Em "Thor: Amor e Trovão", vamos reencontrar Thor numa jornada diferente – a procura pela paz interior após os intensos acontecimentos vistos em "Vingadores: Endgame" (2019). Até que a reforma é interrompida por Gorr, o Carniceiro dos Deuses, um assassino galáctico que procura a extinção de todos os deuses. Para combater a ameaça, Thor pede a ajuda da ‘Rei Valkiria’, Korg e da ex-namorada Jane Foster como a Poderosa Thor, que – para sua surpresa – empunha inexplicavelmente o seu martelo mágico, Mjolnir.

Com estreia nos cinemas portugueses marcada para esta semana, Chris Hemsworth torna-se o primeiro ator a ter quatro filmes como protagonista no Universo Cinematográfico Marvel. Uma longevidade a que não é alheia a entrada de Taika Waititi para realizador o terceiro capítulo, "Thor: Ragnarok" (2017), a quem Chris Hemsworth dá crédito pela revitalização e evolução da personagem, e mesmo da sua própria experiência a interpretá-la.

"Ele trouxe à tona a qualidade imatura, jovem e adolescente que eu incorporo. E o mesmo acontece agora com Thor, o que não era o caso nos filmes originais ["Thor", de 2011, e "Thor: O Mundo das Trevas", de 2013], o que foi emocionante, novo e refrescante. E isso sempre foi tipo a Estrela do Norte, divertirmo-nos. Incorporar este espaço como uma criança faria e desfrutar de tudo isto e ser envolvido na maravilha e no fascínio de tudo isto. E não ficarmos atolados na parte natural séria, como podemos ficar, quando fazemos filmes. Pessoalmente, com este tipo de filmes, tem de ser divertido, e foi isso que fizemos", descreveu durante a conferência de imprensa virtual em que o SAPO Mag participou.

Kevin Feige, presidente da Marvel, não tem dúvidas sobre ao que reagem os espectadores quando estão a ver Thor e como isso justificou a longevidade inédita da personagem com "Thor: Amor e Trovão".

"Acho que eles respondem ao Chris Hemsworth e a tudo o que ele consegue fazer. E sem dúvida que o Taika trouxe outra dimensão que sempre existiu dentro do Chris. [...] É uma questão de timing. E Taika dizia 'O que vocês estão a fazer com ele, tipo, só a segurar num martelo com raios? Vamos fazer isso e aproveitar tudo o que o Chris pode fazer'. Portanto, acho que o público responde a isso. E durante muito tempo, dissemos: 'Bem, ele é um deus nórdico. Como podemos torná-lo relacionável?' E gastámos tanto tempo, acho eu, a garantir que o público se ligasse a ele, que agora eles estão tanto com ele que sim, poderíamos ir para a parte quatro", explicou.

Perante esta resposta, Taika Waititi não resiste a uma nota irónica: "Pois, o Chris... quando se conhece o Chris, é muito difícil descobrir como torná-lo relacionável. E isso foi o grande desafio, ele... [risos] Tornei-me amigo do Chris e acho que é o tipo de pessoa com quem gostaria de estar numa aventura, apenas pela sua personalidade, energia e quem ele é. E alguém em que se pode confiar para lá estar a proteger-nos. Como um herói da vida real. E só queria aproveitar essas qualidades que ele tem e de certa forma, realmente tornar o Thor mais como o Chris".

Um regresso inesperado

Nove anos após "Thor: O Mundo das Trevas", Natalie Portman regressa e não apenas como doutora Jane Foster, a ex-namorada do Deus do Trovão, mas também a Poderosa Thor.

A transformação foi conquistada à custa de muito treino físico, mas também pelo impacto do guarda-roupa: "Depois de ver o Chris a usar o fato durante tantos anos e depois experimentar essa versão e encaixar braceletes e botas e tudo, foi bastante surreal da primeira vez. [...] Fiquei especialmente grata à imaginação de todos por escolherem uma atriz de um metro e sessenta para o papel de alguém de um metro e oitenta. [...] Provavelmente não é algo que terei a oportunidade de fazer, de ser imaginada por qualquer outro grupo. Portanto, foi um grande desafio e... a Tessa [Thompson] e o Chris obviamente tinham muita experiência nesse mundo, portanto consegui aprender muito com eles", esclareceu.

