Em declarações à agência Lusa, Peu Madureira frisou que esta espera para editar o seu primeiro álbum não foi por fatores externos, mas sim “por causa de um amadurecimento” que quis “sofrer”.
“A espera levou-me muito a amadurecer as escolhas. Houve coisas que foram aparecendo, e fiz uma pesquisa grande dos poetas portugueses, ver o que se tinha cantado, o que eu podia cantar, ver que poemas é que me diziam alguma coisa, depois [o produtor] Diogo Clemente foi-me sugerindo outras letras e fui construindo o CD”, disse.
“Participei no Festival RTP da Canção de 2018, e logo a seguir tinha grande vontade de gravar, mas quis sofrer um amadurecimento antes de gravar um álbum”, disse.
Licenciado em História, pela Universidade Nova de Lisboa, Peu Madureira, de 36 anos, trabalha no ramo das antiguidades e não se apresenta como fadista profissional.
Relativamente ao seu interesse pelo fado, citou Luís Camões, e afirmou-se “amador de cousa amada”. Para o intérprete, ser profissional “tira aquela magia do fado”.
“Eu sou amador do fado, canto há muitos anos, porque gosto de cantar. A primeira vez que cantei num programa de televisão foi em 2006. Tenho uma vida profissional, estou ligado ao mundo das antiguidades, que eu adoro. Sou amador, sobretudo porque quando fazemos uma coisa que amamos muito, é porque amamos muito aquela coisa e profissionalizá-la, às vezes, tira a magia do fado”, disse.
Filho de uma professora de História, Peu Madureira afirmou que para si “o passado sempre teve imensa importância”, justificando assim a palavra “saudade” em tantos dos fados que gravou, nomeadamente o tema com que abre o álbum, um inédito de Alberto Janes, intitulado “Quadras Soltas”, que gravou no fado tradicional Alfacinha, de Jaime Santos.
Alberto Janes (1909-1971) é o autor de fados criados por Amália Rodrigues, como “Foi Deus”, “As rosas do meu caminho” e “Fadista Louco”, entre outros. Este inédito foi parar às mãos de Peu Madureira por intermédio do produtor do álbum, o músico Diogo Clemente, a quem os familiares de Janes entregaram o original.
O músico disse que fez uma pesquisa sobre a música portuguesa das últimas três décadas do século passado.
O disco inclui poemas de Tiago Torres da Silva, Ricardo Anastácio, Manuel Alegre, Daniel Filipe, Diogo Clemente ou Daniel Faria, de quem gravou “O que Dói”, a partir do poema “Ítaca”, musicado por Júlio Resende.
Sobre a escolha do poema de Daniel Faria (1971-1999), o fadista afirmou que se deve à sua vida religiosa: “Sou uma pessoa de fé, e quando encontrei o Daniel Faria foi um encontro com um poeta sublime, parecia que dizia por palavras aquilo que tinha sido a minha busca durante tanto tempo”.
Ricardo Anastácio é o autor, letra e música, de dois temas do álbum, “Zé Carteiro” e “Maria, Minha Maria”, temas que “parecem terem uma melodia antiga, contam uma história do passado, de uma Lisboa que não é a de hoje”. “Isto é a minha cara, identifico-me perfeitamente com estes poemas e com estas melodias”, disse.
Outro autor escolhido é Luís Roquette, cujo tema “Esta Alegria” encerra o disco. Roquette, que o fadista qualificou como “um virtuoso” é um companheiro de Peu Madureira, com quem toca em diversas cerimónias religiosas.
O álbum conta com as participações dos músicos Júlio Resende (piano), Diogo Clemente (viola), Ângelo Freire (guitarra portuguesa), Marino de Freitas (viola baixo), Ana Pereira e Romeu Tristão (violinos), Joana Cipriano (viola d’arco) e Marco Pereira (violoncelo), um acompanhamento de “exceção”, escolhido por Diogo Clemente.
“Espera” chega às plataformas digitais na próxima terça-feira e sexta-feira em formato físico.
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