O novo filme de Hayao Miyazaki chegará aos cinemas no Japão a 14 de julho sem qualquer trailer ou outro material de promoção, confirmaram os Estúdios Ghibli, de acordo com a revista The Hollywood Reporter (THR).
A convicção de que os espectadores realmente querem saber o menos possível sobre os filmes antes de entrarem numa sala de cinema explica a estratégia.
Ainda sem datas de lançamento fora do Japão, "Kimi-tachi wa Dō Ikiru ka", com o título internacional "How Do You Live?" ["Como é que você vive?", em tradução livre], é anunciado como o derradeiro trabalho do lendário cineasta de animação de 82 anos e o primeiro numa década, após "As Asas do Vento".
Antes da estreia nos cinemas não será divulgada qualquer sinopse oficial, anúncio do elenco de vozes, descrição sobre enredo ou personagens, trailer ou fotografias: resta o poster oficial, lançado em dezembro do ano passado.
"Como parte das operações da empresa, ao longo dos anos a Ghibli quis que as pessoas viessem ver os filmes que fizemos. Portanto, pensámos sobre isso e fizemos muitas coisas diferentes com esse objetivo, mas desta vez achámos 'Bem, não precisamos fazer isto'", disse numa entrevista à revista japonesa Bungei Shunji divulgada na sexta feira aquele que é considerado o braço-direito de Miyazaki, o produtor Toshio Suzuki.
"Fazer a mesma coisa que se fez antes, uma e outra vez, é cansativo. Portanto, quisemos fazer algo diferente", acrescentou.
Suzuki também assinalou a diferença dos Estúdios Ghibli em relação ao marketing de Hollywood: "Há um filme americano — quase disse o título em voz alta! — que chega este verão por volta da mesma altura. Fizeram três trailers e lançaram um de cada vez. Se se vir os três, fica-se a saber tudo o que vai acontecer nesse filme. Portanto, como é que os espectadores se sentem sobre isso? Deve haver pessoas que, depois de ver todos os trailers, não querem realmente ir ver o filme. Quis fazer o oposto disso".
O filme, destaca a THR, é o mais aguardado em vários anos cinemas japoneses e muito pouco se sabe sobre ele para além de que é vagamente inspirado pelo clássico da literatura japonesa de Yoshino Genzaburo sobre Honda Junichi, um estudante de liceu que tem uma vida tranquila e acaba a descobrir mais sobre a adolescência pelas cartas que troca com o seu tio. Ambos aprendem um com o outro, mas quando o jovem começa a achar a sua existência aborrecida, são as palavras do tio que o desafiam a fazer mais com a sua vida do que seria de esperar.
Em 2017, um dos responsáveis dos Estúdios Ghibli confirmou que o realizador encarava o seu filme de despedida como uma prenda para o neto.
O elogio que Miyazaki fez ao poster também pesou bastante na estratégia de (não) promoção.
"Tenho estado envolvido com os nossos filmes desde 'Nausicaä do Vale do Vento' [1984], mas esta foi a primeira vez que Hayao Miyazaki me elogiou genuinamente. ‘Suzuki-san, isto é incrível. Este é o melhor poster que você já fez'", recordou o produtor.
"Senti que era uma sugestão implícita, portanto decidi 'Vamos avançar só com este poster para o marketing'. Portanto, nada de trailers ou anúncios de TV de todo... e também nada de anúncios nos jornais. No fundo, acho que esse é o desejo latente dos espectadores", concluiu.
Miyazaki tem muitos fãs com as suas representações fantásticas da natureza e das máquinas, e personagens amados como a criatura espiritual Totoro.
Na sua longa carreira estão títulos como "Nausicaä do Vale do Vento", "O Castelo no Céu" (1986), "O Meu Vizinho Totoro" (1988), "Porco Rosso - O Porquinho Voador" (1992), "Princesa Mononoke" (1997), "A Viagem de Chihiro" (2001), "O Castelo Andante" (2004) e "As Asas do Vento" (2013).
É ainda autor de séries de televisão - como "Conan, o rapaz do futuro" - e manga (banda desenhada japonesa), como a série "Nausicaa".
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