Nascida em Oliveira de Azeméis, no distrito do Aveiro, a fadista disse à agência Lusa que o espetáculo “surge um pouco antes da saída do álbum de estreia”, e vai “celebrar” os cerca de 15 anos de carreira, fazendo “uma homenagem” a algumas das suas referências fadistas, como Maria José da Guia, Teresa Tarouca, Maria da Fé, Fernanda Maria, Beatriz da Conceição e Amália Rodrigues, e cantando autores como David Mourão-Ferreira, Florbela Espanca e Mário de Sá-Carneiro.
“A minha ideia [no concerto} é celebrar e fazer um balanço destes fados que canto há tantos anos - alguns fados acompanham-me desde a infância, outros são fruto das minhas grandes referências -, e juntar fados do meu repertório, que fui construindo, com poemas que recolhi, de autores que me ofereceram letras para cantar, como Tiago Torres da Silva, Francisco Guimarães ou João Monge” que será o autor, em exclusivo, do seu disco de estreia.
De João Monge, no Centro Cultural de Belém (CCB), Ana Margarida vai interpretar “Rosa Brava”, na melodia tradicional do Fado Senhora do Monte, de Alfredo Marceneiro.
Profissionalmente, Ana Margarida estreou-se no Porto e canta “há cerca de 15 anos". Em 2008, recebeu o Prémio Revelação da Gala de Fados, realizada no Teatro Sá da Bandeira. Mudou-se para Lisboa em 2012 e, desde então, fez parte do elenco de algumas das casas de fado como A Severa, Adega Machado, Senhor Vinho, Parreirinha de Alfama, Maria da Mouraria e Fado ao Carmo.
A fadista realçou que há “um antes” desta carreira profissional, afirmando gostar de fado pelo ambiente familiar onde a mãe, admiradora de Teresa Tarouca (1942-2018), e a irmã cantavam fado.
“Todos os meses, com o guitarrista Jorge Onofre, fazíamos uns serões em casa, e ficava deliciada a ouvir a minha mãe e a minha irmã cantarem”, disse.
Ana Margarida afirmou que a sua “paixão” pelo fado se revelou no ambiente doméstico, fora dos circuitos dos seus amigos que não gostavam de fado. “Mas eu não queria saber, pois eu gostava”.
“Naquele tempo, na escola, os meus colegas não gostavam nada de fado e, inicialmente, o fado não era uma coisa que fosse escondida, mas que vivíamos em casa”.
A atual dinamização fadista “é extraordinária”, disse Ana Margarida. “Parece que houve um corte com a tradição, mas acho que começámos a ver que se estavam a perder as raízes, e acho que há um regresso à raiz”, argumentou a intérprete, acrescentando: “É extraordinário que cada vez mais os jovens queiram conhecer a sua cultura, e que não tenham vergonha dela. Acho uma pena quando um povo tem vergonha da sua cultura”.
Ana Margarida salientou à Lusa a “necessidade natural” de uma evolução fadista.
“O fado ao longo do tempo vai-se moldando, é uma arte urbana, por isso, se nós conseguirmos ir fazendo a ponte entre a tradição e o presente, acho que o futuro só poderá ser bonito”, defendeu.
No palco do CCB, Ana Margarida, que conta com alguns “convidados surpresa”, vai ser acompanhada pelos músicos Ricardo Parreira, na guitarra portuguesa, Bernardo Saldanha, na viola, e Francisco Gaspar, na viola baixo.
Do alinhamento, a fadista adiantou que vai interpretar um tema novo, com poema de Francisco Guimarães, “Vem Dançar”, numa melodia ao estilo popular das modas da Beira - terra de sua mãe -, composta por Manuel Ferreira.
Ana Margarida cantará também poema de Mário de Sá-Carneiro, “Quase”, para o qual escolheu o fado “Janelas Enfeitadas”, de Casimiro Ramos. A este juntará ainda “Contradição”, de Florbela Espanca, na música do Fado Isabel, de Fontes Rocha, e “Outra Noite”, de Tiago Torres da Silva, na melodia do Fado Cravo, de Alfredo Marceneiro.
Do repertório das suas referências, Ana Margarida vai cantar “Saudade, Silêncio e Sombra” (Nuno Lorena/Fado Primavera, de Pedro Rodrigues), criação de Teresa Tarouca, “É Mentira” (Jorge Rosa / João Vasconcelos), de Maria da Fé, “Gosto de Ti” (Maria Lavínia/Fado Dois Tons, de Alberto Costa), de Fernanda Maria, “Quem anda por atalhos” (Artur Ribeiro/ Fado Súplica, de Armando Machado) e “Fui ao Baile” (Amadeu do Vale/Fernando Carvalho), criações de Maria José da Guia.
De Beatriz da Conceição, cantará “Veio a Saudade” (António Campos/Jorge Barradas) e, de Amália, “Rasga o Passado” (Álvaro Duarte Simões) e “Espelho Quebrado” (David Mourão-Ferreira/Alain Oulman).
Para o poeta Francisco Guimarães, autor do inédito a revelar no concerto, “há na história da voz de Ana Margarida uma confusão com a sua própria biografia": "Fadista invulgarmente talentosa, carrega em si uma estrada percorrida com todas as gerações, todos os géneros musicais e um mundo inteiro de música e poesia”.
O concerto de Ana Margarida, no CCB, tem início às 21h00 da próxima quinta-feira, dia 19.
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