A atriz também diz que a sua visão do que é um super-herói mudou ao longo dos anos graças a esta oportunidade, "em primeiro lugar com uma forma tão incrível de explorar uma super-heroína que podia ser bastante vulnerável e fraca e encontrar força nisso, e ser mais como um humano com quem me conseguia identificar pessoalmente".

"E também acho que isso me deu um respeito renovado pelo que Chris tem feito durante mais de uma década, o que a Tessa tem feito, porque vejo a quantidade de trabalho que é preciso. Acho que não tinha noção quando era apenas tipo a garota no primeiro [filme]. Não vi tudo o que aconteceu nos bastidores. Agora que me envolvi em toda a coreografia e treino e o resto, isto é o triplo do trabalho que estava a fazer naquela altura", acrescentou.

Christian Bale, um vilão que não se esquece

De Cavaleiro das Trevas em três clássicos do cinema a assassino galáctico, Christian Bale tem uma teoria sobre o convite da Marvel.

"Estavam a falar sobre o que é que todos viam no Chris. No caso do Gorr, procuram um ator no polo oposto. Alguém não relacionável, algo solitário, assustador, alguém de quem ninguém quer estar perto e ver por perto. E portanto, acho que disseram, 'Sim, encontrámos isso no Bale'".

Se excluirmos o papel do antigo vice-presidente dos EUA Dick Cheney em "Vice", de 2018, Gorr, o Carniceiro dos Deuses, é um raro papel de vilão na carreira de Bale: não acontecia há mais de 20 anos, desde os tempos de "Shaft" (2000) e... "American Psycho" (2000).

"Existe um grande prazer em interpretar um vilão. É muito mais fácil interpretar um vilão do que interpretar um herói. O Chris tem um trabalho muito mais duro. Toda a gente se fascina com os maus, tipo imediatamente. E depois, a beleza disso é que o Taika pode tornar isso hilariante e depois também bastante comovente nesta história. E não sei se é demasiado exagerado dizer simpatia, mas certamente que, de certa forma, se percebe talvez a razão para este tipo estar a tomar decisões horríveis", explica.

Para mais uma impressionante transformação, o ator dá crédito à equipa que todos os dias o caracterizava, primeiro durante quatro horas e depois três horas e meia.

"Sem dúvida que são tão responsáveis pela forma de Gorr como eu. [...] Nunca se sabe exatamente o que se está a fazer com uma personagem como esta. Até vê-la completamente, está na nossa imaginação. Falámos sobre isso durante a quarentena e de uma forma abstrata. Mas depois colocou-se [a caracterização] e correu tudo bem. Este era um homem piedoso com tatuagens e cortou-as, portanto teria todas aquelas cicatrizes. E é nessa altura que começa a lidar com ele e a experimentar enquanto se filma. Descobre-se à medida que se avança", resume.

Chris Hemsworth é um dos que valoriza o impacto de Gorr.

"É o meu vilão preferido no Universo Cinematográfico Marvel. E adoro toda a gente com quem trabalhei, mas isto foi particularmente especial. E tem muito a ver como o que disse o Chris, existe lá essa qualidade empática, uma vulnerabilidade. Fica-se a pensar, 'oh, o que ele está a fazer é errado, mas percebo o tipo de desmotivação que está por detrás disso[...] Sim, ele fez um um trabalho incrível".

Uma "nova" personagem: Rei da Nova Asgard

Tessa Thompson tem uma personagem com uma personalidade diferente da que conhecemos em "Thor: Ragnarok" e "Vingadores: Endgame": ela agora é 'Rei Valkiria'.

