A rodagem da longa-metragem, em pré-produção na altura em que
Raúl Ruiz morreu no verão passado, está quase a terminar e é um ambicioso projeto com um fundo histórico.
«É sobre a terceira invasão dos franceses em Portugal, como os portugueses a viveram. Eu penso que é importante recordar, num momento difícil em que está a Europa, que ela foi construída a partir de muitas guerras», explicou à agência Lusa a realizadora chilena.
Entre 1810 e 1811, o marechal francês Massena foi derrotado em Portugal pelo general Arthur Wellesley, duque de Wellington, que liderou um exército anglo-português e utilizou uma estratégia vitoriosa com base numa linha de fortificações que protegia Lisboa - as Linhas de Torres Vedras.
É nesta cidade que decorre por estes dias a rodagem do filme, produzido por Paulo Branco.
Numa pausa entre gravações, a realizadora admitiu à Lusa que o filme tinha de avançar, mesmo com a morte de Ruiz, em agosto passado, aos 70 anos.
No filme, que começou a ser rodado em novembro, participam atores como
John Malkovich,
Marisa Paredes,
Nuno Lopes,
Maria João Bastos,
Adriano Luz,
Catherine Deneuve,
Michel Picoli ou
Mathieu Amalric.«Este é um trabalho em que os atores trabalharam muito, colaboraram muito, vieram como uma homenagem», disse.
Na segunda-feira, alguns dos atores estiveram no Forte de São Vicente, que se eleva discreto na paisagem de Torres Vedras. Dali vê-se o recorte do horizonte marcado pela modernidade das torres eólicas, da autoestrada, do centro comercial.
Nada disto pode ficar no enquadramento da cena de guerra que se está a filmar, o momento imediato depois de uma explosão numa trincheira.
No terreno estão cerca de 80 figurantes, dos quase 5 mil que a produção precisou para a rodagem.
No forte, onde se começou a montar o material a partir das 06:30, todos aguardam instruções para iniciar a cena, que será breve, de alguns segundos, mas que demorou horas a preparar.
Há homens trajados de militares, há mulheres vestidas como operárias, de poucas posses, há crianças e jovens, uma junta de bois a pastar.
Fora do enquadramento, o diretor de fotografia, André Szankowski, está sentado na grua, elevado a cerca de cinco metros do chão, para filmar a cena nas trincheiras.
Valeria Sarmiento está discreta dentro de uma tenda a olhar para um monitor, onde visualizará a cena que se vai filmar.
«Levanta-me essa perche, Montez!», exclamou o assistente de realização, alertando um dos técnicos de som. Se estiver rasteiro, o microfone só capta passos, se estiver demasiado alto gravará o ruído do trânsito, que flui a alguns quilómetros abaixo do forte.
Valeria Sarmiento explicou que filmar em Torres Vedras tem sido o mais difícil de todas as semanas de produção. «O ambiente está demasiado poluído. Tem muitas casas modernas e vamos ter que encontrar algumas soluções na pós-produção», confessa.
Depois de vários ensaios, bateram a claquete e gritaram «Ação!». Foram precisas duas repetições para a cena ficar bem.
A rodagem permanecerá em Torres Vedras durante mais uns dias, seguindo para Loures, depois de já ter passado por Sintra e Montemor-o-Novo.
Faltarão ainda algumas filmagens, por exemplo, com John Malkovich no papel do duque de Wellington.
Valeria Sarmiento conta ter o filme pronto entre maio e julho.
@Lusa
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