“Sobreviventes”, que chegou a intitular-se “Náufragos” é uma ideia de José Barahona, com argumento coescrito com José Eduardo Agualusa, que remete também para o livro “Nação Crioula”, do autor angolano, e para a personagem fictícia Fradique Mendes.
O filme, rodado em 2022 na costa portuguesa, conta com interpretações, entre outros, de Anabela Moreira, Zia Soares, Ângelo Torres e Miguel Damião.
“É um olhar sobre a escravatura. É uma história dos sobreviventes do naufrágio de um navio negreiro em meados do século XIX numa altura em que o tráfico está a acabar”, contou o realizador à agência Lusa.
Entre brancos e negros, os náufragos vão dar a uma ilha deserta, perdida no Atlântico, onde põem à prova valores morais e sociais por questões de sobrevivência.
“Vermos os portugueses tendo atitudes muito racistas e muito esclavagistas não é tão habitual no cinema português quanto isso”, considerou José Barahona, que antevê, nesta ficção, pontes com a história recente em Portugal e no Brasil.
Para José Barahona, falar de colonialismo, escravatura e do período designado “Descobrimentos” é falar de “uma questão complexa que está muito em cima da mesa hoje em dia”.
“Estamos a levantar esse véu de uma coisa que nós aqui [em Portugal] costumamos varrer para debaixo do tapete; esse crime enorme que os portugueses cometeram que foi o tráfico de escravos e que depois continuou depois da independência do Brasil. (…) As comunidades negras quer no Brasil quer em Portugal estão a querer que todos nós olhemos para esse período da história de outra maneira”, sublinhou o realizador.
O filme também remete para “a perspetiva dos angolanos”. “Há personagens fundamentais no filme que são angolanos escravizados que foram tirados de Angola e enviados para o Brasil”, disse.
“Sobreviventes”, que só deverá ter estreia comercial em Portugal em 2024, é uma produção da brasileira Refinaria Filmes e da portuguesa David & Golias.
José Barahona, que tem trabalhado em cinema em Portugal e no Brasil, é autor, entre outros, dos filmes "Nheengatu - A Língua da Amazónia" – que também aborda questões sobre colonialismo – e “Estive em Lisboa e lembrei de você”.
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