Não há volta a dar: se a ida à Lua sempre esteve no sonho dos homens, foi essa mesma viagem que conferiu ao cinema aquela que é porventura a sua primeira imagem mítica: a do rosto da Lua a levar com uma bala de canhão num dos olhos.
O filme chamava-se precisamente
«A Viagem à Lua», foi realizado pelo francês
Georges Méliès e data de 1902, sete anos após a criação do cinema. Mas o mérito desta adaptação muitíssimo livre dos romances de
Jules Verne e H.G.Wells sobre o tema não se esgota aí: além de ser o filme-fundador do cinema de ficção científica, trata-se também da obra central no rumo que o cinema seguiria no futuro.
Com efeito, a Sétima Arte arrancou como ferramenta de registo da realidade com os filmes dos irmãos
Lumière e respectivos seguidores. Por essa altura, as fitas exibidas no cinema eram essencialmente documentários, registos da vida real, e tudo indicava que seria esse o futuro do novo meio.
Foi precisamente o ilusionista Georges Méliès a defender que o cinema podia ser bem mais que isso, uma ferramenta de criação de ficções, que foi a via que a Sétima Arte, em grande medida acabou por seguir. E
«A Viagem à Lua» foi o filme mais emblemático dessa opção e da sua carreira, que o tornou, mais até que os irmãos Lumière, no verdadeiro «pai» da Sétima Arte, o profeta que defendeu e praticou o cinema de recriação e reformulação da realidade que, de
D.W. Griffith a
Steven Spielberg, é o que domina até aos dias de hoje.
Mas se
«A Viagem à Lua» tinha muito de ficção e pouco de ciência (tal como no livro de Verne, os viajantes chegam à Lua numa bala disparada por um canhão), seria só em 1929 que a viagem espacial ao satélite da Terra ganharia validade científica no cinema com
«A Mulher na Lua», de
Fritz Lang.
Foi aqui que o público viu pela primeira vez os princípios da viagem espacial apresentados de forma rigorosa, com a primeira utilização de sempre da contagem decrescente, que depois seria sempre utilizada no lançamento de veículos espaciais.
Mas os anos de ouro dos filmes sobre viagens à Lua ainda estavam por vir.
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