A uma semana da reabertura, o vai e vem de quem realiza as obras e dá os últimos toques na iluminação e no pavimento do espaço, faz antever o regresso em força da sala mítica à freguesia lisboeta, que teve os tempos áureos nos anos 80/90.
“Estamos muito satisfeitos. Foi algo que nos tínhamos comprometido há três anos [promessa de campanha eleitoral das autárquicas] com os nossos moradores, com os nossos eleitores. É portanto com grande contentamento que ansiamos por esta chegada de dia 16 [setembro] com a abertura oficial do Cine-Teatro Turim, com o ‘twist’ de que abrirá no mês que faz 40 anos”, disse Ricardo Marques.
Em declarações à Lusa, o presidente da Junta de Freguesia de Benfica (PS) lembrou o esforço financeiro feito pela família de Afonso Moreira, proprietária do espaço, e das suas filhas, as atrizes Anabela e Margarida Moreira, em manter o espaço aberto, mas a crise financeira acabou por levar ao fecho de portas.
“Em 2020 falei pela primeira fez com o senhor Afonso Moreira. Andámos ali no namoro uns meses um com o outro e pudemos, em 2021, fechar aquilo que foi a base do acordo e anunciar ao mundo que iríamos fazer obras e reabrir”, explicou Ricardo Marques.
De acordo com o responsável, a autarquia fez um contrato de arrendamento a dez anos para “devolver o cineteatro à comunidade de Benfica, mas também de Lisboa e da Amadora, a todos aqueles que, ao longo de gerações amaram vir a esta sala pequenina, a este espaço tão acolhedor”.
“Vai ser um reviver de memórias, perspetivando o futuro. Foi uma frase que ouvi hoje de manhã e acho que agora vou usar, citandos os direitos de autor do nosso caríssimo Gonçalo Lopes”, retorquiu Ricardo Marques, salientando que os ‘open days’ realizados em maio passado fizeram regressar as memórias de muitas pessoas em relação ao espaço.
O autarca contou que ouviu de quem passou naqueles dois dias pelo Turim frases de pais para filhos como “foi aqui que conheci a tua mãe”, “foi aqui que vim pela primeira vez ao cinema” ou “foi aqui que durante muitos anos vinha passar a tarde com a [Dona] Lurdes, que trabalhava no cinema”.
“Há muita gente que tem grandes memórias e grandes lembranças (….) É um regresso ao cinema de bairro, com programação diferenciada, indie, e de grande proximidade. Eu sei que vai fazer muita diferença naquilo que é as pessoas terem a cinco, dez minutos de casa uma resposta cultural destas”, sublinhou.
No Cine-Teatro irá haver um restaurante, de uma empresa de Braga que ganhou o concurso de exploração, além do Arcade Bar que será gerido pela associação O Menino da Lágrima, de um grupo de pessoas “com uma ligação umbilical a Benfica”, como Nuno Markl, Ana Bacalhau ou Filipe Melo, entre outros, contou Ricardo Marques.
“Vão ter um dia por semana em que vão ser os coparceiros pela programação cultural. Eu diria que são as ‘loucas quartas-feiras’ à falta de outro termo, o próprio espaço deles vai ser uma sala de espetáculos informal, com ‘stand up comedy’, filmes com debates animados e organizados pelo Markl”, explicou.
Na realidade, o presidente da Junta de Benfica adiantou que o espaço vai ser “um caldeirão cultural, mas também gastronómico”, sendo que o caldeirão de cultura vai estar “muito virado para novos artistas”.
“É esse o nosso compromisso e, portanto, os artistas de Lisboa que não têm espaço para se lançar e dos nossos concelhos vizinhos vão ter por certo uma casa no Turim onde se lançar. Vai ser uma sala emergente”, acrescentou.
No espaço tudo o que foi possível manter ficou. As poltronas rosa velho na sala de espetáculos, as famosas vitrinas do mítico corredor tão em voga nos anos 80 vão continuar a mostrar memórias de outros tempos, entre objetos recuperados e fotografias do Turim de antigamente que têm chegado até à junta de freguesia.
Para a inauguração são esperados dois dias de festa, com teatro infantil, as presenças de Rui Pregal da Cunha, vocalista dos Heróis do Mar, lançados no Calhariz de Benfica nos anos 80, o cantor Dino D’Santiago, a atriz Margarida Moreira, o bailarino Cifrão, além de uma projeção de um filme e debate com Nuno Markl, entre outras surpresas.
O Cine-Teatro Turim foi inserido no programa municipal da Câmara de Lisboa “Um Teatro em Cada Bairro”, uma rede de centros culturais de proximidade e de encontro das artes com as comunidades locais, sendo que a sala conta somente com 90 lugares, o que a faz ser “um espaço mais intimista”, segundo Ricardo Marques.
A Junta de Freguesia de Benfica irá suportar 350 mil euros de investimento nas obras de requalificação, enquanto a Câmara de Lisboa apoia com 150 mil euros, adiantou Ricardo Marques.
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