Os videojogos provavelmente vão tornar-se a principal fonte de inspiração para histórias de Hollywood, disse o produtor e realizador Jonathan Nolan na segunda-feira, dias antes da sua adaptação do RPG pós-apocalíptico "Fallout" ser lançada.
Disponível a partir de quinta-feira na Amazon Prime Video, “Fallout” decorre 200 anos após uma guerra nuclear, quando os descendentes de pessoas que se esconderam em abrigos antiaéreos são forçados a retornar à superfície irradiada assolada pela violência, anarquia e mutantes.
A série foi desenvolvida por Nolan e a sua esposa Lisa Joy, que juntos produziram a aclamada série "Westworld", que ganhou o prémio dos Critics' Choice de nova série mais emocionante em 2016.
Nolan, irmão de Christopher Nolan, cujo 'biopic' “Oppenheimer” foi o sucesso dos Óscares deste ano, também dirige os três primeiros episódios de “Fallout”.
A série vai ser exibida pouco mais de um ano depois de “The Last of Us”, outra série inspirada por um videojogo pós-apocalíptico.
Aclamada pelo público e pela crítica, “The Last of Us”, de Craig Mazin e Neil Druckmann, provou que é possível uma transição bem-sucedida das consolas para a imagem real.
“Foi incrivelmente útil esse programa ter sido lançado, ter sido tão brilhante, ter sido tão bem recebido porque tirou muita da pressão”, disse Nolan aos jornalistas no festival Canneseries, onde “Fallout” foi exibida fora de competição. .
As adaptações de videojogos para o grande e pequeno ecrã não são novidade, embora muitas vezes tenham dececionado, desde o filme “Super Mario Bros”, lançado em 1993, até à série “Resident Evil” na Netflix em 2022.
'Jogador durante toda a minha vida'
Mas isso parece estar a mudar graças aos realizadores e produtores que cresceram a jogar videojogos.
“Fui jogador durante toda a minha vida”, disse Nolan, que se lembra de ter ficado hipnotizado por “Fallout 3” quando foi lançado, há 16 anos.
“Aqueles foram os anos em que percebi que a narrativa dos videojogos se tornara, em muitos aspetos, mais ambiciosa, mais vanguardista, mais punk rock” do que os filmes ou a televisão, diz.
Nolan apontou "Half-Life", "BioShock" e "Portal" como grandes exemplos de videojogos “cheios de momentos de tirar o fôlego”, alguns dos quais os realizadores podem transferir para o cinema e a televisão.
“Terão muitas conversas nos próximos anos quando falarem sobre jogos (na televisão e no cinema) como género, jogos não são um género”, nota Nolan.
Tom pós-apocalíptico
“Os videojogos são um meio para contar histórias e, de muitas formas, atualmente e há algum tempo, o maior meio para contar histórias, se olharmos para os números, a quantidade de pessoas que estão a jogar e a dimensão da indústria”, acrescentou.
O mercado global de videojogos foi avaliado em 254 mil milhões de dólares em 2022 e deverá ultrapassar 925 mil milhões até 2032, de acordo com a empresa de dados de mercado Spherical Insights.
Nolan acredita que os videojogos provavelmente se tornarão a principal fonte de inspiração para Hollywood nos próximos anos.
“Sabem que somos muito tímidos em Hollywood, somos conservadores”, disse.
"Esperamos para ver se... alguma coisa funciona", recorda.
Hollywood há muito explora a banda desenhada, incluindo Nolan, que co-escreveu com o seu irmão os filmes "O Cavaleiro das Trevas" e "O Cavaleiro das Trevas Renasce".
Enquanto “The Last of Us” é fortemente baseado no jogo, “Fallout” cria novas personagens e uma nova história.
“O desafio era tentar encontrar uma história que atingisse a essência dos jogos e que, para mim, fosse obviamente o cenário pós-apocalíptico, mas na verdade, mais do que qualquer outra coisa, o tom”, disse Nolan.
“Nunca encontrei nada parecido – partes iguais de drama, emoção, mas também comédia de humor negro, sátira, é político”, acrescentou.
Nolan disse que o criador de “Fallout”, Todd Howard, esteve envolvido em todas as etapas da produção, mas insistiu que o programa não é sobre 'serviço aos fãs'.
“Não acredito que se possa fazer um filme ou uma série para os fãs. Acho que se pode fazê-lo como um fã", resumiu.
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