Não sei se o sempre informado leitor concorda connosco. Mas parece que o terror está a mudar cada vez mais. Muda de qualidade, muda de tempo e, essencialmente, muda de espaço. É verdade: grande susto que o cinema de terror nos deu esta década foi a incapacidade gritante de... assustar.
Volvidos que estão 10 anos desde que o mundo não acabou, furtamo-nos a qualquer discussão filosófica de monta sobre se é por estes dias que se comemora a primeira década do séc. XXI ou se não. Por nós, é-nos igual. Já que cedemos à tentação, avançamos com esta visão sobre o género mais defendido por este vosso Caligari.
Acto I: O Modo
O modo de ver cinema de terror deveria ser o mesmo modo de assistir a qualquer filme: na sala de cinema. Mas, verdade seja feita, assistimos nesta altura a uma evolução drástica na maneira de ser assustado. Nos dias de hoje, aportuguesamos palavras diversas como torrent, download, iso ou mininova (paz à sua alma cibernética). Isto porque a quantidade brutal de filmes descarregados (e que abusamos de forma vil deste lado) operou algumas reformas nos últimos dez anos.
Em primeiro lugar, surgiu uma nova vaga de cinéfilos, filhos da globalização, que descarregam sem dó nem piedade os filmes da internet, assistindo-os no seu laptop ou na televisão. Claro que isto se aplica para todos os géneros cinematográficos. Mas a principal diferença é a possibilidade de ter acesso a cinematografias inóspitas, e que muito contribuem para o parco terror de qualidade que tem sido produzido. Claro está que o susto é diferente (até porque é pacífico reconhecer que o filme de terror encerra em si uma carga sociológica que está dependente da interação humana na sua observação) – ninguém duvida que assistir a
«Actividade Paranormal» (2009) na sala provoca outras sensações, do que num recurso home vídeo não se consegue.
Por outro lado, e aqui neste nosso Portugal que é um argumento de terror natural, atentamos a evoluções no modo de ver o género. Se por um lado o Fantasporto continua, com o seu nicho de horror bem marcado, o qual festeja trinta anos este 2010, impossível seria não louvar o aparecimento do MOTELx, um festival de cinema de terror que invade o Cinema S. Jorge, em Lisboa, desde 2007. A década está desde já marcada pelo nascimento deste certame, que coloca a capital no mapa das exibições, e que estica o país na possibilidade de ver cinema de terror numa sala. É desde já óbvio que estamos perante um festival muito conseguido, e que contribui para o crescimento de adeptos do terror neste rectângulo de incultos.
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