A caminho dos
Óscares 2024
A Fundação dos Sobreviventes do Holocausto nos EUA usou termos arrasadores na reação ao discurso do realizador de "A Zona de Interesse" ao ganhar o Óscar de Melhor Filme Internacional por "A Zona de Interesse".
"Devia ter vergonha de usar Auschwitz para criticar Israel”, escreveu o presidente da fundação, David Schaecter, numa carta aberta dirigida diretamente a Jonathan Glazer subscrita pelos 18 membros do comité executivo da fundação, obtida pelo The Wrap.
O filme, inspirado no romance homónimo do escritor britânico Martin Amis, aborda o Holocausto através da banalidade da vida quotidiana da família de Rudolf Höss, o comandante de Auschwitz durante a II Guerra Mundial, sem esconder os sons que vêm do campo de extermínio nazi, mesmo ao lado, uma categoria também premiada pelas estatuetas douradas.
No domingo à noite em Los Angeles, Glazer alertou para os riscos da desumanização, num discurso em que lembrou as vítimas da guerra entre Israel e o Hamas: "Todas as nossas escolhas foram feitas para refletir e confrontar-nos no presente. O nosso filme mostra até onde pode ir a desumanização no seu pior".
Glazer, que é judeu, acrescentou: "Neste momento, estamos aqui como homens que rejeitam que o seu Judaísmo e o Holocausto estejam a ser sequestrados por uma ocupação, que levou ao conflito para tantas pessoas inocentes - quer sejam as vítimas do 7 de outubro em Israel ou o ataque em curso em Gaza - todos os vítimas desta desumanização… como podemos resistir?”
O realizador dedicou o Óscar a Alexandria, uma mulher de 90 anos que tinha feito parte da resistência polaca à ocupação nazi, que conheceu durante as filmagens. Alexandria tinha 12 anos, quando aderiu à resistência. Glazer lembrou a sua coragem.
Mas David Schaecter, de 94 anos e o único sobrevivente numa família de 105 pessoas, escreve: “Assisti com angústia no domingo quando o ouvi a usar a plataforma da cerimónia dos Óscares para equiparar a brutalidade maníaca do Hamas contra israelitas inocentes com a difícil, mas necessária autodefesa de Israel perante a barbárie em curso".
“Fez um filme sobre o Holocausto e ganhou um Óscar. E você é judeu. Ainda bem para si. Mas é vergonhoso que presuma falar em nome de seis milhões de judeus, incluindo um milhão e meio de crianças, que foram assassinados apenas por causa da sua identidade judaica”, conclui.
Comentários