Esta nova exposição temporária vai pôr lado a lado as bibliotecas particulares de dois nomes maiores do modernismo português, procurando promover um “diálogo” através dos livros de cada um, divulgou em comunicado a Casa Fernando Pessoa.
A mostra “Almada e Pessoa – Conversa entre bibliotecas” estará patente até 8 de setembro e vai dar a conhecer edições raras, manuscritos e dedicatórias personalizadas.
“As bibliotecas dos artistas e escritores deixam ver o circuito de relações que se fazem e desfazem ao longo da sua vida, as suas amizades e os seus interlocutores intelectuais. Os livros que os escritores e artistas leem, sublinham, comentam, ilustram, editam, oferecem e recebem de oferta, são parte, fonte, ou extensão da sua obra”, refere a nota.
Com curadoria das investigadoras Mariana Pinto dos Santos, Giorgia Casara e Teresa Monteiro, a exposição vai apresentar uma seleção de livros dos dois artistas, postos em diálogo, atendendo à cumplicidade que partilharam, às suas amizades e projetos que tiveram em comum.
A biblioteca particular de Almada Negreiros, por exemplo, inclui livros com dedicatórias assinadas por Natália Correia, Jorge de Sena, Teixeira de Pascoaes, Aquilino Ribeiro e Vinicius de Morais, entre muitos outros.
Nas palavras dos organizadores, estes exemplares mostram “a rede de cumplicidades pessoais e artísticas de um dos mais multifacetados artistas portugueses do século XX”.
O poeta Fernando Pessoa e o artista multidisciplinar Almada Negreiros conheceram-se em 1913, quando tinham, respetivamente, 20 e 25 anos.
Em 1915, o autor do “Manifesto anti-Dantas” colaborou com a Orpheu, revista criada por Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, considerada o marco inaugural da vanguarda literária e artística em Portugal.
“São aqui mostradas pela primeira vez dois projetos de maquetes ilustradas da ‘Mensagem’ que Almada fez, mas que nunca chegou a publicar, assim como uma primeira edição da ‘Mensagem’ dedicada por Fernando Pessoa a Almada, em que o trata por ‘Bebé de Orpheu!’”, revelam os promotores da exposição.
Os dois artistas têm múltiplas ligações, desde logo, Almada foi o autor do logótipo da Olisipo, editora que Fernando Pessoa fundou, tendo ali publicado o seu livro “A Invenção do Dia Claro” (1921), que também estará na exposição.
O número 3 da revista Orpheu estava a ser planeado por ambos, quando Fernando Pessoa morreu repentinamente, em 1935, tendo esse projeto a dois ficado interrompido.
Segundo a curadora Mariana Pinto dos Santos, “Almada foi um impulsionador da criação do mito Pessoano. Ao isolar a sua imagem no famoso retrato que fez para o Restaurante Irmãos Unidos, onde o grupo da revista Orpheu se reunia - e que pode ser visto na exposição permanente da Casa Fernando Pessoa -, Almada está a inscrever-se também no mito, ao ser o autor da imagem de Pessoa que iria ser perpetuada.”
Na opinião da responsável, esta é uma das mais-valias desta exposição: abrir novas perspetivas e ligações com outras peças que integram a coleção do museu.
No sábado, dia da inauguração, terá lugar uma conversa com as curadoras, às 16h00, de entrada livre, mas sujeita à lotação.
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