O realizador Joss Whedon deu a primeira entrevista após terem vindo a público em 2020 as histórias do seu alegado comportamento abusivo em relação aos atores Ray Fisher e Gal Gadot durante a rodagem de "Liga da Justiça" (2017)
Posteriormente, surgiram outras denúncias de atores e pessoas que trabalharam nas duas séries que criou, "Buffy, A Caçadora de Vampiros" e "Angel", que apresentaram um perturbador perfil misógino de quem fora aclamado como um "ícone do feminismo em Hollywood".
Segundo um perfil publicado esta segunda-feira pela New York Magazine, as alegações fizeram com que os amigos deixassem de lhe falar, perdesse tficasse sem emprego e nem sequer conseguisse escrever.
Descrito como "pálido e anguloso com olheiras sob os olhos", distante do homem com "bochechas rechonchudas" das últimas imagens públicas em 2019, o realizador diz que não pode continuar em silêncio perante o que interpreta como uma tentativa para o destruir e ao seu legado, mas também reconhece que tudo o que disser poderá ajudar as pessoas que têm esse objetivo: "Estou apavorado com cada palavra que sai da minha boca".
Joss Whedon desmente algumas das antigas e novas acusações com que é confrontado de comportamentos abusivos a nível profissional e pessoal envolvendo funcionários e antigas namoradas, mas também reconhece atitudes menos próprias e que poderia ter gerido outras situações de forma diferente.
Uma parte central do perfil envolve a problemática produção de "Liga da Justiça" após a saída de Zack Snyder por causa de uma tragédia pessoal.
Numa versão que é desmentida pelo estúdio, Whedon garante que a Warner Bros. lhe pediu para "consertar" o filme após ter perdido a confiança na visão de Snyder para o Universo Cinematográfico DC Comics e ele achou que podia "ajudar", uma decisão que descreve agora como um dos maiores arrependimentos da sua vida.
Existem vários detalhes na revista sobre a tensão que se instalou com a chegada do novo realizador e um estilo completamente diferente de trabalho: uma pessoa da equipa alega que Gal Gadot chegou a dizer a Whedon que ele não percebia como funcionavam os filmes de super-heróis (numa altura em que ele tinha realizado dois "Vingadores" para a Marvel) e este terá parado a rodagem para dizer aos atores que nunca tinha trabalhado com "um grupo de pessoas tão rudes".
Uma das maiores polémicas envolve o corte de muitas cenas com Cyborg, interpretado por Ray Fisher, que foi o primeiro em julho de 2020 a acusar o realizador de comportamento "grosseiro, abusivo, pouco profissional e completamente inaceitável" e de aclarar o seu tom de pele.
Whedon responde que deu um tom visual mais leve e colorido a todo o filme, em contraste com a paleta metálica da versão original de Zack Snyder (que se pode ver na sua versão de quatro horas disponível na HBO) e que a decisão de reduzir a presença de Cyborg se prendeu com a história "não ter qualquer lógica" e o mau trabalho como ator de Ray Fisher (esta posição é apoiada por outras fontes ouvidas pela jornalista da revista, que recordam que Cyborg era descrito "como a pior de todas as personagens" nas sessões de teste do filme com público).
O realizador garante que "passou horas a debater as alterações" de forma "amigável e respeitosa" com Fisher e perante as acusações graves que este lhe fez, mostra-se brutal na análise do seu trabalho à frente e atrás das câmaras: "Estamos a falar de uma força malévola. Estamos a falar de um mau ator em ambos os sentidos".
Em relações às declarações de Gal Gadot, que confirmou no ano passado à imprensa que Whedon a tinha "ameaçado" e dito que ia fazer tudo para tornar a sua carreira miserável, o realizador conclui que terá sido um mal entendido: "O inglês não é a sua primeira língua e costumo ser irritantemente floreado no meu discurso". A atriz israelita respondeu à revista de forma curta por email a esta versão: "Percebi perfeitamente".
No perfil destaca-se que alguns defensores de Whedon acham que Ray Fisher e Zack Snyder "fabricaram uma polémica" para desviar as atenções do "desastre" que era a sua primeira versão de "Liga da Justiça" e essa campanha envenenou outras pessoas que trabalharam com ele, ampliada por acusações feitas pela ex-mulher. O realizador não vai tão longe: "Não sei quem a começou. Só sei em nome de quem é que foi feita".
Também é recordado que "300", o filme que lançou a carreira de Zack Snyder há 15 anos, foi descrito como "extremamente racista", mas agora a internet transformou-o num "herói progressista", enquanto Joss Whedon, "o seu herói progressista de ontem", passou a "vilão e racista".
"O início da internet ajudou-me a crescer e a internet moderna derrubou-me. A simetria perfeita não me passou despercebida", reconhece .
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