De acordo com aquele teatro, nesta adaptação contemporânea do texto do dramaturgo inglês, o jovem Hamlet é uma mulher adulta - a atriz francesa Clotilde Hesme -, “tão atormentada quanto ele pelas falhas do passado, mas com vontade de mudar o futuro”.
Na peça, que ficará em cena até 14 de abril, a atriz Isabel Abreu interpreta Ofélia, pretendente de Hamlet, e o ator Tónan Quito é Polónio, pai dela.
“O que aconteceria se Hamlet fosse hoje, quatro séculos depois de Shakespeare, uma mulher? O que é que mudaria no seu relacionamento com a mãe, Gertrude, com a noiva, Ofélia, e com o sistema patriarcal?”, pergunta a encenadora, numa entrevista publicada na folha de sala.
Na mesma entrevista, questionada sobre a escolha de dois atores portugueses e não brasileiros, Christiane Jatahy justifica por “uma questão social”.
“Ofélia, o pai, Polónio, e o irmão, Laertes, mesmo que falem a língua, eles não fazem parte do meio de Hamlet, estão um pouco à parte. Aludindo a isto, Portugal está a uma boa distância de França, nem muito longe, como o Brasil, nem muito perto. É um país europeu, mas mais pobre do que as grandes potências, portanto, com uma outra relação com o poder”, afirmou a encenadora.
Depois de Paris, o espetáculo de Christiane Jatahy andará em digressão, estando confirmadas apresentações na Áustria, nos Países Baixos e em Espanha.
A encenadora brasileira Christiane Jatahy, que nasceu no Rio de Janeiro em 1968, soma duas décadas de trabalhos cénicos que conjugam diferentes áreas artísticas, do teatro ao cinema e à videoarte, com preocupações comuns.
Em 2018 protagonizou o programa Artista na Cidade de Lisboa, com a apresentação de vários espetáculos, nomeadamente "Ítaca", inspirado na "Odisseia", de Homero, e "Júlia", a partir de um texto de August Strindberg.
Comentários