Sophia Loren festeja 90 anos esta sexta-feira.
Segundo a imprensa italiana, recuperada de uma operação com sucesso a 24 de setembro do ano passado a uma fratura de anca, após uma queda na casa onde reside em Genebra, Suíça, a atriz e lenda do cinema soprará as suas 90 velas durante uma festa privada organizada num hotel de luxo do centro histórico de Roma.
Após uma homenagem organizada num cinema pelos estúdios Cinecittà e pelo Ministério da Cultura, a atriz reunir-se-á com cerca de 150 amigos, colegas e familiares para um jantar na esplanada do hotel, onde inaugurará também uma suite com o seu nome, segundo o jornal Il Corriere della Sera.
Para a ocasião, estará vestida pelo seu grande amigo Giorgio Armani.
Nas suas edições de hoje, os principais jornais de Itália relembraram a extraordinária carreira da morena de olhos amendoados, que teve como parceiros em Hollywood os maiores atores da época.
Também a estação pública RAI planeou várias reexibições dos seus filmes, incluindo sexta-feira à noite com uma versão restaurada de "Matrimónio à Italiana" com Marcello Mastroianni, que por si só combina vários aniversários: o 60º aniversário do filme, lançado em 1964, o centenário do nascimento de Mastroianni (26 de setembro de 1924) e o 50.º aniversário da morte do seu realizador Vittorio De Sica (1974).
Loren sobreviveu a todos e a longevidade estendeu-se pela carreira, que entrou na oitava década graças ao popular e elogiado "Uma Vida à sua Frente", o filme da Netflix lançado em novembro de 2020 onde era dirigida pelo filho Edoardo Ponti.
Hoje em dia, a lenda do cinema italiano é presença rara nos eventos da Sétima Arte, mas após um papel fugaz no musical "Nove", de Rob Marshall (2009), regressou em grande como Rosa, uma sobrevivente do Holocausto que fazia amizade com Momo, um menino senegalês de 12 anos. Dispensou glamour e emoções gratuitas para uma interpretação que a colocou nas listas de potenciais nomeadas para os Óscares, recordando o talento a antigas e novas gerações, e venceu o prémio equivalente italiano de Melhor Atriz, o David di Donatello.
"Ainda me são enviados muitos guiões, mas nenhum me interpelou como 'Uma Vida à sua Frente'. Foi por isso que não trabalhei durante quase dez anos", confessava numa entrevista ao New York Times há quatro anos sobre aquele que é, à data, o seu último filme.
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Antes de contracenar com o jovem Ibrahima Gueye, teve como parceiros no ecrã lendas como Marlon Brando, Cary Grant, Marlon Brando, Clark Gable, Frank Sinatra, Charlton Heston, Gregory Peck, Anthony Quinn, Paul Newman, David Niven, Alec Guinness e, claro, Mastroianni, num percurso que começou nos anos 1950 e foi distinguido com mais de meia centena de prémios, incluindo o Óscar de Melhor Actriz por "Duas Mulheres" (1960), a primeira vez que a Academia distinguiu uma interpretação num idioma que não era o inglês, e um Óscar Honorário em 1991, quando foi declarada "um dos maiores tesouros do mundo".
"Nunca me perdi de mim mesma, sempre resisti, lutei [...] na minha família tive uma vida muito dura, não tive pai [...], lutei muito. E acredito que Deus, digamos assim, me ajudou muito. Sempre fiz as coisas bem, da melhor maneira possível, como uma menina que vai à escola e que tem que fazer bem suas tarefas. E pouco a pouco me tornei, como dizem, alguém", confessava a diva do cinema italiano em 2015 durante uma homenagem no festival Lumière, em Lyon.
Sophia Loren nasceu como Sofia Scicolone, em Roma, a 20 de setembro de 1934. Filha bastarda, os primeiros anos foram de pobreza pelas ruas em Pozzuoli, perto de Nápoles, agravados pela Segunda Guerra Mundial.
