O drama da Netflix, filmado a preto e branco, com elenco e equipa inteiramente mexicanos e que marcou o regresso de  Alfonso Cuarón às filmagens no seu país após 26 anos, recebeu três das 10 estatuetas que disputava.

Para alguns críticos locais, "Roma" confirma o lugar de destaque dos cineastas mexicanos na nação vizinha na Era de Donald Trump, mas também a necessidade de que essas obras sejam reconhecidas dentro do seu país.

"O sucesso de 'Roma' deve-se, sim, a Cuarón, mas também a toda sua equipa de trabalho, desde as atrizes até ao design de produção e som", disse à AFP o presidente da Academia Mexicana, Ernesto Contreras.

"A projeção alcançada por este filme é histórica e é benéfica para o cinema mexicano", acrescentou o cineasta.

A história de sucesso dos mexicanos no Óscares começou em 2014, quando Cuarón e Emmanuel Lubezki receberam a estatueta por "Gravidade", protagonizada por Sandra Bullock, que ganhou sete prémios, incluindo Melhor Realizador e Melhor Fotografia.

No ano seguinte, Alejandro González Iñárritu voltou com "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)", que o coroou Melhor Realizador, além de receber Melhor Filme, Fotografia e Argumento Original. Em 2016, recebeu o seu segundo Óscar de Melhor Realizador com "The Revenant: O Renascido". O mesmo filme rendeu a Lubezki seu segundo prémio de Melhor Fotografia.

'Hollywood deu-se conta' 

Em novembro de 2017, o projeto interativo "Carne e areira" rendeu um Óscar Especial, que a Academia entrega fora de competição, a González Iñárritu e, meses depois, em 2018, o seu colega Guillermo del Toro recebeu a estatueta de Melhor Realizador por "A Forma da Água".

"Hollywood deu-se conta de que no México estão a ser feitas coisas muito interessantes, não só nos Estados Unidos (...) mas também na Europa, onde os cineastas mexicanos ocupam um espaço importantíssimo", disse o crítico e pesquisador Rafael Aviña.

Assim como os chamados "três amigos" – Cuarón, Del Toro e Iñárritu - ganharam um espaço de destaque em Hollywood, outros realizadores, como Amat Escalante, Carlos Reygadas e Michel Franco fizeram o mesmo em festivais europeus, como Cannes, Berlim e Veneza.

Press Room - 91st Academy Awards
Press Room - 91st Academy Awards

"Os mexicanos à conquista Hollywood e outros espaços na Europa é algo para continuar, é uma tendência imparável", garantiu Aviña.

O fenémeno "Roma" não trouxe apenas visibilidade às empregadas domésticas através da personagem de Cleo -interpretada pela atriz de origem indígena Yalitza Aparicio -, mas mostrou o arraigado classismo e racismo da sociedade mexicana, bem como o tema migratório.

"Quero agradecer à Academia por reconhecer um filme centrado numa mulher indígena (...) uma personagem que historicamente foi relegada no cinema", disse Cuarón ao receber o Óscar de Melhor Realizador

"Como artistas, o nosso trabalho é olhar para onde os outros não olham", acrescentou.

Os críticos concordam que o sucesso triunfal de "Roma" em festivais deixa um enorme desafio ao cinema mexicano: despertar o interesse do público em ver filmes de qualidade, além dos mais comerciais.

"Se servir como estímulo para que o nosso público confie nos filmes mexicanos de autor e que o Estado apoie a sua realização, teremos dado um grande passo", conclui o crítico Carlos Bonfil.