Uma exposição do artista português Veloso Salgado (1864-1945), que apresenta obras do seu itinerário artístico em França, vai estar patente a partir de quinta-feira no Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC) - Museu do Chiado, em Lisboa.
A exposição "Veloso Salgado de Lisboa a Wissant. Itinerário de um pintor português" chega agora a Portugal, depois de ter sido apresentada na Temporada Cruzada Portugal-França, no Museu de Boulogne-sur-Mer, em França, em 2022, anuncia o MNAC na sua página oficial.
Esta exposição preparada pelo museu de arte contemporânea, com cerca de 70 obras, foi a primeira do artista em França e propôs-se seguir o seu itinerário francês - Paris, Bretanha e Wissant - local de ligação de uma amizade com os artistas Virginie Demont-Breton e Adrien Demont, e a Escola de Wissant.
Com curadoria de Maria de Aires Silveira, do MNAC, e Elikya Kandot, diretora do museu de Boulogne-sur-mer, parte dessa mostra chega agora a Portugal, também pela primeira vez, em diálogo com os seus pares franceses.
De há alguns anos para cá, a obra de Veloso Salgado tem sido objeto de estudo no MNAC, pela conservadora do museu Maria de Aires Silveira, em particular após o legado da obra do artista ao museu, em 2016.
Integram esse legado várias pinturas, documentação, também epistolar, e um núcleo significativo de provas fotográficas, cujo estudo tem permitido avançar no conhecimento da obra deste artista e da sua rede de contactos artísticos em Portugal e em França, refere o museu.
“A correspondência, trocada desde 1896, traça um itinerário pessoal e profissional, de Lisboa para França, e foi recentemente complementada com as cartas de Veloso Salgado para o casal Demont”, de quem fez uns retratos, recentemente descobertos.
Essa descoberta, bem como o envolvimento do pintor com Wissant revelaram-se “determinantes para uma inovadora reflexão” sobre as suas obras e o seu percurso artístico.
“O retrato da criança intitulada “Flor do mar”, datado de 1894, obra escolhida como imagem desta exposição, destaca a sua aprendizagem junto de artistas franceses, numa experimentação que vai além do habitual reconhecimento da sua pintura académica, introduzindo uma modernidade inédita no seu percurso artístico e oferecendo uma nova visão da sua produção”, esclareceu Maria Aires Silveira, no texto da exposição.
Segundo a curadora, esta exposição “dá palco a uma viagem artística pelo sentido naturalista, com laivos de modernidade, tão próprio deste pintor”, pretendendo assim “transportar o visitante para um ambiente oitocentista”.
Nascido em Orense, Espanha, com 10 anos Veloso Salgado trabalhava já na Litografia Lemos, do tio materno, em Lisboa.
Estudou na Academia de Belas-Artes e ganhou a prova para pensionista em Paris e Itália com a pintura “A morte de Catão”.
Partiu para Paris, em 1888, já naturalizado cidadão português, e ali trabalhou com o mestre paisagista Jules Breton, relacionou-se com a sua filha e genro, o casal de artistas Virginie Demont-Breton e Adrien Demont, e integrou o Grupo da Escola de Wissant, no Norte de França.
Veloso Salgado tornou-se um conhecido retratista na zona de Lille, onde conviveu com paisagistas, e, mais tarde, já em Lisboa, como professor da Academia das Belas-Artes, manteve, através de regular correspondência, uma estreita relação de amizade, ao longo da sua vida.
No seu legado encontraram-se algumas obras destes pintores, particularmente uma paisagem de Fernand Stiévenart, com dedicatória a Salgado, e um retrato feminino, adquirido em abril do ano passado pelo MNAC, no qual se repete a frase “À mon cher ami”, destinada a Stiévenart.
A pintura recentemente adquirida “aponta para uma troca afetuosa entre artistas deste grupo, evidenciando assim a presença de Veloso Salgado neste conjunto de cerca de 26 pintores, em torno das propostas simbolistas de Adrien e o realismo de Virginie, pintores que também dedicaram obras a Veloso Salgado”, acrescenta a curadora.
Esta exposição que agora chega a Lisboa, onde ficará até 20 de setembro, revelará as ligações luso-francesas que cruzam o itinerário de Veloso Salgado com os caminhos da Escola de Wissant.
“Estas cumplicidades são fundamentais para uma atualização do percurso artístico de Veloso Salgado, sobretudo entre 1888 e 1900, o período mais ousado do pintor”, destaca Maria de Aires Silveira.
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