“Limp Bizkit”, o estranho nome escolhido para a banda que marcou a música na viragem do século, foi a expressão mais ouvida na quarta-feira na normalmente pacata Vilar de Mouros, exatos 23 anos após a sua estreia em Portugal.
Lançadíssimos desde as Azenhas de Vilar de Mouros rumo ao recinto do festival, Tiago Lajas e Luís Loureiro dizem estar prontos para viver todos os dias do Vilar de Mouros, que já faz parte da agenda do grupo de amigos oriundos de Rio Tinto (concelho de Gondomar, distrito do Porto).
"Caímos na asneira de vir ontem [terça-feira], e um dia antes do tempo um gajo já queimou metade dos cartuchos", disse à Lusa Luís Loureiro.
Nas margens do rio Coura alguns veraneantes ainda se aventuravam em mergulhos no curso de água que uma semana antes recebe o festival Paredes de Coura, mas para estes amigos o certame vizinho é "demasiado alternativo".
"Hoje [quarta] essencialmente é Limp Bizkit, falo por mim porque é a banda da minha infância, e Xutos [& Pontapés]. Mas fosse o que fosse, nós estávamos cá", garantiu.
Os amigos seguiram pelo Caminho da Chousa rumo à histórica ponte Românica de Vilar de Mouros, mesmo ao lado da zona da entrada do festival, onde se formava uma fila.
Até à abertura de portas, que ocorreu cerca das 17:30, das várias pessoas abordadas pela Lusa para falar sobre a abertura do festival, o principal motivo elencado foi só um: Limp Bizkit.
Como a generalidade das pessoas ouvidas pela Lusa, João Ferreira e Cátia Branco vieram à procura "das coisas mais antigas e 'old school'" da banda de nu metal, e mal souberam que os Limp Bizkit estavam confirmados em Vilar de Mouros, esqueceram "logo" os cancelamentos de 2020, devido à pandemia de covid-19, e do ano passado, devido à saúde de Fred Durst.
Já a família composta por Júlio Moreira, Pedro Moreira e Anabela Oliveira não está de férias e viajou de Braga só na quarta-feira para ver Limp Bizkit - "e Xutos!", exclama Anabela -, mas confessou que o anúncio do cartaz do festival em junho lhes dificultou os planos.
"Acho que foi um bocado tardio, já. Fazerem o festival nestes dias, durante a semana, também é um bocado complicado, porque não estamos de férias, mas lá se ajeitou a situação", disse Júlio.
Com sotaque francês, Aurora Telbos respondeu um suave "Limp Bizkit" quando questionada sobre a razão principal para vir ao Alto Minho, mas assume que veio "expressamente para o festival", numa "decisão imediata" mal saiu o cartaz num sítio "que não conhecia, de todo".
Do outro lado da ponte, a afluência de público não era menor, especialmente para o acesso à cerveja - a clássica e a artesanal -, tanto que o quadro elétrico do lotadíssimo e sobreaquecido Café Central não aguentou.
"Normalmente sou eu e mais uma funcionária a trabalhar. Neste momento estamos para aí 15 pessoas a trabalhar, portanto já vê a diferença", afirmou Luísa Gomes, gerente do café.
No regresso da vila, depois de feita a entrada da maioria dos festivaleiros na fila, à entrada da icónica ponte de Vilar de Mouros, Tiago Lage, com boné à Fred Durst, copo de cerveja na mão e ‘t-shirt’ do portuense Barracuda - Clube de Roque, admitiu entusiasmadamente que é "um gajo dos noventas" e "do nu metal", mostrando a sua tatuagem dos Linkin Park, ao lado de uma do Pikachu.
Quanto aos Limp Bizkit, viu-os seis vezes: "Vi no Pavilhão Atlântico em 2002, depois Rock in Rio uma ou duas, vi-os duas vezes na Alemanha, uma na Croácia, e agora esta", elencou.
Com 35 anos, mas sentindo-se "com 24", Tiago Lage estimou que o campismo "fosse estar mais cheio", mas antecipou melhorias ao longo dos dias, até porque "a malta do nu metal não desilude", apesar de já não serem "putos".
Antes do início do festival, Diogo Marques, da organização do Vilar de Mouros, disse que "desde 2016 que não se via a arrancada que se viu hoje [quarta], com as pessoas a quererem ser os primeiros a estar na frente de palco".
"Os Limp Bizkit trazem isso, trazem muito o fã que é muito fã", que poderá ver a banda exatos 23 anos depois da primeira atuação em Portugal, em 23 de agosto de 2000, no festival do Ermal, em Vieira do Minho (distrito de Braga)
Segundo Diogo Marques, a própria banda assinalou essa data: "eles já falaram sobre isso, recordam esse dia", sendo "engraçado" que depois da turbulência dos cancelamentos, num dia extra face ao habitual em Vilar de Mouros, se celebre o 23.º aniversário.
Questionado sobre o anúncio tardio do cartaz, Diogo Marques disse que o festival está "com muito mais vendas do que em edições anteriores", pelo que isso "em nada dificultou a bilheteira".
O festival abriu com Micomaníacos e The Last Internationale, e prossegue na quinta-feira com Enter Shikari, Limp Bizkit e Xutos & Pontapés.
Até sábado, sobem ao palco de Caminha nomes como The Prodigy, Pendulum, Within Temptation, Apocalyptica, James, Ornatos Violeta, Guano Apes e Peaches.
O primeiro festival de música do país, que ainda hoje goza da fama do “Woodstock à portuguesa”, aconteceu em 1971 em Vilar de Mouros, tendo sofrido um interregno de oito anos, entre 2006 e 2014.
A 1.ª edição, em 1971, lançada pelo médico António Barge, contou com a presença, entre outros, de Elton John e Manfred Mann.
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