"Algo que o Stan Lee falava imenso, seja um vilão ou herói, a coisa que os ligava ao seu poder, quer seja usado para o bem ou o mal, é o seu trauma. E portanto, quando encontramos a Valkyrie pela primeira vez, ela teve uma quantidade tremenda disso e estava a lidar com isso consumindo muito álcool. E eu e o Taika falámos muito sobre como se parece uma super-heroína. Em que ela tem este momento em que aparece e se pensa que vai ser arrasadora. E imediatamente tropeça. E foi realmente divertido representar ao mesmo tempo o espírito e o tipo de fisicalidade que é precisa para ser um herói, o que é uma perícia em si mesmo.

"O Chris é tremendo nisso. […] Não é uma coisa fácil de se fazer. E também permitir-lhe ser engraçada e algo pateta. […] Com este filme, também falámos sobre a ideia de alguém ter um emprego que realmente adora, mas em que também está meio descontente. Durante milhares de anos, ela era uma soldado profissional e agora encontra-se meio presa na burocracia. Portanto, está realmente a sentir falta de estar no campo de batalha e das suas irmãs de armas. Tem sido muito divertido ter isso outra vez, principalmente com a Natalie como a Poderosa Thor.

A atriz também recorda o entusiasmo de ver a nova história lidar com a emoção através de temas como o amor e as relações, “algo que o Taika tem sempre feito muito bem nos seus filmes”.

Muito desse equilíbrio entre drama e comédia, acrescenta o realizador, encontra-se na pós-produção.

“No estúdio tentamos e fazer o mais possível. E apenas a colher momentos e depois leva-se outra vez para a cozinha e tenta-se descobrir qual é mesmo o prato.Temos o plano de fazer um certo prato e pode sair muito diferente quando acabamos de o cozinhar. E muitas vezes testar o filme e ver ao que reagem os públicos, e às vezes temos que nos livrar de piadas ou de momentos, trata-se apenas de um ato de equilíbrio. É por isso que leva um ano a acabar estes filmes.

Mais histórias para contar?

Questionado sobre até onde é que a Marvel costuma planear de avanço, Kevin Feige nota que o estúdio normalmente olha para cinco a dez anos à frente.

Haverá aí mais mais futuro para Thor? Apesar do secretismo que sempre rodeia esse planeamento, o produtor dá uma resposta encorajadora e com fingida ironia: "Bem, há estas coisas chamadas bandas desenhadas... que têm muitas histórias nelas".

E continua mais a sério: "E é daí que vêm todas as nossas histórias. E a questão é 'Contaram todas as grandes histórias de Thor das bandas desenhadas e filmes?'. A resposta é não. Existem imensas. E sempre disse que o nosso interesse em fazer histórias adicionais é, de alguma forma, sobre continuar a personagem. É quase tudo sobre continuar a experiência com o ator […] Penso em todo o nosso elenco não apenas como as suas personagens individuais, mas como atores Marvel que podem crescer e evoluir e mudar dentro dessa personagem. E se olharmos para as bandas desenhadas como o nosso guia, existem muitas outras incarnações de Thor que ainda não vimos".

Quem parece estar disponível para continuar essa jornada como Thor é o próprio Chris Hemsworth, atualmente o Vingador há mais tempo no "ativo" no Universo Cinematográfico.

"Obviamente que existe uma familiaridade, os pontos óbvios, mas ele mudou tanto dramaticamente ao longo dos anos como eu mudei. E é isso que tem sido divertido, como a personagem evoluiu e eu tive opiniões diferentes, de certa forma fundi-me e cruzei caminhos e por aí adiante", reconhece.

"Acho que a história da origem não é a mais fácil, mas é a mais óbvia. E há um conjunto de regras e diretrizes que sinto que se têm de seguir e que funcionam, e é familiar e relacionável para as pessoas. Depois disso, o desafio é como recriar a personagem. O que é que se pode fazer diferente de cada vez? E isso tem sido o luxo de trabalhar com diferentes realizadores e atores, e todos eles fazem revelar algo muito diferente em nós", destaca.

"Como o Taika disse, sinto que a personagem provavelmente se tornou mais como eu com o passar dos anos, espero que de uma forma divertida", nota a rir.

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