O Festival de Cannes chegou a meio e a imprensa destaca já alguns filmes que poderiam levar o prémio máximo, a Palma de Ouro, embora ainda não exista um favorito claro.
"Shoplifters", do japonês Hirokazu Kore-Eda, um complicado drama familiar, arrancou os aplausos do público na sua apresentação à imprensa esta segunda-feira. "Simplesmente belo", disse Xan Brooks, do britânico The Observer. "O melhor Kore-Eda em anos", destacou David Ehrlich, do IndieWire.
Entre os filmes que sobressaem está também "Cold War", do polaco Pawel Pawlikowski. O autor do vencedor do Oscar "Ida" voltou a utilizar o preto e branco nesta história de amor impossível com a Guerra Fria de fundo. Um romance contado "com beleza, profundidade, sentimento, sutileza, romantismo e dureza", segundo o crítico do El País, Carlos Boyero.
O chinês "Ash is purest white" também se destaca entre as apostas. Este poderoso retrato de uma mulher apaixonada por um gangster, numa China abandonada, "é um grande fresco histórico" com "um impressionante trabalho de imagem", segundo o crítico francês Philippe Rouyer, da Positif.
"Leto", do russo Kirill Serebrennikov, e "Three Faces", do iraniano Jafar Panahi, ambos ausentes do festival por não poderem sair de seus países por questões políticas, também estão entre os filmes mais cotados. "Selvagem, vertiginoso e com frequência desconcertante", disse a Variety sobre o filme, que conta a vida da estrela de rock soviética Viktor Tsoi.
Para o jornal francês Le Monde, o filme sobre três atrizes iranianas é uma obra de "minimalismo virtuoso".
Por outro lado, a lenda do cinema francês Jean-Luc Godard, de 87 anos, na competição com "Le livre d'image" e ausente do festival, chamou a atenção sobretudo pela estranha conferência de imprensa que deu, através do ecrã de um telemóvel. No entanto, a crítica deu uma boa pontuação ao filme, uma sucessão de imagens que evocam principalmente o mundo árabe e a guerra.
O regresso de Spike Lee
Enquanto Godard esteve sete vezes na competição oficial, 10 realizadores concorrem à Palma de Ouro este ano pela primeira vez, algo invulgar numa competição que costuma ser criticada por selecionar sempre os mesmos cineastas.
Até o anúncio do prémio, no sábado, ainda serão exibidos os filmes de vários pesos pesados da Sétima Arte.
Um deles, o realizador americano Spike Lee, apresentou esta segunda-feira "Blackkklansman", baseado na história real de um polícia afro-americano infiltrado no Ku Klux Klan.
Com este filme, recebido como um dos seus melhores, o cineasta, conhecido pelo seu ativismo em nome da comunidade afro-americana, volta à competição, 27 anos depois de "A Febre da Selva".
Já o italiano Matteo Garrone é um dos assíduos do festival. Desta vez apresenta "Dogman", sobre um criador de cães que torturou e assassinou em 1988 um ex-pugilista que se tornou líder de uma gangue.
Dos 21 filmes na disputa, só três foram dirigidos por mulheres: a francesa Eva Husson, com "Les Filles du Soleil" [As Filhas do Sol], sobre um batalhão de combatentes curdas, que foi apresentado no sábado e também bem recebido, a italiana Alice Rohrwacher e a libanesa Nadine Labaki.
Este ano o Festival, o primeiro depois do escândalo envolvendo o produtor Harvey Weinstein, tem uma ênfase feminista.
Nomeou um júri de maioria feminina, presidido por Cate Blanchett, e no último sábado, quase uma centena de mulheres que trabalham na indústria do cinema, lideradas por estrelas como a própria atriz australiana, Marion Cotillard e Salma Hayek, exigiram na passadeira vermelha "igualdade salarial" entre homens e mulheres, num protesto histórico.
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