Este romance de Barbara Kingsolver, editado pela Suma de Letras, aborda temas universais como a adição e a pobreza, o amor, a família e o poder da amizade e da arte.
Nas palavras do júri do Women's Prize for Fiction, é “uma exposição da América moderna, da sua crise de opiáceos e do tratamento prejudicial de comunidades carenciadas e difamadas (…) É um soco emocional triunfante e um romance que resistirá ao teste do tempo”.
“Demon Copperhead” reinventa David Copperfield, atualizando Dickens para os dias de hoje, através da história de um rapaz que tenta sobreviver entre a crise de opiáceos nos Estados Unidos e o tratamento desigual de comunidades carenciadas.
O protagonista da história é filho de uma adolescente, "pequena loura oxigenada", solteira e toxicodependente, a viver numa caravana, no condado de Lee County do Estado de Virgínia.
O romance começa com o seu nascimento, na “sujidade do pavimento vinílico” da casa de banho, onde a mãe jazia inconsciente: “Antes de mais, fui eu que me pus no mundo” é a frase que marca o início da história, narrada pela voz implacável do protagonista.
De nome Damon Fields, apelido da mãe, porque não tem pai conhecido, nem nenhum homem que estivesse disposto a perfilhá-lo ou tão-somente dar-lhe o nome, rapidamente começou a ser tratado por Demon (demónio) e pouco depois ganhou a alcunha de Little Copperhead (pequena cabeça de cobre), devido aos cabelos ruivos.
O rapaz vive numa zona inóspita das montanhas do sul dos Apalaches, entre uma mina de carvão e uma povoação chamada Right Poor, onde a caravana foi instalada.
Demon Copperhead cresce sem nada para além da boa aparência que herdou do pai, de um espírito cáustico e perspicaz, e de uma boa capacidade de se desenvencilhar numa vida dominada pela pobreza.
A sua infância é amparada pelos bondosos vizinhos Peggot, uma vez que a mãe é ausente e passa o tempo a entrar e a sair de programas de reabilitação.
Demon demonstra uma capacidade notável de sobreviver a orfanatos, a trabalho infantil e a escolas terríveis, equilibrando o seu sucesso com uma epidemia de opiáceos, desgostos amorosos e perdas avassaladoras.
O jornal The Guardian assinalou que o narrador da história “é um produto de múltiplos sistemas falhados, sim, mas também de uma paisagem rural profunda com as suas próprias tradições”.
Refletindo as mesmas preocupações do universo dickensiano, este “Demon Copperhead” é um romance social “com uma forte mensagem política e uma preocupação com as classes mais baixas”, segundo o The New York Times.
Muitas gerações antes, Charles Dickens escreveu “David Copperfield” partindo da sua experiência como sobrevivente da pobreza institucional e relatando as suas consequências nocivas para as crianças na época em que viveu.
“Esses problemas ainda não foram resolvidos na nossa sociedade. Ao inspirar-se nessa obra e ao transpor um romance vitoriano para uma América contemporânea, Barbara Kingsolver recorre à raiva e à compaixão de Dickens e, acima de tudo, à sua fé no poder transformador de uma boa história”, afirma a editora.
Barbara Kingsolver é uma romancista, ensaísta e poetisa norte-americana multipremiada.
Nasceu na zona rural de Kentucky e em criança viveu algum tempo com a família em África, tendo-se formado em Biologia, área em que trabalhou antes de iniciar a sua carreira como escritora.
Em 2000, fundou o prémio Bellwether para apoiar a literatura que aborda questões sociais e recebeu a Medalha Nacional de Humanidades pelas suas contribuições para o entendimento da sociedade norte-americana.
Os seus livros têm sido amplamente traduzidos e ganharam algumas dezenas de prémios, do Los Angeles Times Book Prize, ao Prémio PEN e ao William Faulkner, sem esquecer o prémio vida literária da Biblioteca do Estado de Virgínia.
Barbara Kingsolver é a primeira escritora a ser duplamente premiada com o Women’s Prize for Fiction, que já em 2010 a distinguira pelo romance “The Lacuna” (editado em Portugal pelo Clube do Autor, com o título “A Lacuna”), igualmente vencedor do Orange Prize.
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