Conhecido pelos papéis, quer no cinema, televisão e teatro, Ricardo Pereira foi homenageado durante a cerimónia de abertura da oitava edição do Festival Cinecôa, que decorre até domingo em Foz Côa,no distrito de Guarda.
Com a presença do Presidente da Câmara Gustavo de Sousa Duarte, do vereador da Cultura João Paulo Sousa e de Rui Pedro Tendinha, jornalista de cinema convidado para elaborar o texto do vídeo de apresentação, a sessão especial incluiu ainda um cine-concerto da banda The James Whale Orchestra, que reinventou a exibição do clássico “City Girl”, de F. W. Murnau (1930).
Em declarações ao SAPO Mag, o ator de “O Milagre de Salomé” e de “Viúva Rica Solteira Não Fica” assumiu-se como uma pessoa recatada, mas viciada em comunicação, que avançou que a homenagem lhe trará ainda mais “responsabilidade” e motivação para se aventurar por novos papéis e trazer um pouco mais de Portugal para o resto do Mundo.
“Continuar a minha trajetória como ator, que é a única profissão que poderia escolher, simplesmente a única profissão que amo”, reforçou.
Frisando que é uma pessoa jovem para este tipo de tributos, normalmente atribuídas a veteranos em fim de carreira, ainda que a sua já seja longa nos mais variados palcos e ecrãs, o ator considerou justa a condecoração, justificando que desenvolveu bastante cedo “o rigor, a disciplina e o trabalho” essenciais à profissão.
“Tive que aprender rápido as regras do cinema, do teatro e da televisão, porque os convites e as solicitações para trabalhar em papéis de muito destaque começaram a surgir desde cedo. Obviamente que esse rigor, essa disciplina e esse profissionalismo fizeram-me trabalhar com pessoas com mais idade, com muito mais experiência, que também me ensinaram, corrigiram-me e disciplinaram-me. Isso trouxe resultados e aquilo que fazemos no teatro e na televisão traz reconhecimento”, explica.
Apontado como uma espécie de “transatlântico” entre Portugal e Brasil, numa referência ao exaustivo trabalho na produção do outro lado do Atlântico, Ricardo Pereira menciona que, além das evidentes diferenças orçamentais, não sente incapacidade em lidar com a grande escala da indústria brasileira.
“Cada ‘lugar’ tem o seu jeito e a sua forma, os seus orçamentos e a sua metodologia do trabalho. Quando trabalhamos em Portugal devemos sempre relembrar a nossa escala enquanto país, temos que ter em conta a população que temos e a audiência que temos, e o mesmo no caso do Brasil", compara.
"Fazendo um paralelismo com o teatro, por vezes as melhores peças não são aquelas que têm o mais cenário grandioso e caríssimo, por vezes não é preciso ter nada, basta o ator no palco. O ator é o ator, é a sua essência, ele trabalhará bem em qualquer lugar”, garante.
Durante a cerimónia, recordaram-se alguns dos papéis marcantes no cinema, com especial enfoque nas colaborações com o chileno Raúl Ruiz (“Mistérios de Lisboa”), o polaco Andrzej Zulawski (“Cosmos”) e ainda ao lado de Nuno Lopes e Asia Argento no filme dirigido pela "madame" francesa Fanny Ardant (“Cadências Obstinadas”).
“Sou um estudioso, vejo muito o que os outros fazem […] A minha profissão tem que comunicar uma verdade que tem que parecer uma verdade”, resume.
Sobre novos projetos, Ricardo Pereira revela que trabalhará novamente com o realizador brasileiro Raphael Vieira na sua segunda longa-metragem, que será filmada no Porto, após ter feito “Dores de Amor” em 2013.
Enquanto isso, terminou as filmagens de “Aos Nossos Filhos”, de Maria de Medeiros, e a série da Globo “Éramos Seis”. Será também visto em “De Perto Ela Não é Normal”, da brasileira Cininha de Paula, a estrear para o próximo ano.
Haverá ainda o encontro com “meu poeta e realizador Vicente Alves de Ó” em “Golpe de Sol”, que descreve como um “filme muito especial, um processo teatral no cinema que me deixou marcas maravilhosas. Espero voltar a trabalhar com o Vicente e com o elenco”.
Fora do grande ecrã, Ricardo Pereira anuncia outra ambição: “ando à procura de um belo texto de teatro, para produzir para mim próprio”.
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