Depois de duas temporadas que acompanharam a saga do clã Gemstone, Danny McBride e companhia continuam a mergulhar no caos moral da família televangelista do sul dos EUA.
Estreada esta segunda-feira, 19 de junho, na HBO Max, a terceira temporada de "The Righteous Gemstones" mantém o tom de sátira sem deixar de abraçar as personagens, mesmo que não obrigue o espectador a gostar particularmente de Eli Gemstone (John Goodman), dos seus três filhos - Jesse (McBride), Judy (Edi Patterson) e Kelvin (Adam DeVine) - e das figuras que marcam o seu quotidiano (as mais recentes são interpretadas por Steve Zahn, Stephen Dorff ou Lukas Haas, algumas das novidades do elenco).
"Acho que a série honra uma tradição americana que não tem grande espaço [na ficção televisiva]. A Igreja sempre teve muito poder e esta família é exemplo disso: da busca de poder, da necessidade de religião nas nossas vidas e da hipocrisia dos que misturam religião e capitalismo. Acho que essa é a questão central da série e surge alicerçada na dinâmica familiar. E qualquer um pode relacionar-se com essa dinâmica, sendo ou não religioso", conta Tim Baltz ao SAPO Mag, via Zoom.
"Para mim, é catártico. Acho que há muita catarse em vermos famílias disfuncionais. Ou fazes parte de uma, ou estás muito próximo de uma. E como esta série é muito divertida, permite muita catarse", confessa o ator que encarna Benjamin Jason "BJ" Barnes, o marido de Judy Gemstone.
"O mundo evangélico está muito presente nas nossas vidas. Não é preciso procurar muito para o encontrar", acrescenta. E assinala que "se olharmos para as notícias sobre esta realidade, vemos que a realidade é mais estranha do que a ficção. Todos os meses, há um caso que parece saído da série. Nesse sentido, a sátira é muito certeira".
Ídolo com pés de barro
Criador e argumentista da série, além de realizador de alguns episódios - ao lado de David Gordon Green e Jody Hill -, Danny McBride avança ao SAPO Mag que a sua personagem poderá ter um dos seus maiores desafios ao longo dos próximos nove capítulos.
"Acho que todas as temporadas dão oportunidade às personagens de mostrar lados que ainda não tínhamos visto. E o facto de o Jesse ser alguém privilegiado numa posição de poder sem que tenha feito nada por isso é uma questão-chave. Esses tipos são sempre vilões, mas tentámos mostrar como seria ter esse papel sem ter o respeito que ele implica", realça.
"O que é que o Jesse pode fazer para ser validado? Os nossos maiores críticos somos sempre nós mesmos. O Jesse pode enganar outras pessoas, mas no final do dia sabe muito bem quais são as suas capacidades", diz ainda o criador da série.
"Ser pai permitiu-lhe evoluir um pouco. Quer fazer o que está certo e ser bem-sucedido e liderar bem a sua igreja. Mas não tem as ferramentas para se sair bem nesse papel. E vai debater-se muito com isso esta temporada. Quer ser melhor do que o pai, mas como é que conseguirá isso?".
Ao lado de Jesse, na vida pessoal e profissional, está a sua mulher, Amber, que também vive um momento de viragem. "Acho que, tal como o Jesse, a Amber tem agora mais poder. Ele precisa de alguém que o ajude e ela pode fazer isso, tenta ser uma boa mulher. Mas também penso que ela quer mais poder e ser o rosto da igreja", salienta a atriz Cassidy Freeman.
"O desafio de formar um casal com o Jesse é não lhe dar um tiro todas as semanas. (risos) Há uma dinâmica de poder entre eles: poder na igreja, poder na sua relação. E isso é muito divertido de explorar enquanto atriz. Quando é que a Amber age e quando é que tem de se conter em nome da relação? É um equilíbrio constante".
Regressos ao passado (sem tirar os olhos do futuro)
Além da tensão do presente, "The Righteous Gemstones" continua a fazer viagens regulares ao passado dos seus protagonistas. "Do ponto de vista do argumentista, é muito entusiasmante porque podemos contar duas histórias de uma vez", assume McBride. "Em todas as temporadas, contamos uma história do passado e vemos as suas repercussões no futuro. Como velhas rivalidades têm eco no presente... Julgo que é interessante ver as personagens a envelhecer. Queremos que a série tenha um formato épico e cruzar vários períodos temporais contribui para isso", explica.
"Como é que esta família chegou aqui? De onde veio? Sempre que temos oportunidade, gostamos de continuar a mergulhar no seu passado. Mas também temos os olhos no futuro, em ver de que forma é que estes três irmãos vão liderar esta igreja. Na temporada anterior abordámos a competição entre eles, desta vez vamos ver como é que se conciliam. E como é que isso funciona? Como é que vão fazê-lo? Pareceu-nos uma boa forma de continuar esta história sem repetir situações que já tínhamos visto".
Walton Goggins, que interpreta Baby Billy Freeman, sublinha que "esta temporada, mais do que as anteriores, centra-se nos irmãos. Não estamos assim tão longe de 'Succession', no fundo. É uma versão diferente, mais exagerada, mas igualmente absurda. Há tão pouca empatia entre eles que aprendemos algo sobre nós próprios... e talvez passemos a ser mais empáticos com quem está à nossa volta".
O ator frisa, no entanto, que "o Danny adora estas pessoas. Não são estereótipos, não são unidimensionais. Ele preocupa-se com elas e nós também. Por isso, não troçamos delas. Em algumas alturas da minha vida, sou uma destas pessoas! E venho dessa parte da América. (...) Conheci muitos Baby Billies ao longo da vida, mas nunca imaginei interpretar um (risos)".
Comentários