A Netflix não conseguiu descartar uma ação por difamação movida pela mulher que afirma ter inspirado a personagem perseguidora da série “Baby Reindeer”, grande sucesso da plataforma e vencedora dos prémios Emmy.
O serviço de streaming pediu a um juiz que desconsiderasse a ação apresentada por Fiona Harvey, que se identificou como a verdadeira "Martha Scott", a mulher abusiva, violenta e delirante em torno da qual gira o fenómeno escrito por Richard Gadd.
A minissérie, que foi vista por milhões e ganhou seis prémios Emmy, diz no seu primeiro episódio tratar-se de "uma história real".
Os seus sete episódios seguem a história do comediante Donny Dunn, uma versão ficcionalizada de Gadd, que conhece uma mulher no bar onde trabalhava enquanto tentava construir a sua carreira no entretenimento.
O encontro resulta em anos de tormenta para Dunn, que recebe milhares de e-mails, mensagens de texto e de voz de Martha, que também persegue a sua família e a sua parceira.
De acordo com a minissérie, Martha foi condenada por perseguir um advogado no passado e também assediou sexualmente Dunn.
A Netflix argumentou que os eventos retratados na série eram "essencialmente verdadeiros" e que os espectadores saberiam que não eram completamente factuais, pois se tratava de um drama.
Segundo o serviço, Harvey já foi investigada por assédio, tocou Gadd de forma sexual sem consentimento e empurrou-o.
No entanto, um juiz na Califórnia disse que havia desvios consideráveis entre a realidade e a ficção.
"Há grandes diferenças entre tocar de forma inadequada e assédio sexual, assim como entre empurrar e tentar furar os olhos de alguém", escreveu o juiz Gary Klausner, numa decisão publicada na sexta-feira. "Há grandes diferenças entre assediar e ser condenado por assédio num tribunal."
A decisão menciona um artigo no jornal britânico Sunday Times que cita fontes da indústria do entretenimento afirmando que Gadd estava preocupado com a Netflix apresentar a minissérie como "uma história real" em vez de "baseada numa história real".
O facto de que a Netflix prosseguiu dessa forma "sugere uma indiferença imprudente" em relação aos factos, escreveu Klausner.
"Ainda que as declarações tenham sido feitas numa série que tem amplamente os traços de uma comédia sarcástica, o primeiro episódio afirma inequivocamente que se trata de 'uma história real', convidando, assim, o público a aceitar as declarações como factos".
Com a decisão, o processo por difamação de Harvey na Califórnia pode seguir em frente. Porém, o juiz rejeitou as suas denúncias de negligência e negligência grave, assim como um pedido de danos punitivos.
"Temos a intenção de defender vigorosamente esta questão e proteger o direito de Richard Gadd de contar a sua história", reagiu a Netflix em comunicado à AFP.
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