O ativista interpretado por Jim Caviezel em "Sound of Freedom" foi acusado de má conduta sexual.
Tim Ballard fundou em 2013 a "Operation Underground Railroad", uma organização de combate ao tráfico sexual infantil, e é representado como um herói no sucesso de bilheteira que apanhou Hollywood de surpresa este verão.
Mas numa investigação publicada pelo Vice na segunda-feira, sete mulheres acusam-no de coerção durante as missões secretas no estrangeiro para resgatar crianças dos traficantes das redes de exploração sexual.
Segundo as alegações, o ativista, casado e com nove filhos, pressionava as mulheres a partilharem a cama com ele ou tomarem banho juntos para convencer os traficantes que eram casados.
Ballard também terá enviado a uma mulher uma fotografia onde aparece apenas em roupa interior e com tatuagens falsas. A uma outra terá perguntado "até onde ela estava disposta a ir” para salvar crianças.
Numa rara repreensão pública, a Igreja Mórmon a que Ballard pertence emitiu ainda durante o fim de semana um comunicado em que o acusava de abusar da confiança do seu presidente para benefícios pessoais e "atividades vistas como moralmente inaceitáveis", sem especificar.
Sem entrar em detalhes, o ativista, que a imprensa garante ter a ambição de se candidatar ao Senado dos EUA pelo Partido Republicano, disse à Vice que se trata de uma conspiração contra ele e questionou se foi mesmo a Igreja a emitir o comunicado: "Não é verdade, nada do que ouviram é verdade. Algo maligno está a acontecer. Ainda não sei o quê".
Numa declaração à revista, a própria "Operation Underground Railroad" anunciou que Ballard renunciou a 22 de junho [duas semanas antes da estreia do filme] e "se separou permanentemente", acrescentando que a organização "se dedica a combater o abuso sexual e não tolera o assédio sexual ou a discriminação por parte de qualquer pessoa".
Uma firma independente de advogados também foi contratada para "investigar detalhadamente todas as alegações relevantes".
Sem estreia anunciada para Portugal nos cinemas, "Sound of Freedom", realizado por Alejandro Gómez Monteverde, arrecadou mais de 174 milhões de dólares nas salas de cinema da América do Norte, mais do que "Indiana Jones e o Marcador do Destino" (172,9) e "Missão Impossível -Ajuste de contas: Parte 1" (160,8).
Jim Caviezel, que ganhou fama como o protagonista de "A Paixão de Cristo" em 2004, interpreta o ex-agente especial de Segurança Nacional como um herói que resgata crianças das guerras de criminosos colombianos que operam uma rede de exploração.
O filme gerou uma nova guerra cultural nos EUA, tornando-se uma causa notável para figuras da direita norte-americana, desde o intelectual canadiano Jordan Peterson ao comentador político e locutor Ben Shapiro, passando pelo ex-presidente Donald Trump.
Os conservadores fizeram rasgados elogios por se dirigir a um setor trabalhador americano que, segundo eles, tem sido ignorado pelas elites de Hollywood.
Por sua vez, os liberais classificam-no como uma ferramenta de recrutamento da extrema direita, que promove as teorias da conspiração do movimento QAnon sobre uma seita de pedófilos de Hollywood e um Partido Democrata que, alegadamente, sequestra crianças e extrai o seu sangue.
Originalmente programado para ser produzido pela 20th Century Fox, o acordo foi cancelado quando a Disney comprou o estúdio em 2019, abrindo o caminho para que a Angel Studios passasse a ser a responsável.
As críticas a "Sound of Freedom", coprotagonizada pela vencedora de um Óscar Mira Sorvino, colocam em lados opostos os meios de entretenimento tradicionais e o público cinematográfico.
No 'site' agregador de críticas Rotten Tommatoes, as audiências concedem-lhe uma pontuação quase perfeita de 99%, enquanto a crítica especializada fica pelos 60%.
Nos meios de renome, como a Variety, The New York Times e The Guardian, as reações críticas foram maioritariamente negativas, com o filme a ser classificado como "parecido com o QAnon" ou simplesmente irritante.
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