Disponível em Portugal desde 2016, a Filmin é uma plataforma de cinema que se distingue pelo cuidado e toque pessoal na apresentação em canais e coleções temáticas dos seus filmes, seja dos grandes estúdios de Hollywood ou do circuito independente e de autor, europeu, americano ou asiático.
A estreia em junho de "selftape", uma série original Filmin, é o pretexto para reunir títulos da sua vasta biblioteca que são retratos, entre a comédia e o drama, de uma geração entre a adolescência e a idade adulta de sociedades diferentes que, afinal, tem muito mais em comum do que se poderia pensar...
selftape (2023)
Estreia este mês a terceira série original da Filmin, que traz de volta ao primeiro plano as irmãs Joana e Mireia Vilapuig. Pouco conhecidas em Portugal, elas foram as estrelas infantis de "Pulseras Rojas", uma das séries de maior sucesso em Espanha da Filmax, com duas temporadas entre 2012 e 2013. E o que se seguiu após este arranque fulgurante nas carreiras?
Em parte, esta é a proposta a descobrir ao longo de seis episódios de 30 minutos de "selftape" (assim mesmo, em minúscula), uma comédia dramática em registo de ficção que mantém os nomes e tem contornos indiscutivelmente autobiográficos, sobre duas jovens atrizes que conheceram a fama e o sucesso quando ainda eram crianças e agora têm de enfrentar um presente incerto num momento-chave das suas vidas e da sua relação como irmãs.
Anos mais tarde e na versão ficcional, Mireia triunfou como atriz em Oslo e regressa a Barcelona, onde é recebida de forma fria por Joana. Numa fase muito diferente das suas vidas, sem conseguirem comunicar ou fazer as pazes, tudo se complica quando é oferecido a Mireia um papel que era suposto ser para a irmã, o que vai trazer à tona segredos, mentiras e traumas do passado, forçando-as a repensar os vários aspetos das suas vidas e a própria relação.
Na realidade, Joana e Mireia Vilapuig, agora com 28 e 25 anos, perante a incerteza nas suas vidas e carreiras, um dilema comum à sua geração, partiram da sua experiência e meteram "mãos à obra", criando e estando entre as argumentistas de "selftape", produzida para a Filmim pela... Filmax. E noutra ligação ao passado ainda se encontra na ficha técnica como produtor executivo Pau Freixas, o criador de... "Pulseras rojas".
Farta de Mim Mesma (2022)
Dos mesmos produtores do nomeado aos Óscares "A Pior Pessoa do Mundo" (disponível na Filmin) e talvez a justificar uma sessão dupla temática, este filme estreado na secção Un Certain Regard do Festival de Cannes de 2022 revela a relação pouco saudável e competitiva de um casal de namorados, Signe e Thomas, e o que acontece quando ele, subitamente, tem sucesso enquanto artista contemporâneo e ela, inconformada, cria uma nova identidade para ser "vista" e recuperar o estatuto que ache ser seu de direito.
Revelação do promissor realizador e argumentista norueguês Kristoffer Borgli, a história carregada de humor negro decorre em Oslo mas foi escrita em Los Angeles, o ambiente ideal de ambição, oportunismo e narcisismo para servir de inspiração para esta "comédia pouco romântica", quando não mesmo uma sátira tresloucada cruel e trágica, sobre os extremos repulsivos que podem ser provocados pela vaidade dos egos na era das redes sociais da sociedade atual.
Girl Picture (2022)
Com muitos elogios aos diálogos brilhantes, engraçados, francos e refrescantes, e as interpretações do trio central, o filme de Alli Haapasalo cruza histórias de três jovens adultas num país marcado pela experiência do seu longo inverno noturno: em três sextas-feiras consecutivas, duas delas, as melhores amigas do mundo, experimentam o impacto do amor, mas a sua relação é completamente alterada pela chegada de outra, mais velha, à procura de outra coisa na vida.
Escolhido pela Finlândia para ser o seu representante aos Óscares na categoria de Melhor Filme Internacional, "Girl Picture" tornou-se uma das sensações da mais recente temporada de prémios, um percurso que começou no Festival de Sundance nos EUA, onde conquistou o influente Prémio do Público.
Autodefesa (2022)
Uma série original Filmin que gerou controvérsia em Espanha pelo "descaramento" das histórias entre a comédia e o drama de duas amigas de Barcelona na casa dos vinte e poucos anos, Berta e Belén, que se divertem sem ter de pedir autorização a ninguém, com os exageros que fazem parte da sua geração, marcada pelo stress e a falta de dinheiro, numa "autodefesa" contra a exigências de serem adultas quando ainda estão a tentar descobrir quem querem ser.
Há muito para refletir sobre os desafios que se colocam aos jovens adultos no mundo atual com as vidas aparentemente boémias e superficiais entre "festas, dramas, excessos, arrependimentos, atrevimentos, ressacas e alguma ansiedade" destas personagens.
Tal como em "selftape", os nomes coincidem com os das atrizes, que também não só as interpretam, mas criaram e escreveram as histórias da série, Berta Prieto e Belén Barenys (também conhecida como MEMÉ), em parceria com o músico Miguel Ángel Blanca, que realiza os dez episódios sem regras ou limites, entre os cinco e 24 minutos.
We Are Who We Are (2020)
Com "Eu Sou o Amor" (2010), o realizador italiano Luca Guadagnino lançou-se numa bem sucedida carreira internacional com experiências em vários géneros, com maiores aplausos e impacto mediático reservados para o relato 'coming of age' de "Chama-me Pelo Teu Nome" (2017), que lançou a carreira de Timothée Chalamet.
Num dos gandes acontecimentos de 2020, "We are who we Are" marcou a sua estreia na televisão como criador, realizador, argumentista e produtor executivo: uma série de oito episódios sobre a passagem à idade adulta de dois adolescentes americanos que, juntamente com os seus pais e exército, vivem numa base militar americana em Itália".
Com o apoio de Chloë Sevigny, Alice Braga, Spence Moore II e o 'rapper' Kid Cudi, além de outros jovens talentos, Jack Dylan Grazer expande o talento como ator para lá dos filmes"It" ou "Shazam!" com o papel de Fraser, um jovem introvertido de 14 anos, enquanto Jordan Kristine Seamon, com um percurso que alia representação e música, é a aparentemente confiante Caitlin: a partir da dinâmica da cumplicidade desta relação vão cruzar-se as histórias de amor, amizade, problemas da adolescência e crises de identidade, euforias e angústias, que fazem parte desta etapa única da vida.
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