A programação do festival dá conta da presença da longa-metragem "Bobô", de Inês Oliveira, na estreia internacional do filme, depois de ter competido no festival IndieLisboa.
"Bobô", primeira ficção portuguesa a retratar o tema da mutilação genital feminina, conta a história da relação entre duas mulheres, Sofia, portuguesa, e Mariama, guineense, com diferentes "maneiras de estar no mundo".
Quando o filme passou no IndieLisboa, Inês Oliveira explicou à agência Lusa que decidiu filmar "Bobô", depois de conhecer uma mulher guineense.
"Sabia muito pouco sobre o assunto [mutilação genital feminina] e tinha aversão, e ainda hoje tenho, mas não conseguia contextualizar", contou Inês Oliveira, que optou por tratar o tema "do ponto de vista do simbólico e não analisá-lo tanto do ponto de vista físico".
Em Toronto será ainda exibida a longa-metragem "A batalha de Tabatô", de João Viana, outro filme no contexto da Guiné-Bissau, descrito pela organização do festival como uma "meditação alegórica sobre os tormentos da atualidade", naquele país africano.
João Viana, que nunca tinha estado na Guiné-Bissau, viajou para Tabatô, uma aldeia de músicos mandingas, e veio de lá com dois filmes, uma longa e uma curta-metragem.
Em entrevista à Lusa, quando a longa-metragem passou no IndieLisboa, o realizador contou que, daquela viagem a Tabatô, resultou "um filme de descolonização mental".
"Da mesma maneira que nós temos um olhar viciado para com eles – olhamos sempre de cima do cavalo, estamos com o olhar sujo, eles também nos olham de baixo para cima", comparou. O "nivelamento" de olhares "demorou alguns anos", mas funcionou e João Viana espera que os espetadores também saiam do filme "com o olhar limpo".
A par daquelas duas longas-metragens, Toronto selecionou ainda duas curtas portuguesas.
"O corpo de Afonso", de João Pedro Rodrigues, filme produzido durante Guimarães - Capital Europeia da Cultura 2012 exibido em Locarno, "apresenta uma pesquisa brilhante e idiossincrática sobre a fascinação antiga de Portugal pelo corpo do primeiro rei, Afonso Henriques", descreveu a organização.
A este filme junta-se ainda "Redemption", curta-metragem que Miguel Gomes exibiu no passado fim de semana no festival de Veneza.
O filme é uma ficção de 26 minutos co-produzida com França, Alemanha e Itália e acompanha quatro personagens em épocas distintas - uma criança em Portugal, em 1975, um idoso em Milão, em 2011, um pai em Paris, em 2012, uma noiva em Leipzig, em 1977 - à procura da redenção.
O filme, como o realizador explicou à Lusa, é uma ficção sobre os políticos Passos Coelho, Angela Merkel, Nicolas Sarkozy e Silvio Berlusconi, que tem estreia prevista em Portugal para finais de outubro.
Nas palavras de Miguel Gomes, os quatro políticos "estão presos afetivamente a qualquer coisa do seu passado". "Estão melancólicos por algo que se passou na vida deles e à qual estão agarrados, procurando a redenção".
"O filme vive da tensão entre aquilo que sabemos e pensamos dessas pessoas, como figuras públicas, e aquilo que o filme inventa como hipótese para a sua intimidade", apontou, acrescentando que tentou "criar histórias que são muito simples, com um lado quase universal, porque poderiam acontecer a qualquer um de nós".
O filme "The fifht state", sobre o fundador do Wikileaks, Julian Assange, realizado por Bill Condon, com Benedict Cumberbatch, abre hoje o festival de cinema de Toronto, que encerra a 15 de setembro.
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