O rapper brasileiro Emicida partilhou a dor que sentiu ao receber a notícia da morte de Sara Tavares, recordando que a voz da cantora o abraçou “em momentos muito difíceis da vida”.
“Foi assim que me converti em seu fã, no dia em que fomos juntos para nosso concerto eu mal consegui me alimentar de nervosismo, tremia e tudo, afinal iria subir ao palco com a mestra! Que sonho!”, escreveu o músico.
Emicida lembrou que quando conheceu pessoalmente a cantora portuguesa, de ascendência cabo-verdiana, esta já estava na “batalha tão difícil, dura e injusta”, que começou em 2009 com o diagnóstico de um tumor cerebral.
“Me impressionava ver como mesmo diante de um desafio imenso, você se mantinha mais imensa ainda e radiante! Eu voltei e fui fazer meus sons para que eles brilhassem como a sua aura, ‘AmarElo’ [álbum que o ‘rapper’ editou em 2019] bebeu daí também. Muita luz. Um imenso sol cabo-verdiano!”, escreveu.
Sara Tavares é convidada no tema “Afrodite” do projeto Língua Franca, que junta Emicida, o brasileiro Rael e os portugueses Capicua e Valete.
Capicua recordou que Sara Tavares, que era “doce e assertiva, na mesma proporção, sem que a sua firmeza comprometesse a inabalável candura”, tinha “um compromisso com a música e a sua voz podia soltar bandos de mil pássaros”.
“Soube sempre que estar na sua presença era uma bênção. Poder partilhar com ela o palco e misturar as nossas canções (a meias ou em grupo, cá ou no México, num grande festival ou na intimidade de uma sala antiga) foi sempre a mesma experiência profunda”, partilhou.
O cantor angolano Paulo Flores, que participa no tema “Flutuar”, de Sara Tavares, recordou a sua “mana manazinha, mana tão querida”, um “ser de luz”.
“As palavras serão sempre poucas para te dizer tudo o que fizeste por todos nós. Tua humanidade, tua delicadeza e doçura, teu talento que nos alimentou e tornou todos mais inteiros e com mais capacidade para dar e receber amor”, escreveu.
A cantora angolana Aline Frazão, “diante da notícia insuportável” da morte de Sara Tavares, agradeceu-lhe pelas canções, banda sonora da sua vida, mas também “pelos abraços, pela amizade desde o primeiro momento”.
Já Selma Uamusse, também amiga de Sara Tavares, lembrou que a “música, compositora, cantora, pessoa” deu a todos “um mundo indescritível de emoções, legado e ensinamentos”. “Que privilegiados somos por termos vivido no seu tempo e por para tantos fãs, amigos e colegas ser Casa, ser ponto de Luz”, escreveu.
Dino D’Santiago partilhou um vídeo, no qual ele e Sara Tavares cantam juntos, com ela à guitarra.
Carlão, que gravou “Krioula” com Sara Tavares, e Branko, responsável por uma remistura de “Ter peito e espaço”, partilharam fotografias nas quais surgem com a cantora. A legendar as imagens o primeiro escreveu “Que dor. Mana. Rainha. Descansa, agora” e o segundo “Eterna Sara”.
O músico e escritor angolano Kalaf Epalanga deixou uma imagem com o nome “Sara” e um coração partido.
Sara Tavares, que nasceu em Lisboa em 1978, deu-se a conhecer ainda adolescente nos anos 1990 no concurso televisivo de talentos “Chuva de Estrelas”, da SIC, a interpretar um tema de Whitney Houston.
A apresentadora do programa, Catarina Furtado, foi das primeiras a reagir à morte da artista, referindo-se a ela como uma pessoa “tão única” e “tão completa”, com quem tem as melhores memórias.
Catarina Furtado instou a que se ouça Sara Tavares, “a sua música, as suas palavras, a sua doçura”.
O escritor Bruno Vieira Amaral partilha que Sara Tavares lhe deu “o exemplo de um caminho, o caminho que vai do eu ao eu, um caminho de inteireza, de descoberta do que se é”.
“Do Pragal da avó branca a Cabo Verde dos antepassados e das raízes, a Sara fez um caminho bonito de descoberta. Encontrou a voz. Encontrou-se. E isso é muito. [...] O caminho foi interrompido e é sempre uma merda quando a vida é cortada assim. Mas que se foda. Alguma coisa ficou. O exemplo de uma mulher inteira. Um pontinho de luz. Oxalá outras Saras bebam dessa luz”, escreveu.
Sara Tavares foi também recordada pela Câmara Municipal de Almada, a associação União Audiovisual e a Sociedade Portuguesa de Autores, entre muitos outros.
Ao longo da carreira, Sara Tavares foi publicando álbuns de originais que fizeram pontes dentro da música lusófona.
“Balancê” (2005) valeu-lhe um disco de platina e uma nomeação como Artista Revelação aos prémios BBC Radio 3 World Music, e “Fitxadu” (2017) garantiu-lhe uma nomeação para os Grammy Latinos.
Ao longo do último ano, Sara Tavares tinha vindo a divulgar alguns temas novos, ao fim de cinco anos de silêncio. O mais recente tema, intitulado “Kurtidu”, saiu em setembro passado pela Sony Music.
Do percurso de Sara Tavares também faz parte uma participação, em 1994, no Festival Eurovisão da Canção com o tema “Chamar a Música”, de Rosa Lobato de Faria e João Oliveira, com qual obteve o oitavo lugar para Portugal.
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