A carreira de Marisa Liz, de 40 anos, é feita de bandas – Popline, Onda Choc, Dona Maria, bandas de bares e Amor Electro. Ao longo de todo esse tempo numa sentiu “necessidade de ter um disco a solo”, a ideia surgiu apenas depois de os Amor Electro terem decidido fazer uma pausa, no final de 2021, contou em entrevista à Lusa.
“Depois de começar a fazer este disco [que é editado na sexta-feira], percebi que precisava mais disto do que o que eu achava”, partilhou.
No primeiro álbum em nome próprio, que acaba por não ser bem a solo, porque “aqui também há um conjunto de pessoas a trabalhar por um objetivo, mas não é uma banda”, Marisa Liz colocou os seus “Girassóis e Tempestades”. “Sentimentos que tenho opostos e quis transformar em música”, disse.
A cantora associa os girassóis a um lado mais esperançoso, alegre, de gargalhadas, de ir com tudo, de acreditar na Humanidade, em si própria e de que é possível ser-se feliz.
“Mas depois também tenho as minhas tempestades, como toda a gente. A dor vem, o sofrimento vem, às vezes só apetece estar sozinho, onde há uma tristeza em relação a tudo o que se passa e quase perdes a força nas pernas e pensas ‘será que isto vale a pena?’. E logo a seguir vem um girassol novamente, que me diz ‘vai Marisa, não tenhas medo, vale a pena, vamos embora’”.
A transformação destes sentimentos opostos fez-se “não só nas letras, como na produção de cada canção”. “Há canções em que a produção toda parece de um girassol, mas a letra é uma tempestade. O disco entre ele é muito diferente, são mesmo girassóis e tempestades, e dentro dos girassóis há vários, dentro das tempestades há várias. E fiz este disco com a perspetiva de como se fazia discos antigamente, de haver uma história, de contar parte daquilo que eu sou e daquilo que nós somos enquanto seres humanos, mas isso só as pessoas podem dizer se se identificam ou não depois de ouvir”, explicou.
Em “Girassóis e Tempestades” há “muita coisa pessoal”, mas Marisa Liz escusa-se a adiantar muito: “Aquilo que a música tem de mais mágico é não explicares muito, para quem a ouve poder ter a sua própria história”. “Acredito genuinamente que a música só é tua até passar para um disco. A partir do momento em que está neste disco já nada disto é meu. É nosso, para quem quiser ouvir”, afirmou.
Marisa Liz deu-se a conhecer a solo com “Guerra Nuclear”, um inédito de António Variações, que sentiu como “um presente”. “Não conseguiria imaginar primeira música melhor para iniciar esta minha viagem a solo, porque na verdade não fui a solo, fui com o maior deles todos. Uma das minhas maiores referências, não a nível musical, mas de Liberdade. Só nos últimos anos é que me apercebi que os artistas que mais admirei a minha vida toda foram aqueles que considerei, inconscientemente, os mais livres”, disse.
Entre esses artistas, além de António Variações, contam-se Elis Regina, Freddie Mercury, David Bowie e Chico César.
Este último, a cantora teve oportunidade de conhecer no Brasil, por intermédio do músico Paulinho Moska, onde esteve a compor o álbum.
“Pedi ao Moska que mo apresentasse, para podermos compor juntos. Jantámos juntos em São Paulo, começámos a falar e foi como se nos conhecêssemos há não sei quanto tempo”, recordou.
Nesse jantar, partilharam histórias de vida e Marisa contou a Chico César sobre uma viagem ao Butão, “uma das mais importantes” que fez, depois de se ter separado do marido e da morte do baixista Rui Rechena, um dos fundadores dos Amor Electro, em 2019.
“Tirei esse tempo para subir montanhas, ir ao ninho do tigre, e fazer tudo aquilo que ansiava fazer há anos, porque é o sítio onde te pões desconfortável, não tens ninguém ao teu lado a quem possas dizer ‘para onde vou? não me sinto bem.’. É conviveres com os teus girassóis, com as tuas tempestades, num sítio onde não conheces nada”, contou.
Essa experiência, “um dos momentos mais importantes” da vida de Marisa Liz, está descrita no tema “Silêncio”, com letra e música de Chico César e que conta com a participação do filho da cantora.
“A parte do ‘sssshhhhh’ é do meu filho, que fui eu que lhe pedi para gravar. E pedi porque que ele é o melhor do mundo a fazer ‘sssshhhhh’”, referiu.
Além do filho, Marisa Liz juntou ainda a “Girassóis e Tempestades” a filha, Beatriz, no tema “Contigo”.
“Eu não queria ter duetos neste disco, mas acabei por ter dois: com o Variações, um dueto ‘obrigado’ e com a minha filha, que é um girassol que está neste disco”, disse.
O álbum, composto por 12 canções, é produzido por Marisa Liz e Moullinex. “Eu queria muito ter uma parte eletrónica neste disco, porque gosto muito de música eletrónica. Surge a ‘Guerra Nuclear’ e decidimos começar por essa para ver como corria. Fazemos a ‘Guerra Nuclear’ e há uma liberdade dele e da minha parte, para pormos o melhor de nós, sem guerras de egos, só músicas, só cenas fixes”, contou.
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