Terry Jones morreu esta terça-feira após uma longa batalha contra a demência, anunciou a família do membro dos Monty Python em comunicado.
"Estamos profundamente tristes por termos de anunciar a morte do nosso amado marido e pai, Terry Jones", pode ler-se na nota.
A família do comediante assinala ainda que este morreu ao lado da mulher, Anna Soderstorm, após "uma longa, extremamente corajosa mas sempre bem-humorada batalha contra um tipo de demência raro, FTD".
Nos últimos dias, Jones tinha recebido visitas "constantes" familiares e amigos próximos na sua casa, em Londres, pode ainda ler-se no comunicado.
"Perdemos todos um homem gentil, caloroso, criativo e verdadeiramente adorável", sublinha a família, lembrando o prazer "que deu a incontáveis milhões ao longo de seis décadas" através do seu intelecto e humor.
"O seu trabalho com os Monty Python, os seus livros, filmes, programas de televisão, poemas e restante obra viverão para sempre", acrescenta a nota.
A família de Jones agradece ainda a entrega dos profissionais médicos ao longo dos anos e pede que a sua privacidade seja respeitada "neste momento sensível". "Esperamos que um dia esta doença seja erradicada por completo", lamenta.
"Parece estranho que um homem de tantos talentos e entusiasmo inesgotável se apague tão docemente...", reagiu no Twitter o seu colega John Cleese. "Entre as suas muitas realizações, o maior presente que ele nos deu foi o argumento de 'A Vida de Brian'. A perfeição", acrescentou.
Outro membro do Monty Python, Michael Palin, reagiu à morte dizendo que perde "um dos [seus] melhores amigos" e saudou um "autor-intérprete entre os mais cómicos da sua geração e um comediante do Renascimento completo: autor, realizador, animador, escritor infantil brilhante".
O ANÚNCIO DA DOENÇA E O FIM DAS ENTREVISTAS
Em 2016, foi anunciado que Terry Jones sofria de demência e não voltaria a dar entrevistas.
Um porta-voz deu conta que o ator tinha sido diagnosticado com afasia progressiva não-fluente, uma variante de demência frontotemporal, em que se perde a capacidade de falar ou se manifestam alterações na articulação das palavras.
A notícia confirmou especulações após o ator escocês ter surgido mais reservado e começado a divagar em entrevistas, acabando outros membros do mítico grupo de comédia britânico por tomar a palavra.
Nos dez espetáculos 'Monty Python Live (Mostly)' realizados em Londres em 2014 que juntaram, além de Jones, Michael Palin, John Cleese, Terry Gilliam e Eric Idle (Graham Chapman morreu em 1989), não passou despercebido que lia as suas frases a partir de cartões.
O diagnóstico foi confirmado depois de se saber que seria homenageado pela Academia Britânica de Artes Cinematográficas e da Televisão pelo seu enorme contributo artístico.
'Esta doença afeta a sua habilidade de comunicar e infelizmente já não é capaz de dar entrevistas. Terry sente-se muito orgulhoso e honrado de receber um reconhecimento como este e tem muita vontade de desfrutar da festa', revelou um comunicado na altura.
DOS MONTY PYTHON AOS PALCOS, JORNAIS E LIVROS
Para além do trabalho como comediante e argumentista nos Monty Python, Terry Jones também teve um importante contributo na imortalização do grupo no cinema, tendo co-realizado com Terry Gilliam "Monty Python e o Cálice Sagrado" (1975), antes de avançar sozinho em "A Vida de Brian" (1979).
O último filme do grupo, "O Sentido da Vida" (1983), foi novamente dirigido em parceria com Terry Gilliam e venceu venceu o grande prémio do júri no Festival de Cinema de Cannes.
Enquanto realizador, Terry Jones assinou ainda, entre outros, uma adaptação de "O Vento nos Salgueiros" (1996), de Kennethn Grahame, e "Uma Comédia Intergalática" (2015).
Especialista em História Medieval, o ator britânico apresentou ainda vários documentários televisivos, foi colunista na imprensa britânica e publicou vários livros para os mais novos.
Terry Jones esteve em Portugal em 2011, a convite do Festival Internacional de Cinema do Funchal, e em 2008 apresentou em Lisboa o musical "Evil Machines", que escreveu com Anna Söderström e encenou, com música original do compositor português Luís Tinoco.
O espetáculo foi encomendado a Terry Jones e a Luís Tinoco pelo Teatro Municipal São Luiz na sequência do êxito de "Contos Fantásticos", a primeira parceria destes dois artistas, estreada naquele teatro em 2006 e reposta em dezembro de 2007.
Na altura, por ocasião da estreia de "Evil Machines", Terry Jones contou em entrevista à agência Lusa que a recompensa mais importante de tudo aquilo que fazia - escrever, representar, dirigir - era "as pessoas gostarem".
Questionado sobre o objetivo de vida, respondeu: "Como diz o Woody Allen, fazer piadas com mais piada, fazer filmes melhores. Eu quero fazer coisas cada vez melhores - não só coisas engraçadas, coisas melhores, em geral".
Nascido a 1 de fevereiro de 1942 em Colwyn Bay, no País de Gales, Terry Jones teve dois filhos do seu primeiro casamento com Alison Telfer, com quem se casou em 1970, e foi pai novamente com sua última mulher, aos 67 anos.
Vários comediantes e outras figuras das artes já reagiram à morte nas redes sociais:
Recorde "Always Look on the Bright Side of Life", um dos clássicos dos Monty Python:
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