Numa noite cheia de surpresas, com novatos e consagrados a arrebatarem o Globo de Ouro, "The Revenant - O Renascido" e "Perdido em Marte" foram os grandes vencedores, com "Mr. Robot" a brilhar e outro títulos quase desconhecidos na área da televisão a ganharem prémios. Ricky Gervais, claro, foi mordaz como apresentador, com os votantes a saírem bastante chamuscados.

Quem esperava que a 73ª cerimónia de entrega dos Globos de Ouro trouxesse a confirmação que faltava do que serão os grandes vencedores da noite dos Óscares pode ter saído defraudado. Os até agora favoritos e muito premiados "O Caso Spotlight", "Carol" e "A Queda de Wall Street" saíram da cerimónia de mãos a abanar e títulos até agora menos distinguidos como "The Revenant" ou mesmo "Steve Jobs" acabaram por ser os favoritos para os jornalistas da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, que vota nos troféus.

"The Revenant" foi efetivamente o grande vencedor da noite, com três dos principais troféus: Melhor Filme (Drama), Melhor Realizador (para Alejandro González Iñarritu, que o perdeu o ano passado por "Birdman" mas acabaria depois por ganhar o Óscar) e Leonardo DiCaprio, a vencer pela terceira vez, após "O Aviador" e "O Lobo de Wall Street", mas ainda à espera de conquistar a mais cobiçada estatueta dourada (será finalmente este ano?).

Na categoria de Comédia ou Musical, o grande vencedor foi "Perdido em Marte", a conquistar os troféus de Melhor Filme e Melhor Ator, para Matt Damon. O próprio realizador, Ridley Scott, não escondeu a sua surpresa ao receber o Globo pelo facto do seu thriller de ficção científica concorrer (e vencer) na área que não a do drama.

Na categoria de Drama, Brie Larson, de 26 anos, estreou-se na cerimónia e confirmou o favoritismo ao ganhar o Globo de Melhor Atriz por "Quarto", passando assim à frente da favorita Cate Blanchett, enquanto na área de Comédia ou Musical, Jennifer Lawrence arrebatou o terceiro Globo por "Joy", após triunfar com "Guia para um Final Feliz" e "Golpada Americana", todos os três do realizador David O. Russell.

Sylvester Stallone recebeu uma ovação de pé ao ganhar o troféu de Melhor Ator Secundário por "Creed", quatro décadas depois de ter sido nomeado por "Rocky", e não se esqueceu de agradecer ao seu "amigo imaginário" Rocky Balboa, a personagem que lhe valeu a distinção pelas duas vezes, por ser "o melhor amigo que alguma vez" teve.

Por seu lado, "Steve Jobs" foi um dos vencedores mais inesperados da noite, com Kate Winslet a conquistar o seu quarto Globo de Ouro (após "O Leitor", "Revolutionary Road" e a minissérie "Mildred Pierce"), agora de Melhor Atriz Secundária, e Aaron Sorkin a arrebatar o de Melhor Argumento. Ela confessou aos jornalistas a seguir que estava tão certa que ia perder que até tinha reservado uma massagem para o fim da cerimónia e ele sublinhou que achava que tinha tantas hipóteses de triunfar naquele troféu como no de Melhor Atriz de Comédia ou Musical.

Sem surpresa foi a vitória de "Divertida-mente" na categoria de Melhor Longa-Metragem de Animação e de "Filho de Saul" como Melhor Filme de Língua Estrangeira (pela Hungria), os dois títulos mais consensuais desta temporada de prémios, vencedores quase garantidos na noite dos Óscares.

Já nas categorias de televisão, os momentos inesperados foram ainda maiores que nas de cinema, com os vencedores mais habituais HBO e FX a serem ultrapassados pelos mais pequenos USA Network e Amazon. À primeira temporada, "Mr. Robot", do canal USA, bateu "Empire", "A Guerra dos Tronos", "Narcos" e "Outlander" como Melhor Série (Drama) valendo ainda a Christian Slater o Globo de Melhor Ator Secundário. Maior surpresa ainda gerou a vitória de "Mozart in the Jungle", produzida pela Amazon, como Melhor Comédia ou Musical, pela força da primeira temporada (a segunda foi disponibilizada apenas a 30 de dezembro último) e que valeu ainda a Gael García Bernal o troféu de Melhor Ator no papel de um maestro inspirado em Gustavo Dudamel. Neste último caso a vitória foi tão inesperada que até estragou um gag de outro dos nomeados, Aziz Ansari, que mostrou que estava a ler o livro "Como Perder com Dignidade para Jeffrey Tambor", tão seguro ele estava que o ator voltaria a ganhar pelo seu papel na série "Transparent".

Nas restantes categorias, os troféus foram completamente divididos: Jon Hamm ganhou o seu segundo Globo de Ouro de Melhor Ator (Drama) pela última temporada de "Mad Men", Taraji P. Henson estreou-se na cerimónia ao vencer como Melhor Atriz (Drama) com "Empire", a praticamente desconhecida Rachel Bloom arrebatou o troféu de Melhor Atriz (Comédia ou Musical) por "Crazy Ex-Girlfriend", "Wolf Hall" venceu o Globo para Melhor Minissérie ou Telefilme, e Oscar Isaac confirmou que é a estrela do momento, não só por ser um dos protagonistas de "Star Wars: O Despertar da Força" como por ganhar o Globo de Melhor Ator pela minissérie "Show Me a Hero". Uma das grandes surpresas da noite foi a vitória de Lady Gaga como Melhor Atriz pela Minissérie "American Horror Story: Hotel", no seu primeiro trabalho de fundo fora da área da música, o que a levou a dizer que se sentia como Cher quando ganhou o Óscar de Melhor Atriz por "O Feitiço da Lua".

Ricky Gervais apresentou a cerimónia dos Globos de Ouro pela quarta vez e quem estava à espera que o seu humor ácido e certeiro voltasse a ser violento para com Hollywood e as estrelas presentes, não saiu desapontado. Mais uma vez o humorista disparou em todas as direções, desde a mudança de sexo de Caytlin Jenner à entrevista de Sean Penn ao barão da droga mexicano Joaquin "El Chapo" Guzman, o que o levou a dizer logo no arranque "vou fazer este monólogo e logo a seguir vou esconder-me. Nem o o Sean Penn me vai conseguir encontrar".

Mais inesperado foi o ataque à Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, que organiza os Globos de Ouro e é composta por cerca de uma centena de jornalistas que trabalham na área do audiovisual para orgãos de comunicação de todo o mundo: Gervais ironizou que os prémios eram atribuídos por "jornalistas velhos e confusos" que só querem tirar "selfies" com as estrelas, e Denzel Washington, ao receber o prémio de carreira Cecil B. DeMille, recordou que, há cerca de 25 anos, lhe tinham dito que ganharia um Globo caso fosse a um evento da Associação, desse autógrafos e tirasse fotografias com os votantes, e efectivamente ganhou, por "Tempo de Glória".

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