(Notícia atualizada como novo número de subscritores às 18h30 de 20 de março)
Uma carta aberta que critica o discurso do realizador Jonathan Glazer nos Óscares foi subscrita por mais de 450 profissionais de Hollywood. Dois dias depois, o número subiu para mais de mil.
Amy Pascal, Eli Roth, Jennifer Jason Leigh, Julianna Margulies, Michael Rapaport, Debra Messing, Brett Gelman, Lawrence Bender, Sherry Lansing e Rod Lurie fazem parte do grupo de atores, realizadores, produtores, executivos e outros profissionais da indústria que denunciam o controverso discurso feito ao aceitar o Óscar de Melhor Filme Internacional durante a cerimónia de 10 de março.
"Rejeitamos o facto de o nosso judaísmo ter sido sequestrado com o propósito de estabelecer uma equivalência moral entre um regime nazi que procurou exterminar uma raça de pessoas e uma nação israelita que procura evitar o seu próprio extermínio”, diz a carta, que pode ser lida na íntegra com os nomes dos subscritores na Variety.
No domingo à noite em Los Angeles, Glazer alertou para os riscos da desumanização, num discurso que tinha já escrito em que lembrou as vítimas da guerra entre Israel e o Hamas: "Todas as nossas escolhas foram feitas para refletir e confrontar-nos no presente. O nosso filme mostra até onde pode ir a desumanização no seu pior".
Glazer, que é judeu, acrescentou: "Neste momento, estamos aqui como homens que rejeitam que o seu Judaísmo e o Holocausto estejam a ser sequestrados por uma ocupação, que levou ao conflito para tantas pessoas inocentes - quer sejam as vítimas do 7 de outubro em Israel ou o ataque em curso em Gaza - todos os vítimas desta desumanização… como podemos resistir?”
Mas os subscritores da carta aberta defendem que "o uso de palavras como ‘ocupação’ para descrever um povo judeu indígena que defende uma pátria que remonta a milhares de anos e que foi reconhecida como um Estado pelas Nações Unidas, distorce a história".
E acrescentam: "Dá credibilidade ao moderno libelo de sangue que alimenta um crescente ódio anti judaico em todo o mundo, nos EUA e em Hollywood. O atual clima de crescente anti-semitismo apenas sublinha a necessidade do Estado Judeu de Israel, um lugar que sempre nos acolherá, como nenhum Estado o fez durante o Holocausto retratado no filme do senhor Glazer".
"A Zona de Interesse", inspirado no romance homónimo do escritor britânico Martin Amis, aborda o Holocausto através da banalidade da vida quotidiana da família de Rudolf Höss, o comandante de Auschwitz durante a II Guerra Mundial, sem esconder os sons que vêm do campo de extermínio nazi, mesmo ao lado, uma categoria também premiada pelas estatuetas douradas.
O discurso tem sido um dos elementos mais controversos no rescaldo da cerimónia, inclusive de pessoas ligadas ao filme: o financiador Danny Cohen revelou a sua discordância e o produtor Len Blavatnik, que estava no palco, partilhou uma declaração em que esclarecia que, apesar de Glazer falar em nome de todos, não conhecia o discurso 'a priori'.
A Fundação dos Sobreviventes do Holocausto nos EUA também usou termos arrasadores na reação.
"Devia ter vergonha de usar Auschwitz para criticar Israel”, escreveu o presidente da fundação, David Schaecter, numa carta aberta dirigida diretamente a Jonathan Glazer subscrita pelos 18 membros do comité executivo da fundação, obtida pelo The Wrap.
Schaecter, de 94 anos e o único sobrevivente numa família de 105 pessoas, escreveu: “Assisti com angústia no domingo quando o ouvi a usar a plataforma da cerimónia dos Óscares para equiparar a brutalidade maníaca do Hamas contra israelitas inocentes com a difícil, mas necessária autodefesa de Israel perante a barbárie em curso".
“Fez um filme sobre o Holocausto e ganhou um Óscar. E você é judeu. Ainda bem para si. Mas é vergonhoso que presuma falar em nome de seis milhões de judeus, incluindo um milhão e meio de crianças, que foram assassinados apenas por causa da sua identidade judaica”, concluía.
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