Hannah Gutierrez-Reed foi condenada esta segunda-feira a 18 meses de prisão, a pena máxima possível, após ser considerada culpada de homicídio involuntário pela morte da diretora de fotografia Halyna Hutchins durante a rodagem do western de baixo orçamento "Rust".
A juíza não encontrou atenuantes e concordou com os procuradores, que disseram que nunca assumiu a responsabilidade ou manifestou arrependimento.
"Era a armeira, a pessoa que ficava entre uma arma segura e uma arma que poderia matar alguém. Sozinha, transformou uma arma segura numa arma letal. Se não fosse por si, Hutchins estaria viva. Um marido teria a sua companheira e um menino pequeno teria a sua mãe", disse a juíza Mary Marlowe Sommer.
A leitura da sentença, a seguir à apresentação de depoimentos de familiares, amigos e colegas da vítima, ocorreu semanas após um julgamento de 10 dias onde se ouviu como a jovem de 26 anos foi a responsável pela presença de seis balas verdadeiras no set – em clara violação das práticas padrão da indústria cinematográfica.
Também se ouviu como ela repetidamente falhou em seguir as regras básicas de segurança, deixando armas sem vigilância e permitindo que atores – incluindo Baldwin – agitassem armas.
"Halyna Hutchins morreu devido a uma sequência de violações de segurança que começou quando Gutierrez introduziu munição real no set do filme, carregou uma numa pistola cenográfica e disse aos membros da equipa que era uma pistola fria", apontou a procuradora Kari Morrissey antes da sentença.
"Essa conduta, irresponsável e sem arrependimento, merece uma sentença de 18 meses", notou.
Morrissey disse à juíza que, desde a sua condenação, Gutierrez-Reed fez cerca de 200 chamadas da prisão, nas quais se queixava de ser vitimizada injustamente.
"Em vez de aceitar a responsabilidade, optou por culpar as testemunhas que depuseram contra ela, a mim, a si [a juíza], aos membros do júri, ao médico do set e aos paramédicos que tentaram salvar a vida de Hutchins", declarou Morrissey.
"Os seus telefonemas... dizem-nos quem é realmente Gutierrez", acrescentou.
A juíza concordou com a argumentação sobre os telefonemas, citando-a na sua sentença.
Antes, a armeira de "Rust" chorou, enquanto implorava que o tribunal a colocasse em liberdade condicional, em vez da prisão, mas insistiu em que não era totalmente culpada.
"Quando fiquei com a posição de 'Rust', era jovem e ingénua. Mas levei o meu trabalho tão a sério quanto soube executá-lo, apesar de não dispor do tempo, dos recursos e do pessoal adequados", afirmou.
"O júri considerou-me em parte culpada por esta terrível tragédia, mas isso não me transforma num monstro. Isto faz-me humana", acrescentou.
Tragédia terrível
A 21 de outubro de 2021, Hutchins foi atingida por uma bala disparada do revólver Colt .45 que Baldwin segurava para uma cena dentro de uma igreja de madeira no set do Novo México. O realizador Joel Souza foi ferido pela mesma bala.
Baldwin, que também era produtor do filme, enfrentará o seu próprio julgamento por homicídio involuntário em julho. Ele nega a acusação.
Se for condenado, também poderá receber 18 meses de prisão.
Dave Halls, coordenador de segurança e assistente de realização do filme, que entregou a arma carregada a Baldwin, concordou com um acordo judicial com os procuradores no ano passado e foi condenado a seis meses de liberdade condicional.
A tragédia causou ondas de choque em Hollywood e levou a apelos pela proibição total do uso de armas nos sets de rodagem.
Os membros da indústria, no entanto, insistiram que já existiam regras para evitar tais incidentes e que aqueles que trabalhavam em “Rust” não as tinham seguido.
"Roleta russa"
O julgamento de grande impacto do mês passado, acompanhado de perto pela comunicação social norte-americana e internacional, ouviu como Gutierrez agia frequentemente de forma indiferente no set.
A procuradora Kari Morrissey disse que não estava presente muitas vezes quando as cenas envolvendo armas de fogo eram filmadas e deixava-as sem supervisão.
Gutierrez permitiu-se ser apressada por Baldwin e misturou diferentes tipos de munição na bandeja de adereços, permitindo que cartuchos reais e balas falsas se misturassem livremente.
Foi uma bala genuína que ela colocou na arma de Baldwin enquanto o realizador Souza e Hutchins se preparavam para uma cena.
Hutchins, que tinha 42 anos na altura da sua morte e mãe de uma criança pequena, estava perto da câmara que seria usada para filmar a cena.
A bala passou pelo peito e também atingiu Souza.
Hutchins foi levada de avião para um hospital, mas foi declarada morta naquele dia, após um derrame de sangue intenso.
"Gente [Folks], se ela não está a verificar a munição falsa... para ter certeza de que essas balas... são de facto balas falsas, isso era um jogo de roleta russa sempre que um ator tinha uma arma", disse Morrissey durante o julgamento do mês passado.
Gutierrez, que não demonstrou emoção durante o julgamento de duas semanas, estava sob custódia desde o veredito, decidido por um júri após apenas três horas de deliberações.
As filmagens de "Rust" foram interrompidas pela tragédia, mas concluídas no ano passado em locais noutro Estado, Montana.
O viúvo da diretora de fotografia, Matthew Hutchins, já entrou em acordo com um processo de homicídio inovluntário com os produtores de “Rust” e tornou-se produtor executivo.
Nenhuma data de lançamento foi definida para o filme.
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