“‘O jovem’ é um texto-chave na obra de Annie Ernaux, uma pequena joia finamente cinzelada sobre o tempo e a escrita”, afirma a Livros do Brasil, que edita a obra da autora.
Lançado em maio do ano passado, o livro conhece edição portuguesa no dia 26 de janeiro, que inclui fotografias do arquivo privado de Annie Ernaux, a sua biobibliografia e a reprodução de uma página manuscrita.
A história gira em torno de uma mulher na casa dos 50, que se envolve com um homem quase trinta anos mais novo, uma relação que a faz regressar ao passado e a uma cidade que deixou para trás.
Nessa viagem mental, entre o entusiasmo do enamoramento, os jogos de sedução e prazer, e os estigmas gerados pela diferença de idades e de posições sociais, a protagonista, que é a própria autora, reflete sobre a rapariga “escandalosa” que foi, menina da província, de um meio que já não é o seu e que agora, com estranheza, reconhece no outro.
Essa “experiência iniciática” que trouxe a Annie Ernaux a memória do seu primeiro mundo está bem presente em frases como uma em que afirma: “Ele incorporava o passado. Com ele, percorria todas as épocas da vida, da minha vida”.
O estigma da diferença de idades, acentuado pelo facto de ser uma mulher o elemento mais velho do casal, também é explorado pela autora.
“Em frente ao rosto de A., o meu era igualmente jovem. Os homens sabiam isso desde sempre, eu não via por que razão o mesmo me seria vedado”, escreve Annie Ernaux.
Este é um “relato intimista e despudorado de uma paixão nada simples com um rapaz de 25 anos e, portanto, com idade para ser seu filho”, no qual se sente “o preconceito dos outros por tão grande diferença etária, os ciúmes (dele, não dela), a volúpia nunca antes tão saboreada”, descreve a editora.
“O jovem” é o quinto título de Annie Ernaux publicado na coleção Dois Mundos, depois de “Um lugar ao sol seguido de Uma mulher”, “Uma paixão simples”, “O acontecimento” e “Os anos”.
Nascida em Lillebonne, na Normandia, em 1940, Annie Ernaux estudou nas universidades de Rouen e de Bordéus, sendo formada em Letras Modernas.
Atualmente é considerada uma das vozes mais importantes da literatura francesa, destacando-se por uma escrita onde se fundem a autobiografia e a sociologia, a memória e a história dos eventos recentes.
Galardoada com o Prémio de Língua Francesa (2008), o Prémio Marguerite Yourcenar (2017), o Prémio Formentor de las Letras (2019) e o Prémio Prince Pierre do Mónaco (2021) pelo conjunto da sua obra, destacam-se os seus livros “Um lugar ao sol” (1984), vencedor do Prémio Renaudot, e “Os anos” (2008), vencedor do Prémio Marguerite Duras e finalista do Prémio Man Booker Internacional.
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