Publicada pela primeira vez em 1976, reeditada em 1994 e há muito esgotada, “Cravo” volta aos escaparates livreiros no Cinquentenário do 25 de Abril, numa edição com “desenhos especialmente concebidos” por Ilda David, por ser uma obra “imprescindível para compreender Portugal, para pensar o país, a Revolução, a condição feminina, a noção de liberdade e as censuras impostas pela sociedade, formalmente ou não”, disse à agência Lusa o editor Vasco David, da Assírio & Alvim, que chancela a nova edição.
“É um livro que as novas gerações devem ler, para tomar contacto com parte do nosso passado e refletir sobre hoje”, enfatizou Vasco David que se refere ao livro como “um olhar extremamente lúcido e crítico sobre a sociedade portuguesa, antes e depois do 25 de Abril."
No prólogo à obra, escrito em dezembro de 1975, intitulado “Entre Atos, Cravo”, Maria Velho da Costa escreve: “Entre atos, coisa curta, de afogadilho, fôlego preso. De entre gestos, dejetos melhor seria, pequenos jatos. Fogueiro preso e mais, imagens, imagens não retidas [...] Fica assim pois o intitular, o pequeníssimo registo”.
O primeiro texto, “Crónica dos Idos”, é datado de novembro de 1972. Os dois seguintes, de outubro de 1973: "Manifesto de escritor em linguagem fácil para uma campanha difícil" e "O portuguesíssimo nome de Marias", este já numa referência às "Novas Cartas Portuguesas", coescrito com Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta, livro que foi proibido pela censura, levou as autoras à PIDE e ao processo de impacto internacional que as tornou conhecidas por "As Três Marias".
Os restantes textos prosseguem igualmente de forma cronológica, a partir de "Exortação à entrada do poeta em Abrl", já datado de Abril de 1974, até ao que fecha a obra, “Litania do pronome perdido ou os sapatos do peixe”, de janeiro de 1976.
Vasco David defende a celebração dos 50 anos da Revolução dos Cravos, promovendo “a memória e o espírito crítico”, em que se insere "Cravo".
“Neste ponto de viragem do sistema político tradicional em Portugal, nada pode ser dado como conquistado, tudo deve ser recordado, lido, pensado criticamente e debatido”, argumenta o editor à Lusa.
Na sua opinião, “haverá poucos livros que toquem em tantas destas dimensões de um modo tão profundo" como "Cravo", pois “é um livro que pode e deve ler-se como alguma da mais alta literatura que se escreveu em Portugal no século XX, com um virtuosismo linguístico e um grau de originalidade, imaginação e sentido crítico e estético absolutamente excecionais.”
A escritora Maria Velho Costa tornou-se conhecida do grande público como uma das "Três Marias", depois da publicação e proibição das “Novas Castas Portuguesas”, em 1972, embora à data já tivesse editado duas obras de ficção: "O Lugar Comum" e "Maina Mendes".
As "Novas Castas Portuguesas”, porém, agitaram as consciências políticas e sociais do regime autocrático, derrubado em 25 de Abril de 1974, pela abordagem sobre a condição da mulher, a emigração, a pobreza e as condições de vida, e também a guerra colonial.
Vencedora do Prémio Camões em 2002, Maria Velho Costa recebeu, entre outras distinções, o Prémio Vergílio Ferreira, da Universidade de Évora, pelo conjunto da carreira, o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, por “Irene ou o Contrato Social”, o Prémio Correntes de Escritas, pelo romance "Myra", que também lhe deu o Grande Prémio de Literatura dst.
Natural de Lisboa, licenciou-se em Filologia Germânica e realizou o curso de Grupo-Análise da Sociedade Portuguesa de Neurologia e Psiquiatria.
Da sua bibliografia, entre outras obras, constam “Madame” (2019), ”Missa in Albis” (1988), “Lúcialima” (1983) e “Casas Pardas” (1977).
Recebeu as condecorações de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal e da Ordem da Liberdade.
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