Desde a sua morte em 1991, a sua residência, localizada no elegante distrito VII de Paris, atraiu inúmeros fãs que, ao longo dos anos, cobriram a fachada com etiquetas e pinturas.

No entanto, a casa sempre permaneceu fechada ao público.

Apenas a família e algumas celebridades, como o estilista Karl Lagerfeld ou o ator Jean-Paul Belmondo (vizinho de Gainsbourg), conseguiram entrar no interior deste quase museu em memória do mestre, que inspirou diversos artistas na França e no mundo.

A partir de 20 de setembro, os visitantes poderão ser guiados pela voz de sua filha, Charlotte Gainsbourg.

"Deixe-me abrir as portas da casa para si", diz a voz de Charlotte, também cantora e atriz, na entrada da casa, na rua de Verneuil.

Pontas de cigarro e chocolates

A casa esteve prestes a ser invadida várias vezes e chegou a sofrer uma tentativa de incêndio. No entanto, a família manteve o interior inalterado, como os cigarros Gitane que Gainsbourg consumia incessantemente e cujos resquícios ainda permanecem nos cinzeiros.

Também há chocolates que o artista costumava consumir, ainda envolvidos em plástico.

Na sala de estar, é possível contemplar o piano preto, da mesma cor das paredes e tectos, os discos de ouro e as fotografias das mulheres que acompanharam a vida de Serge Gainsbourg, como Brigitte Bardot e Jane Birkin.

"Após a sua morte, não quis mexer em nada. Imediatamente falei sobre abrir um museu porque ele tinha mencionado isso", confidenciou Charlotte na quarta-feira a alguns jornalistas, durante uma visita privada.

Mas depois ela teve dúvidas. "Houve momentos em que já não tinha confiança e não queria que ninguém entrasse", explicou.

Situado alguns números à frente, na mesma rua Verneuil, um museu de Gainsbourg também abrirá portas e permitirá expor objectos que, por falta de espaço, não eram visíveis na casa. Gainsbourg acumulou uma grande quantidade de bugigangas ao longo de sua vida.

Esperam-se cerca de 100 mil visitantes por ano.

Serge Gainsbourg (1928-1991) iniciou a sua carreira nos primórdios dos anos 1960, primeiro como cantor falsamente comportado, com músicas como "Le Poinçonneur des Lilas", bem penteado e de gravata.

Depois, o artista deixou o cabelo crescer e juntou-se aos rebeldes da década, que culminaram nos eventos do Maio de 68.

O cantor tornou um ícone da contestação "à francesa". Em 1979, lançou um tema reggae baseado em "La Marselhesa" que causou polémica.