A vigésima edição do festival de cinema Queer Lisboa, o único festival nacional com temática gay, lésbica, bissexual, transgénero e transexual, traz uma retrospetiva sobre o realizador britânico Derek Jarman (1942-1994), a primeira alguma vez feita em Portugal.
Em declarações à agência Lusa, o diretor do festival, João Ferreira, explicou que o vigésimo aniversário do evento é a “altura perfeita” para apresentar um projeto que vem sendo desenvolvido há algum tempo.
“[Derek Jarman] é um dos grandes cineastas europeus do cinema 'queer', mas os seus filmes acabam por não ser muito divulgados. Há três ou quatro títulos que circulam, mas ele tem uma filmografia vastíssima”, adiantou João Ferreira.
Numa colaboração com James Mackay, produtor de alguns dos filmes de Derek Jorman, e com o Instituto Britânico de Cinema, vai ser apresentada uma retrospetiva “muito grande” do cinema deste realizador, a decorrer na Cinemateca Portuguesa.
“Essa é a grande aposta, ainda para mais porque Derek Jarman foi dos realizadores que teve logo especial atenção nas primeiras edições do festival, em 1997, 1998 e 1999, quando passaram alguns filmes dele”, apontou.
João Ferreira adiantou que agora vão ser exibidos muitos filmes inéditos, que foram descobertos recentemente e restaurados, bem como cópias que andavam perdidas.
“Em Portugal é a primeira [grande homenagem]. Têm-se feito algumas mostras a nível europeu, mas não me parece que com esta dimensão e especialmente dedicada às curtas-metragens e com alguns filmes que vão ser vistos pela primeira vez”, frisou.
Deu como exemplo o primeiro filme do realizador, "Orange Juice", de 1971, “que esteve desaparecido durante muitíssimos anos e foi descoberto há pouquíssimo tempo”, que vai ser visto publicamente pela terceira vez.
João Ferreira admitiu ter expectativas elevadas relativamente à recetividade do público a esta mostra de filmes, afirmando ter a certeza de que os filmes de Jarman cruzam não só o público fiel do Festival Queer, como o público da Cinemateca ou “qualquer público cinéfilo”.
“É talvez a retrospetiva mais abrangente, em termos de público, que nós fizemos até hoje”, sublinhou.
Relativamente ao facto de o festival estar a comemorar os seus 20 anos, o diretor do Queer referiu que este é o festival de cinema mais antigo da cidade de Lisboa, que foi “inevitavelmente” sofrendo alterações ao longo dos anos.
Alterações que foram sendo feitas à medida dos financiamentos, mas também consoante os ditames do mercado, no qual foram surgindo outros festivais, o que obrigou a que o Queer Lisboa adaptasse a sua programação, procurando encontrar sempre novas formas de cativar o interesse do público.
“Obviamente que o cinema 'queer' também mudou muito nestes últimos 20 anos. Passou de um cinema mais marginal e de nicho, para uma realidade em que há grandes títulos comerciais de cinema 'queer'”, apontou João Ferreira.
O diretor do festival disse, com toda a certeza, que o segredo da longevidade do Festival Queer está na sua capacidade de adaptação e em estar permanentemente atento àquilo que as pessoas procuram, aos desejos dos espetadores e às novas gerações que foram aparecendo.
O Queer Lisboa decorre de 16 a 24 de setembro, com a exibição de 114 filmes, em sessões repartidas pelo Cinema São Jorge e Cinemateca Portuguesa.
Dos 27 países presentes, o Reino Unido é o mais representado, com 44 filmes, graças à retrospetiva dedicada a Derek Jarman.
Os EUA são o segundo país mais representado, com 12 filmes, seguindo-se Portugal, com 11 filmes, presentes sobretudo na Competição de Curtas-Metragens e na Competição In My Shorts.
A noite de abertura vai ficar marcada pela estreia nacional do filme “Absolutely Fabulous: The Movie”, que traz a adaptação ao cinema da mítica série britânica com a dupla de personagens Eddy e Patsy, interpretadas, respetivamente, pelas atrizes Jennifer Saunders e Joanna Lumley.
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