, escultura e artes decorativas portuguesas, europeias dos séculos XII a XIX.
Para o prosseguimento do projeto “tem de haver um plano prévio do museu, um plano de arquitetura e um concurso para as obras, que terão de ser internacionais porque será uma obra grande”, observou o diretor do MNAA.
“Nós já temos um estudo de volumetria e de ocupação global dos espaços, mas só com o os projetistas é que se trabalhará no acerto concreto da museografia”, acrescentou Joaquim Caetano.
A necessidade deste projeto está definida há mais de 60 anos, quando já o historiador de arte e especialista em pintura portuguesa João Couto, diretor do MNAA de 1937 a 1962, dizia que o museu precisava de se expandir para expor as coleções.
“Quando [João Couto] se reformou, em 1962, deu uma entrevista dizendo que era absolutamente necessário para cumprir a sua função que o museu crescesse bastante, e a única hipótese era para a Avenida 24 de julho”, recordou o atual diretor à Lusa.
Para Joaquim Caetano, este alargamento “é absolutamente fundamental, porque nestes últimos 60 anos, o museu recebeu mais de 5.000 novas peças, em aquisições, doações, algumas de grande volume, em escultura e ourivesaria”.
“Por outro lado, todos os museus desta dimensão, nacionais, se renovaram nos últimos 20 ou 30 anos devido às novas necessidades nas áreas técnicas, de conservação e restauro, de reservas, de análise e circulação de peças, que se compadecem muito pouco com edifícios antigos”, descreveu, sustentando que atualmente realizam-se muito mais exposições do que há cem anos, e, por isso, “as peças circulam de forma intensa”.
Outra razão da necessidade do crescimento do museu tem a ver com a acessibilidade: “Levar o museu à Avenida 24 de julho é para nós essencial porque temos um problema enorme para receber camionetas de visitantes de escolas e turismo. O transporte público também é mais regular e com maior oferta daquele lado do que do lado da Rua das Janelas Verdes”.
“Por todas estas razões é imprescindível [avançar com o projeto de expansão]. Agora resta saber se há vontade política para o fazer”, disse o responsável pela direção do MNAA.
A concretização do projeto deverá permitir a expansão da área expositiva e das reservas do museu criado em 1884, que alberga tesouros como os Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves, obra-prima da pintura europeia do século XV, e a Custódia de Belém, de Gil Vicente, mandada lavrar por Manuel I e datada de 1506.
Os Biombos Namban, do final do século XVI, registando a presença de portugueses no Japão, e o tríptico "As Tentações de Santo Antão", de Hieronymus Bosch, são outras peças relevantes do acervo do MNAA.
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