Uma das finalistas do concurso de beleza Miss Itália 1950 e eleita Miss Elegância, começou a despertar a atenção dos cineastas. Seguiram-se aulas de representação e as primeiras presenças no cinema, registadas como Sofia Scicolone ou Sofia Lazzaro, ou mesmo como figurante sem crédito, como no épico religioso americano (filmado nos estúdios Cinecittà) "Quo Vadis" (1951).
Determinante, em termos profissionais e pessoais, foi o produtor Carlo Ponti, que lhe mudou o nome e descreveu como "o homem da minha vida, aquele que realmente me compreendeu, me acompanhou": conheceram-se em 1950, quando ela tinha 15 anos e ele 37.
Casaram em 1957, mas como Ponti ainda era oficialmente ligado à primeira mulher de acordo com a lei italiana, que não reconhecia os divórcios, foram obrigados a anular o casamento em 1962 para não enfrentar acusações de bigamia. Só em 1966, em França, foi possível oficializar a relação, que durou até à morte de Ponti em 2007, aos 94 anos.
O nome "Sophia Loren" começou com os filmes lançados em 1953 e a sua grande oportunidade surgiu no ano seguinte, quando foi escolhida por Vittorio De Sica para protagonizar um dos segmentos do filme "O Ouro de Nápoles": foi o primeiro de 14 filmes com o realizador.
Em 1955, com "Que Pena Seres Vigarista!" (1955), foi reunida com outro homem determinante, Marcello Mastroianni: fizeram 14 filmes juntos.
"Era como se fosse da família. Quando ele morreu, foi-se embora uma boa parte de mim mesma", resumiu na homenagem em Lyon de 2015 sobre o companheiro falecido em 1996.
O primeiro filme em língua inglesa foi "Orgulho e Paixão" em 1957, partilhando o ecrã com Frank Sinatra e Cary Grant, que se apaixonou perdidamente por ela, facto confirmado com o lançamento de um livro de memórias em 2015, «Ontem, Hoje e Amanhã - Minha Vida» (tradução livre), título que alude a um dos seus filmes mais importantes, uma antologia realizada por De Sica em 1963 na qual interpretava três papéis diferentes.
Seguiram-se outros filmes, de qualidade variável, mas foi quando deixou cair a capa de beleza e glamour, com "Duas Mulheres" (1961), que foi levada a sério: ganhou o Óscar de Melhor Atriz, a primeira vez que isso aconteceu com um filme não falado em inglês.
É um dos seus filmes preferidos, juntamente com "Um Dia Inesquecível" (1977), de Ettore Scola: em ambos incarnava a mulher do povo, nua e crua, ecoando a sua infância napolitana.
Antes de optar por dedicar mais tempo à família a partir de meados dos anos 1970, continuou a mostrar o seu talento tanto para drama como comédia em grandes produções americanas e filmes europeus, como "El Cid - O Campeador" (1961), "Boccacio 70" (1962), "Boccacio 70 (1962), "Ontem, Hoje e Amanhã" (1963), "A Queda do Império Romano" (1964), "Matrimónio à Italiana" (1964), "Lady L" (1965), "Arabesco" (1966), "A Condessa de Hong Kong" (1967), "O Último Adeus" (1970) e "O Homem de La Mancha" (1972).
Mantendo fora dos ecrãs a aura de glamour que se associa às grandes estrelas, Sophia Loren manifestou-se contra a cultura da "selfie" na homenagem em Lyon.
"No meu tempo, o mérito e perícia de uma atriz baseavam-se no seu talento. Agora, quando as pessoas me encontram, tiram o telemóvel para tirar fotografias. Não sei muito sobre redes sociais, mas parece isso é o que faz as pessoas mais famosas. Na minha era de Hollywood era muito melhor. Era-se conhecido pelas suas capacidades e perícia. Tive muita sorte por fazer parte desse tempo", desabafou em 2015.
Em 2014, pelos 80 anos, publicou a sua autobiografia, intitulada "Ontem, Hoje e Amanhã".
SOPHIA LOREN: OS FILMES OBRIGATÓRIOS
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